Educação: o melhor caminho para o Brasil do futuro

Dados apontam retrocesso na alfabetização infantil. Saiba quais são os motivos disso e a responsabilidade da escola e da família no processo educacional

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Há cerca de 80 anos, o Brasil ganhou o título de País do Futuro. A expressão deixava claro o grande potencial brasileiro e é possível entender o motivo dela ter sido criada: um território amplo, uma grande população, diversas riquezas naturais, baixa incidência de fenômenos perigosos – como furacões e terremotos – e várias características positivas. O tempo passou, o futuro chegou e, com ele, algumas mudanças foram observadas, mas, infelizmente, o Brasil segue apresentando um cenário de desigualdade.

A questão é que para uma parcela da população continua faltando estrutura básica, que é o conjunto de necessidades essenciais, como o acesso à educação, por exemplo. É difícil imaginar que um país mude sem que antes seus habitantes frequentem a sala de aula. É ali que, sentados em uma carteira diante de um professor, o mundo ganha novas cores e possibilidades a serem exploradas. Mas o problema é que ainda há uma série de falhas, principalmente no atendimento a crianças e adolescentes brasileiros.

Uma pesquisa do Ministério da Educação (MEC) divulgada em maio deste ano mostrou que a cada dez crianças matriculadas no segundo ano do ensino fundamental só quatro estavam alfabetizadas, ou seja, cerca de 57% ainda não sabiam ler pequenos textos, interpretar textos simples, como histórias em quadrinhos, nem escrever. Vale ressaltar que os dados foram piores quando comparados ao ano de 2019 e uma das razões pode ter sido a pandemia de covid-19.

“Nós estávamos em um processo de melhoria e caímos. Durante a pandemia, o ensino remoto prejudicou principalmente as crianças menores, porque elas precisam de maior acompanhamento dos pais e contato direto com o professor”, explica o especialista em educação Renato Casagrande.

Mas, mesmo assim, há quatro anos o cenário não era o ideal. Em 2019, a mesma pesquisa apontou que seis entre dez crianças do segundo ano estavam alfabetizadas, enquanto quatro ainda precisavam de apoio. “Na prática, ainda estamos lidando desde a Constituição de 1988 com um processo de grande inclusão social na escola pública, inclusão das crianças mais pobres, e, dessa forma, trouxemos para dentro das escolas vários problemas sociais: crianças subnutridas, com problemas familiares e sem apoio físico para os estudos fora da escola. Tudo isso também colabora para que o nosso resultado [em relação à alfabetização] continue ruim”, diz Casagrande.

O papel de cada um
Na prática, a escola é parte da vida do aluno e a instituição tem a responsabilidade de ensinar, enquanto a educação como um todo depende essencialmente da atuação da família. Por isso, não é correto terceirizar esse serviço, como tem acontecido. “Hoje no Brasil cerca de 70% dos pais que têm filhos na escola pública não têm o ensino fundamental, então eles não se sentem preparados para ajudá-los e, muitas vezes, quando a criança não aprende, eles jogam a culpa nela, quando na verdade esse pai deveria se unir à escola para que juntos encontrem o melhor caminho para que a criança aprenda”, diz Casagrande.

O papel da família é prestar apoio e incentivar a educação, além de transmitir os valores essenciais. Dessa forma, a família precisa se posicionar e abraçar o seu papel, enquanto a escola deve entender que o ensino não pode usurpar a função dos pais. Essa inversão acontece quando, por exemplo, a criança e o adolescente têm acesso a informações limitadas e selecionadas pelo educador de acordo com suas visões e experiências, principalmente no tocante a questões políticas e ideológicas. O foco nesses aspectos deixa em segundo plano conteúdos curriculares essenciais, como português, matemática, história e geografia, que são negligenciados. Portanto a definição clara dos papéis é importante para que crianças e adolescentes completem o ensino básico com o conhecimento necessário para dar continuidade ao seu crescimento educacional e profissional.

Os frutos da defasagem
Como uma bola de neve, o problema educacional não se restringe apenas aos primeiros anos do ensino básico, mas se arrasta ao longo de toda a trajetória do estudante. Segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), coletados em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em média, apenas 60% dos estudantes brasileiros concluem a educação básica até os 24 anos. Porém, há uma diferença enorme entre as classes sociais: apenas 46% dos mais pobres finalizam os estudos, enquanto o índice sobe para 94% entre os mais ricos. É bem verdade que existem inúmeros fatores que interferem para que isso ocorra, como a necessidade de trabalhar para ajudar a gerar renda familiar e também a falta de atratividade da escola, ou seja, a permanência de um modelo antigo de ensino também é um dos fatores que influenciam o desenvolvimento (ou não) do aluno.

Revertendo o prejuízo
A longo prazo, o impacto da falta da educação adequada na vida de um indivíduo é muito grande. As oportunidades de sua vida ficam restritas, assim como o seu potencial para crescer e se desenvolver. “Muitas vezes, esse aluno vai para o tráfico, entra para o mundo do crime e se mantém subempregado”, cita Casagrande. Na prática, ele se mantém à margem da sociedade e não consegue tomar em suas mãos o rumo da sua própria vida. Ele vira refém de um ambiente limitado.

Além de considerarmos a estrutura escolar, os professores e o apoio familiar como as três principais bases para o ensino, é essencial que políticas públicas sejam criadas, como o ensino integral mais moderno e eficiente, opina Casagrande. “Já sabemos o que fazer, mas temos que colocar a mão na massa e agir para que daqui a dois, três anos possamos ver melhorias na educação.”

Também é importante que os papéis da escola e da família não estejam invertidos. “A escola que consegue levar a criança para o âmbito da leitura, do conhecimento e da cultura gera um cidadão do mundo e a criança que consegue se encontrar nesse ambiente está em parte encaminhada, pois dificilmente os caminhos fáceis vão desvirtuá-la, porque ela tem uma base, tem consciência do que é cidadania, conhece seus direitos e tem um projeto para a sua vida”, conclui.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Fotos: Olga Evtushkova/getty images / shapecharge/getty images