Da direção perigosa à prisão perpétua

Novas leis britânicas punem severamente motoristas irresponsáveis e incentivam uma reflexão sobre as atitudes do brasileiro no trânsito

Imagem de capa - Da direção perigosa à prisão perpétua

No Reino Unido, quem praticar direção perigosa e, por isso, causar a morte de alguém pode pegar prisão perpétua. A nova lei vale desde 28 de junho deste ano na Inglaterra, no País de Gales e na Escócia – mas não na Irlanda do Norte, que tem autonomia para deliberar sobre sua regulamentação rodoviária.

O encarceramento vitalício pode ser imposto aos motoristas que ignorem as leis de trânsito, inclusive quando sob efeito de álcool e outras drogas, e causem a morte de terceiros. Antes dessa lei, a pena máxima para esse tipo de crime era de 14 anos.

Quem causar a alguém lesões corporais graves (permanentes ou com longo prazo de recuperação) ao dirigir descuidadamente também enfrentará punições severas.

Ao tornar as leis mais rigorosas, o governo do Reino Unido tenta “acordar” os condutores que põem em risco a vida de outras pessoas. Apesar de esse grave costume não ser novidade, ele vem aumentando muito com o evidente pouco caso em relação ao semelhante nesses tempos de esfriamento, do respeito pelo próximo e do egoísmo crescente, a ponto de a vida alheia não merecer consideração.

Potencial assassino
Quem dirige de forma perigosa está nitidamente sendo um assassino em potencial, além de poder causar danos que gerarão deficiências permanentes ou dolorosas e caros tratamentos de longo prazo. Um automóvel, geralmente, pesa entre 900 e 2 mil kg – ou seja, é uma arma.

Um imprudente no volante é um possível homicida, tenha consciência disso ou não.

O já notório esfriamento de amor ao próximo, previsto na Bíblia em Mateus 24.12 pelo Próprio Senhor Jesus, faz com que a cada dia mais pessoas dirijam falando, digitando, assistindo ou lendo algo no celular, após ingerir álcool ou simplesmente correndo deliberadamente, pondo cada vez mais vidas em risco – inclusive a própria.

Há sempre quem ache que “isso só acontece com os outros” ou que se justifique dizendo “eu dirijo muito bem e tenho controle”. Geralmente são os mesmos que, ao causar danos ou até a morte de outros, fogem para não arcar com as consequências – que são os alvos que a Justiça britânica quer acordar com penas mais severas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 90% de todos os acidentes de trânsito no mundo todo acontecem por imperícia, imprudência ou negligência.

Os motociclistas e ciclistas também estão sujeitos às novas leis de trânsito, assim como os pedestres que atravessem as ruas ou transitem nas pistas displicentemente – quem nunca viu um ao celular, sem prestar atenção aos semáforos?

No Brasil
Segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a direção perigosa é caracterizada por um conjunto de ações de alto risco, como praticar manobras perigosas para se exibir ou sentir a “emoção do perigo” (saltos, derrapagens intencionais, “cavalos de pau” e similares), a não ser em eventos autorizados; praticar os chamados “rachas” (corridas não autorizadas em vias públicas); e empinar motocicletas – algo cada vez mais comum.

Por falar nos motociclistas, eles são os “campeões” em mortes no trânsito –como vítimas ou causadores dos acidentes. Não é novidade que muitos pilotam imprudentemente e desrespeitam as leis, pois creem na impunidade e na defesa por parte dos colegas em duas rodas. Já os ciclistas transitam cada vez mais na contramão, em cima de calçadas (pondo em perigo os pedestres) ou sem os acessórios de segurança.

O Brasil é o quarto país com maior número de acidentes de trânsito por ano (cerca de 500 mil) no mundo, revela o Observatório Nacional de Segurança Viária. Segundo o Ministério da Saúde (MS), depois de oito anos em queda, o número de mortes no trânsito no País voltou a subir em 2020 – o que é agravado pelo fato de milhões de brasileiros terem ficado isolados em casa a maior parte do tempo por causa da pandemia do novo coronavírus.

O MS divulgou que em 2020 morreram 33.497 pessoas no trânsito, 2,5% a mais do que em 2019. Os motociclistas, por acidentes causados por eles mesmos ou terceiros, estão no topo da lista: mais de 12 mil do total de 2020. É mais do que a população de algumas pequenas cidades. Os números das outras mortes, segundo o Observatório, foram: 5.120 pedestres, 1.352 ciclistas, 6.987 causadas por veículos leves, 862 por veículos pesados e 7.165 por “outros motivos”.

Desde abril de 2021, entraram em vigor novas regras no CTB para tentar conter os danos da direção perigosa, como a ampliação no limite de pontos que podem ser perdidos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O prazo para renovação da CNH, com exames de aptidão física e mental, também foi alterado: dez anos para condutores com menos de 50 anos, cinco para os entre 50 e 70 anos e três para os a partir dos 70 anos.

Questão de bom senso
Independentemente de idade ou país, infelizmente tem aumentado muito o número de pessoas com pensamentos como “nunca acontecerá comigo”, que dirigem usando o celular, após beber, acima da velocidade, etc., mas, a despeito de sua crença ou falta de consideração com as regras e o próximo, os acidentes acontecem e depois todos precisam arcar com as consequências de seus atos. Já temos a legislação, mas o que falta é bom senso de obedecê-la e preservar dezenas de milhares de vidas.

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Colaborador

Redação / Foto: getty images