China: perseguição disfarçada de proteção

Enquanto o governo chinês alega estabilidade, os cristãos veem a prisão de 30 líderes religiosos como perseguição. O que isso significa para nós que estamos do outro lado do mundo?

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Imagine usar sua rede social para compartilhar algo relacionado à sua fé e ser preso. Foi o que aconteceu na China há algumas semanas quando cerca de 30 membros do corpo eclesiástico da Zion Church foram presos em diferentes províncias. Segundo a Reuters, o fundador da igreja, pastor Ezra Jin Mingri, é acusado de “uso ilegal das redes de informação” e poderá receber uma pena de sete anos de prisão. Estima-se ainda que 150 fiéis tenham sido interrogados. A ação coordenada do governo chinês para prender líderes religiosos gerou repercussão negativa mundo afora, evidenciando a tentativa de reduzir o número de instituições religiosas não registradas oficialmente no país.

Como a China se defende

Para o Partido Comunista Chinês, o controle religioso é uma questão de estabilidade e segurança social, visando evitar fragmentações na China. Na prática, o país permite a liberdade de culto e reconhece cinco religiões que somam quase 200 milhões de fiéis: budismo, taoísmo, islamismo, catolicismo e cristianismo (protestantismo), desde que as igrejas respeitem o Regulamento sobre Assuntos Religiosos, revisado e promulgado em 2017.

Esse controle estatal da fé vem sendo reforçado por lá. Em 1º de maio entraram em vigor novos regulamentos do Partido Comunista que proíbem missionários estrangeiros de pregarem ou compartilharem sua fé com os chineses. As regras exigem aprovação oficial para qualquer organização religiosa estrangeira e acompanhamento de todas as atividades realizadas nas igrejas. Por isso, muitas atuam como “igrejas domésticas”, como a Zion Church, e fazem reuniões em casas e sem registro oficial do governo.

Aqui é diferente?

No Brasil, o Estado é laico e a Constituição garante a liberdade religiosa e o livre exercício da fé de cada indivíduo. Ainda assim, enfrentamos diversos tipos de preconceito, cerceamento, como discursos maldosos e mentirosos, violência e vandalismo contra igrejas, e discriminação. Há ainda tentativas de invalidação, como a ideia de que os cristãos não devem se envolver com política, além de perseguições por parte da mídia e processos jurídicos. Vale lembrar que líderes religiosos, como o Bispo Edir Macedo, já foram presos por acusações ligadas à prática de sua fé.

Mas o que ocorre em países com ideologia semelhante à da China merece atenção. Muitos começam com o discurso de “proteção”, mas o verdadeiro objetivo é o controle. O próprio Regulamento sobre Assuntos Religiosos da China estabelece, no artigo 8º, que a principal função dos grupos religiosos é “auxiliar o governo popular na implementação de leis, regulamentos, regras e políticas e na salvaguarda dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos religiosos” (traduzido com o auxílio do Google Tradutor).

Como agir diante desse cenário?

A perseguição por conta da fé e do compromisso de levar o Evangelho a toda criatura, além da tentativa de controle, não é recente. Ela ocorre desde a Igreja Primitiva e continuaremos a viver nesse cenário cada vez mais inóspito até a volta do Senhor Jesus. Só que isso não deve ser motivo para desânimo, como Ele mesmo anunciou em Mateus 5:10-12: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós”.

Assumir a fé não é apenas frequentar uma igreja, ter uma Bíblia ou se batizar nas águas, mas estar disposto a enfrentar perdas, dores e riscos para permanecer fiel a Deus, independentemente das circunstâncias. Essa decisão ultrapassa palavras, pois o verdadeiro cristão entende que o mundo é um campo de batalha, onde será inevitavelmente odiado pela autenticidade de sua fé (João 15:18), mas, ainda assim, não negocia a Verdade, consciente de que tudo aqui é passageiro e que vale a pena pagar qualquer preço pela consciência tranquila e pela certeza da vida eterna ao lado do Senhor.

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Colaborador

Laís Klaiber / Arte: Esther Coelho sobre foto getty images