Escolas devem permitir smartphones?

Cada vez mais jovens, alunos adicionam celulares ao cotidiano, mas será que esses aparelhos podem mesmo estar em sala de aula?

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O uso do celular nas escolas está em discussão em diversas regiões do Brasil. No Rio de Janeiro, em agosto passado, um decreto proibiu o aparelho e outros dispositivos tecnológicos em sala de aula e durante outras atividades acadêmicas na rede municipal de ensino, com exceção para quando houver “autorização expressa do professor regente para fins pedagógicos”. A Secretaria Municipal de Educação realizou uma consulta pública e o resultado surpreendeu: 83% são a favor da proibição do uso do aparelho nas escolas e apenas 6% são contra. Assim, no último dia 2, a proibição foi estendida. Agora os alunos só podem usar o celular antes do início da primeira aula e após o fim da última, desde que fora das salas de aula. Caso o aluno insista, os educadores poderão guardar o celular até o fim do dia. A única exceção é para o uso durante o recreio caso a cidade sofra uma ocorrência de impacto, como um alagamento.

Caminho parecido está seguindo o governo do Estado de São Paulo. Desde o dia 5 último está proibido utilizar as redes de internet das escolas para acessar redes sociais e aplicativos de streaming.

Cabeça nas nuvens
Podem parecer medidas governamentais extremas, mas sabemos que o celular pode ser um grande problema. Atire a primeira pedra quem nunca se distraiu com a telinha do celular. Uma pesquisa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) revelou que 65% dos alunos confessam que ficam distraídos com o uso de dispositivos digitais em pelo menos algumas aulas de matemática. Se não bastasse a distração, 45% relatam que se sentem nervosos ou ansiosos quando o celular não está por perto. O uso frequente do aparelho ainda traz outras consequências negativas, como cita Mara Duarte, neuropedagoga e psicopedagoga: “a redução na concentração e no desempenho acadêmico, problemas de memória e aprendizado, impacto na saúde mental, problemas de sono e pode ocorrer desenvolvimento de comportamentos adictos em relação ao uso do celular”. Em relação ao uso da tecnologia durante os estudos, ela acrescenta que os prejuízos podem ser: “distração excessiva em sala de aula, dependência das telas, problemas de visão, ansiedade, depressão, problemas na comunicação e falta de concentração nas tarefas”.

Um Ímã
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o uso de telas – celular, TV e computador – não deve ser superior a três horas por dia. Mas sabemos que ultrapassamos esse tempo diariamente. A dependência tecnológica não está oficialmente na Classificação Internacional de Doenças (CID), mas pode ser um problema sério para a saúde mental e física, especialmente de crianças e adolescentes.

“Crianças e adolescentes querem ter o aparelho por perto porque são atraídos por eles. É assim que eles se mantêm conectados com amigos; têm acesso a entretenimento, como jogos, redes sociais, músicas, vídeos; e o celular é um símbolo de independência e maturidade. Por isso é sempre importante que pais e educadores reconheçam essas motivações e trabalhem para estabelecer limites saudáveis no uso de tecnologia, garantindo que eles possam desfrutar dos benefícios sem experienciarem os aspectos negativos do uso excessivo”, orienta Mara.

Limites são necessários
Impor limites é uma das principais tarefas de pais, tutores e educadores. Não é uma tarefa fácil, mas é essencial para que crianças, adolescentes e jovens possam se desenvolver de maneira emocional, psicológica e fisicamente saudável.

E isso começa pensando na seguinte questão: qual é a idade ideal para presentear a criança ou o adolescente com um celular? Mara esplica: “não existe uma resposta única, pois depende da maturidade individual, das necessidades da família e do contexto social. Muitos especialistas sugerem a faixa etária de 12 a 14 anos, pois é nessa idade que elas começam a desenvolver maior independência e responsabilidade. É importante, porém, que essa decisão seja acompanhada de orientação e supervisão constante para garantir o uso saudável e seguro do dispositivo. A responsabilidade de restringir o uso crônico de telas deve ser compartilhada entre escolas e famílias, pois cada uma desempenha um papel crucial em diferentes aspectos da vida de crianças e adolescentes”.

Deixamos algumas dicas para os responsáveis por cumprir essa missão: seja um modelo, afinal, crianças frequentemente imitam o comportamento dos adultos; incentive o uso de tecnologia para atividades construtivas, como aprendizado, arte ou comunicação, em vez de apenas entretenimento passivo; estabeleça limites claros, incluindo horários e locais onde o uso é permitido; converse sobre os riscos da dependência tecnológica e a importância de um estilo de vida equilibrado, ensine-as também sobre segurança na internet, privacidade e o impacto negativo do uso desenfreado. Não se esqueça de ativar o controle parental nos dispositivos para garantir que não sejam acessados conteúdos impróprios para a idade do usuário.

E que tal um detox digital periódico? Essa é uma maneira eficaz de reduzir a dependência tecnológica e melhorar a qualidade de vida e os relacionamentos. Reúna a família e os amigos para atividades ao ar livre ou para preparar uma refeição juntos; estimule a criatividade; e exercite a mente enquanto lê, monta um quebra-cabeça ou se diverte com um jogo de tabuleiro. “O objetivo do detox digital não é eliminar completamente a tecnologia, mas encontrar um equilíbrio saudável entre o tempo on-line e o off-line. Para tanto, é importante que essas atividades sejam agradáveis e adaptadas aos interesses da pessoa ou da família, pois assim garantirão um comprometimento sustentável com o detox”, conclui.

Sinais de dependência tecnológica: 

Uso excessivo: quando o tempo gasto com tecnologia interfere nas atividades diárias;

Negligência de responsabilidades: deixar de cumprir tarefas parase manter conectado;

Impacto na saúde física: dores nas costas e no pescoço, problemas de visão ou distúrbios do sono;

Alterações de humor: irritabilidade, ansiedade ou depressão quando não está usando tecnologia ou quando é impedido de usá-la;

Isolamento social: preferência por passar tempo usando celular, em vez de interagir com amigos ou familiares;

Problemas de concentração: dificuldade para se concentrar em tarefas que não envolvem a tela;

Fugir de problemas: recorrer à tecnologia para evitar enfrentar conflitos emocionais ou situações estressantes;

Falha em reduzir o uso: tentativas repetidas e fracassadas de diminuir o tempo on-line;

Se esses sinais forem persistentes, é hora de procurar ajuda profissional. E não se esqueça: apoio familiar e mudanças no estilo de vida são fundamentais para reduzir a dependência.

FONTE: Mara Duarte, neuropedagoga e psicopedagoga

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: SeventyFour/getty images / artursfoto/getty images