Barbárie em Santa Catarina
no local. Outra criança e a agente educativa morreram no hospital. Todas as vítimas receberam, ao menos, cinco golpes de facão. O delegado responsável pelo caso afirmou que as professoras se trancaram nas salas para evitar que o autor conseguisse chegar a elas.
O número de vítimas só não foi maior porque, naquele dia, a creche que atende crianças de zero a 3 anos estava com metade dos alunos por causa da pandemia. A ação rápida dos vizinhos que ouviram os gritos de desespero e correram para socorrer as vítimas também contribuiu para conter o agressor e evitar mais moSaudades fica no oeste catarinense, a 600 quilômetros da capital, Florianópolis. A pacata cidade de 10 mil habitantes não registrava um roubo sequer havia anos, mas, no último dia 4 de maio, ocorreu um crime que deixou todos os habitantes do pequeno município perplexos e sem ação porque foi uma barbárie. Por volta das 10 horas, um jovem invadiu a Escola Infantil e Berçário Pró-Infância Aquarela, no bairro Industrial, e matou cinco pessoas.
Sem histórico criminal, o adolescente de 18 anos foi até o local de bicicleta. Armado com um facão, entrou sem que fosse percebido e atacou a professora Keli Adriane Anieceviski, de 30 anos. Ferida, ela ainda conseguiu correr para uma sala onde estavam quatro crianças e uma funcionária da escola para alertá-las sobre o perigo.
O rapaz atacou as crianças que estavam na sala e a agente educativa Mirla Renner. Duas meninas de menos de dois anos e a professora morreramrtes.
O jovem chegou a desferir golpes contra o próprio corpo para tentar se matar, mas não conseguiu cometer suicídio. Quando estava sendo atendido pela equipe de bombeiros, Fabiano Kipper Mai, o autor do crime, perguntou sobre o número de vítimas que teria conseguido atingir e, no caminho para o hospital, afirmou que o ato foi planejado há mais de dez meses.
Esse ataque remete a outro episódio de violência ocorrido em março de 2019, na cidade de Suzano, na região metropolitana de São Paulo, quando dois jovens encapuzados invadiram a escola estadual Raul Brasil e mataram oito pessoas. Os dois eram ex-alunos do colégio e usaram revólver, uma besta, arco e flecha e outros artefatos para atacar as vítimas. Assim como no ataque em Saudades, planejaram o crime com antecedência.
O que se sabe de Fabiano – que até o fechamento desta edição estava internado em estado grave em um hospital de Chapecó (a 70 quilômetros de Saudades) – é que se trata de alguém solitário, introspectivo, que sofria bullying e maltratava animais. Segundo o delegado que investiga o caso, “ele tem aquele perfil de se trancar no quarto e ninguém saber o que ele está fazendo no computador”. Assim como os assassinos em Suzano, Fabiano também gostava de jogos violentos na internet.
A pequena cidade catarinense está enlutada e como todos os brasileiros tenta compreender os motivos que levaram à prática desse ataque violento. Há perguntas que não querem calar: como um jovem consegue comprar tão facilmente armas pela internet? Sofrendo problemas psicológicos, por que não buscou ou recebeu ajuda? Será que a família percebia o que estava acontecendo com o jovem?
A verdade é que episódios como esse nos fazem questionar se todos os jovens hoje em dia estão tendo o tratamento que merecem, no sentido de serem bem assistidos em suas necessidades e cuidados, com carinho e amor, e ouvidos em seus anseios.
Sabemos que nada justifica os assassinatos que ocorreram, mas talvez seja preciso compreender o que se passa com uma boa parcela de jovens para não permitir que episódios desse tipo se repitam. É fundamental estar atento ao comportamento dos jovens, ao que fazem e com quem falam, principalmente nesta época de pandemia, quando estão ficando mais isolados. Não se trata de policiá-los, mas de participar de suas vidas. Afinal, deixá-los “na deles” não é a melhor opção.