É possível quebrar a raiva?

Salas para destruir objetos prometem ajudar usuários a extravasar emoções, mas podem não resolver o problema

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Imagine um espaço onde é possível extravasar a raiva quebrando pratos, garrafas e aparelhos eletrodomésticos usando marretas ou tacos de beisebol. As chamadas rage rooms ou salas de raiva (em tradução livre) foram criadas no Japão e existem há algum tempo em diversas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo. As sessões de quebra-quebra podem incluir capacetes e óculos de proteção e, dependendo do tempo de uso e do que for quebrado, os valores cobrados podem chegar a R$ 1,8 mil. Mas será que esses espaços são realmente salutares?

Destruição controlada

A psiquiatra Carmen Sylvia Ribeiro, coordenadora do departamento científico de psiquiatria da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC), avalia que as salas de raiva são uma tendência da sociedade contemporânea. “São lugares de destruição de forma controlada e talvez até mesmo, em alguns casos, de diversão, quando alguém vai acompanhado de um amigo ou grupos de amigos que se reúnem para se divertir destruindo objetos, na tentativa de reduzir os sentimentos de raiva e formas não adequadas de lidar com a raiva, como agredir pessoas, seja verbalmente, seja fisicamente”, analisa.

Para-raios emocional

Para Danilo Suassuna, doutor em psicologia e diretor do Instituto Suassuna, em Goiânia (GO), instituição educacional de pós-graduação e que presta atendimento para pessoas de baixa renda, muitos carecem de um para-raios emocional para a raiva. “O esporte, que sempre foi uma maneira de lidar com isso, e não só o esporte de aventura, foi deixado de lado em uma sociedade onde temos que lidar com emoções fortes como frustração, impotência e angústia. Por isso, as salas de raiva são tão atraentes. As pessoas ficam ‘doidas’ para poder quebrar coisas e colocar a raiva para fora”, avalia.

Entretenimento

Entretanto Suassuna alerta que as salas de raiva podem até ser encaradas como boas como entretenimento, mas não funcionam como tratamento para a saúde mental: “Quando falamos sobre saúde mental, estamos falando de elaboração emocional das vivências que a gente tem no nosso dia a dia. Inclusive, há um estudo científico que mostra que a pessoa que bate no saco de pancada para aliviar a raiva fica mais irritada depois e não menos. Então, quando a gente modela o comportamento agressivo, mesmo de forma simulada, vai aumentar a probabilidade que isso ocorra novamente”, adverte.

Dessensibilização emocional

Para Carmen, nesse processo, pode ocorrer a dessensibilização emocional. “É como se a pessoa perdesse o filtro crítico que a impedia muitas vezes de atacar e bater em alguém, de jogar um objeto no chão, de destruir um celular, por conta da sua estrutura de autocontrole. Outra questão é associar a violência a uma certa sensação de poder e bem-estar. Quando a pessoa tem o poder de destruir, quando tem a força, muitas vezes, ela pode começar a fazer um gatilho de desvio da interpretação, da vazão da raiva, com uma sensação subjetiva de prazer”, observa.

Reação exagerada

Carmen ainda acrescenta: “Quando a pessoa começa a reagir de forma exagerada a frustrações, a situações de vida, de estímulos de estresse, a um ambiente desfavorável no trabalho, a um ambiente doméstico desfavorável, a uma violência, a um bullying, ela pode manter seu corpo em estado de alerta constante. Com isso, ela vai liberar hormônios de estresse, cortisol, adrenalina e vai ativar a amígdala cerebral, disparando estruturas como medo e raiva como uma estratégia defensiva”.

Estratégias adequadas

Carmen aconselha as sessões depsicoterapia para lidar com a raiva e outros problemas emocionais: “Se a pessoa conseguir uma boa elaboração, uma boa análise de que conteúdos existenciais estão disparando circuitos de ameaça, obviamente ela conseguirá minimizar os impulsos de raiva, porque vai elaborar outras estratégias mais adequadas para lidar com as ameaças”.

Organização

Para Suassuna, o primeiro passo é reconhecer o problema e, depois, tentar se organizar. Segundo ele, a pessoa deve se perguntar sobre os possíveis caminhos para lidar com a raiva, considerando seu contexto e até a sua fé. “E aí aprender a lidar não só com a raiva, mas com a efusividade, com o excesso de alegria, porque isso também atrapalha o outro, atrapalha o trabalho e atrapalha os relacionamentos”, conclui.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: getty images