O discurso de que o padrão de beleza imposto pela sociedade não é nada saudável e que tentar se encaixar nessa forma de perfeição física é uma busca insaciável e ingrata é recorrente, mas mesmo sendo uma verdade conhecida, muitas pessoas ainda anseiam por essa tal beleza e se submetem a dietas mirabolantes, privações, procedimentos cirúrgicos e até métodos não recomendados, a exemplo do “chip da beleza”. Você já ouviu falar dele?

Entenda o que é: o implante, geralmente composto pelo hormônio gestrinona e apelidado de “chip da beleza”, não é reconhecido como opção terapêutica nem recomendado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) ou pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Ele tampouco é aprovado e regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Além disso, ao contrário do que o apelido sugere, também não é um dispositivo eletrônico.

“O ‘chip da beleza’ é um tipo de implante bioabsorvível, diferentemente dos implantes tradicionais idealizados há 40 anos pelo doutor Elsimar Coutinho como método contraceptivo. O ‘chip da beleza’ tem fins estéticos, com promessa de emagrecimento e melhora da celulite, da disposição e da libido. Todas as sociedades médicas são contrárias ao uso, pois o gestrinona, o hormônio desses ‘chips’, apesar de ser utilizado pela medicina no tratamento de endometriose, é contraindicado para efeitos estéticos, plásticos e cosmiátricos. Isso porque o gestrinona é considerado um anabolizante”, explica José Marcelo Natividade, endocrinologista, metabologista e nutrologista.

Por provocar um aumento indireto da testosterona, o uso do “chip da beleza” traz efeitos colaterais danosos e indesejados, como acne, queda capilar, mudança no timbre da voz, trombose, risco cardiovascular, intolerância glicêmica e insulínica, colesterol e chance de desenvolver câncer de endométrio e ovariano, entre outros males.

A constante insatisfação
Por não ser algo regulamentado, não há um levantamento sobre quantas pessoas usam o “chip da beleza” para fins estéticos, mas podemos dizer que muitas mulheres aderem ao artifício, mesmo que estejam cientes dos riscos e de que seu uso não é recomendado. Famosas fazem propaganda do tal chip como algo realmente milagroso e que cumpre a promessa de se obter o corpo perfeito, mas também há as que relatam os problemas enfrentados, como é o caso da cantora e digital influencer Flayslane, que usou o “chip da beleza” e reclamou de inchaço e acne e deu “graças a Deus” quando o efeito do implante passou.

Mas o que leva o ser humano a se submeter a riscos notórios em nome da promessa de ter um corpo perfeito? A verdade é que as pessoas, em sua grande maioria, se sentem insatisfeitas consigo mesmas e acreditam que se atingirem determinado padrão de beleza, enfim, se sentirão completas.

“Desde o nascimento e por toda a vida, o ser humano anseia por reconhecimento, por pertencer a algum grupo ou lugar, por se encaixar, ser visto e valorizado porque isso confere a ele senso de identidade, valor e propósito. Isso não é diferente com a beleza. Há a busca por um corpo magro, atlético, saudável e que não apresente sinais de envelhecimento, como se houvesse uma mensagem nas entrelinhas de que, ao alcançar esse padrão de beleza, a pessoa vai finalmente encontrar a felicidade e a satisfação que procura”, esclarece a psicóloga Thaís Alves.

Isso é ainda mais intenso atualmente porque, por conta das mídias sociais, estamos cada vez mais expostos a corpos e rostos diferentes dos nossos. A psicóloga lembra que, mesmo com a consciência de que essas imagens carregam filtros e edições, existe comparação e são as mulheres que mais sofrem com ela.

Assim começa a busca por dietas, cremes, estilos de vida, procedimentos e tudo que for considerado um caminho para a conquista da aparência perfeita, mas essa perfeição não existe. “E, ainda que existisse, alcançar o corpo perfeito não seria suficiente para gerar a satisfação que o ser humano procura, porque essa satisfação não está na aparência. O corpo real tem textura, curvas, imperfeições e envelhece. O melhor caminho é não atrelar o seu valor pessoal à sua aparência física, mas entender que o Criador não criou um padrão. Esse padrão irreal foi criado por pessoas”, ressalta Thaís.

O artifício infalível
Um dos clichês mais famosos e mais verdadeiros é que “a beleza vem de dentro”. Não apenas porque boa saúde é refletida no corpo, com disposição e desempenho, mas, principalmente, porque cuidar do interior envolve, fundamentalmente, manter uma boa relação com o Criador. Ao negligenciar a vida espiritual, a visão de perfeição fica deturpada e, não importa o quanto se busque, a pessoa continua se sentindo vazia, incompleta e insatisfeita. Vale lembrar da citação de Provérbios 31.30 (“enganosa é a beleza e vã a formosura”) e, na Bíblia Sagrada com as Anotações de Fé, o Bispo Edir Macedo explica que muitas se atentam apenas para a aparência exterior, sempre à espera de um elogio, ignorando o fato de que a beleza do corpo acaba. “Já a mulher que teme ao Senhor investe na sua comunhão com Deus. Então não espera elogios de ninguém, mas busca a aprovação Divina de seus atos. Por priorizar a intimidade com Deus, ela exala o perfume do Senhor Jesus para todos com quem convive. Além disso, por enxergar além da aparência, ela sabe que um dia colherá os frutos de uma vida reta com o Altíssimo”. E é assim, respeitando a singularidade de cada ser humano, que a verdadeira beleza exala.

Essa é a verdade: o corpo, visível ao ser humano, se deteriora com o tempo e morre, mas a alma, visível apenas a Deus, é eterna e de onde se origina a verdadeira beleza. Além disso, a promessa mais tentadora não deve ser a de um corpo considerado perfeito, mas, sim, a de viver eternamente com o Criador. Então, se você quer implantar a verdadeira beleza dentro de você, busque ter o Espírito de Deus habitando no seu ser e, assim, você sempre verá a pessoa mais bela de todas refletida no espelho.