Como criar filhos para a vida?

Educação dada pelos pais pode estimular a autonomia ou, ao contrário, levar ao desenvolvimento de adultos frágeis, inseguros e dependentes. Especialistas discutem como encontrar o equilíbrio na formação das crianças

Imagem de capa - Como criar filhos para a vida?

A educação dos filhos é um desafio que nenhum pai ou mãe nasce sabendo como superar. Entretanto ela é fundamental para que as crianças se tornem adultos saudáveis e independentes. E o contrário também é verdadeiro: alguns pais podem contribuir para a criação de adultos incapazes de encarar as dificuldades.

A psicóloga Edneia Dutra, responsável nacional pelo projeto Escola de Mães, alerta que alguns comportamentos dos pais podem levar à criação de filhos frágeis e vulneráveis como flocos de neve. O excesso de proteção é um desses problemas: “é aquele pai, aquela mãe que vai à frente do filho, limpando todos os obstáculos, para que ele não tropece em nada, resolvendo todos os problemas dele. Esse tipo de postura tira a autonomia da criança e a impede de crescer e amadurecer”, esclareceu ela, no programa Geração Floquinho, disponível na plataforma Univer Vídeo.

Segundo o psicólogo Roberto Debski, a educação adequada precisa estimular a independência da criança. “Os pais precisam educar de modo que eles se tornem desnecessários quando o filho crescer, ou seja, o filho vai ter autonomia para tomar as suas decisões como um adulto independente. O problema é que muitos pais se orientam por parâmetros que eles próprios viveram: alguns tiveram pais muito rígidos, fazem o contrário com seus filhos e se tornam muito permissivos; outros são muito severos e não dão espaço para que o filho se desenvolva.”

A educação dos filhos é um projeto que começa antes do nascimento e vai sendo adaptado ao longo do tempo, defende Thalita Martignoni, psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental aplicada à infância e adolescência: “o projeto de educação inclui o que trazemos em nossa bagagem, os valores fundamentais e a base do comportamento moral que queremos construir com os filhos. Com firmeza e gentileza, os pais podem construir um estilo de educação. De um lado, existem as exigências e a responsabilidade com relação à criança, e de outro, há a necessidade de se comunicar com afeto e de forma clara”.

Ela reconhece que os pais, de modo geral, querem acertar nos cuidados com os filhos, embora alguns exagerem no autoritarismo ou na permissividade. “O ideal seria construir, com a criança, uma autoridade pelo respeito, pelo exemplo, mas com segurança e tranquilidade, comunicando para ela que você reconhece a autonomia dela quando coloca regras e explicando o fundamento de cada uma delas”, diz Thalita.

Não há um modelo perfeito na criação dos filhos. Entretanto há atitudes nocivas. “Algumas práticas são muito negativas e atrapalham o desenvolvimento. A disciplina relaxada é uma delas, quando os pais colocam regras mas não zelam pelo seu cumprimento. Alguns pais se retiram do embate por dificuldade ou medo. Por outro lado, existe a monitoria negativa, o excesso de ordem e fiscalização, que cria um ambiente estressante e hostil. Neste caso, os pais não deixam a criança construir as habilidades, pois estão sempre vigiando”, diz Thalita.

Roberto Debski sugere que a inspiração também pode partir de outro modelo. “O psicoterapeuta Bert Hellinger observou que existem três leis naturais nos relacionamentos: o vínculo ou pertencimento, que mostra que todos na família devem se sentir parte do grupo; o equilíbrio entre dar e receber; e a hierarquia, que mostra que os que chegaram primeiro precisam cuidar dos que vêm depois, ou seja, os pais precisam ensinar seus filhos os caminhos da vida”, explica.

Como fazer?
Edneia Dutra, da Escola de Mães, explica que os pais precisam ter cuidado para que a criança não acredite que é o centro de tudo. Filhos egocêntricos podem se tornar adultos que se frustram com facilidade. Ela pontua que a insegurança dos pais também é prejudicial.

“Quando oro pelo meu filho tenho que crer que Deus está trabalhando na vida dele, mesmo que eu não esteja vendo. Mas a minha Fé me faz confiar”, conclui.

imagem do author
Colaborador

Rê Campbell / Foto: getty images