Como não cair nas mentiras da internet?

Hoje qualquer pessoa publica o que quiser na rede. Por isso, é importante ter senso crítico para não ser vítima de enganos seguindo falsos exemplos de terapias “milagrosas” e outras “vitórias”

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Quase todo mundo diz o que quer na internet, principalmente nas redes sociais. Por mais que essas plataformas tentem barrar conteúdo falso ou postado de má-fé, alguém sempre rompe a barreira da verdade e engana o internauta, o que o leva a prejuízos financeiros, psicológicos e até na saúde.

Nas redes sociais uma pessoa pode se apresentar como quiser. Muitos mal-intencionados se aproveitam disso para vender “segredos” para você ficar rico, alavancar a carreira e outras ilusões, inclusive terapias e remédios “milagrosos”, como foi o caso da australiana Isabelle “Belle” Gibson, que em 2013 divulgou, principalmente no Instagram, ter curado um câncer cerebral inoperável ao deixar de lado a quimioterapia e aderir a uma dieta de alimentos naturais integrais.

Mas Belle não queria ser apenas uma celebridade instantânea. Ela ganhou muito dinheiro ao publicar livros sobre a suposta cura natural, conquistou a atenção de editoras de renome mundial com as quais assinou contratos, lançou um aplicativo sobre o assunto e figurou em muitas matérias mídia afora, ganhando ainda mais publicidade.

Especula-se que ela tenha ganhado mais de US$ 500 mil.

Porém, como disse o Senhor Jesus em Lucas 12.2, “nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido” e, por volta de 2015, Belle começou a ser desmascarada por veículos de imprensa australianos, que desconfiaram de seus “milagres”.

Uma mentira puxa outras
Belle também dizia doar uma boa parcela de seus lucros a instituições de caridade, mas nunca fez isso e foi a partir dessa descoberta que os repórteres a desmascararam em outras mentiras. Eles sempre pediam a ela exames anteriores que confirmassem o câncer, além do contato dos médicos que a trataram, mas ela sempre desconversava. As autoridades começaram a agir, ela não aguentou a pressão e confessou a fraude.

Entretanto, até que a verdade viesse à tona, a imprensa de vários países já tinha mostrado vários doentes de câncer e outros males que deixaram o tratamento médico para aderir à dieta de Belle, que sempre aparecia sorridente e cercada de luxo em seus posts. Com isso, o quadro de saúde dos enganados piorou, obviamente.

Ela foi processada pela Justiça australiana e teve seus bens confiscados. Em 2020, Belle finalmente veio a público em um programa australiano de TV e declarou abertamente que nunca teve câncer e que inventou outros problemas para tentar comover o público, como tumores em outros órgãos, que também alegara “curar” com a dieta integral, e até mesmo um inexistente irmão autista. Ela confessou que estava falida e que desejava nunca ter mentido, pois as consequências de suas mentiras são “insuperáveis”.

Como Belle, muitos charlatães criam histórias convincentes, geralmente apelando para as emoções do público e se mostrando como vencedores de problemas pelos quais muitas pessoas passam. Também não são poucos os que incentivam exercícios físicos e dietas sem terem formação em educação física, medicina ou nutrição. Além disso, muitas propagandas na TV e na internet apresentam remédios e dispositivos “milagrosos” e “ofertas” atraentes.

A armadilha das emoções
Se as autoridades não conseguem frear tanta falsidade, cabe a cada um ter senso crítico antes de ceder às emoções, principalmente em momentos de fragilidade, como duramte as enfermidades, como recomenda o psicólogo clínico Fábio Guedes, de São Paulo: “acreditar ou não em uma mentira depende muito da ocasião que ela é contada e quem a emite. Há muitas vezes a predisposição de acreditarmos que sempre existe um caminho mais fácil e a insistência de não acreditarmos em posições contrárias às nossas”.

Guedes recomenda checar se há evidências científicas e se os autores dos posts e propagandas são mesmo qualificados para fazer suas afirmações. Não adianta só acreditar no que eles dizem nas redes sociais.

Para ele, o caso Belle serve de alerta: “quando se trata de curas, é ainda mais importante investigar e se pautar sempre na ciência e em veículos de informação sérios, que certificam suas fontes e constroem uma linha de veracidade com os fatos.” Vale também checar se quem se diz médico realmente é um, além de procurar a opinião de outros profissionais no mesmo assunto, algo relativamente fácil na internet. Nessa hora, é importante não ceder à preguiça de pesquisar.

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Colaborador

Marcelo Rangel/ Foto: Getty images