Atos antidemocráticos? Só no olhar da velha mídia

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A estimativa de pessoas que passaram pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nas manifestações de 7 de Setembro, surpreendeu pela quantidade. Segundo a Polícia Militar, o último evento que reuniu tanta gente por lá foi na comemoração do tetracampeonato do Brasil na Copa do Mundo de 1994. Os atos aconteceram em todas as capitais do País e, ao contrário do que grande parte da imprensa divulgou, não foram antidemocráticos. Em São Paulo, as fotos impressionam: um mar de gente se reuniu na Avenida Paulista, e de forma pacífica.

Enquanto muitos direcionaram suas atenções ao presidente Jair Bolsonaro, os verdadeiros protagonistas não podem ser esquecidos: a população. O povo finalmente mostrou que não aceita ser massa de manobra daqueles que estão acostumados com o “poder e a caneta”. E fez bonito! Famílias clamaram basicamente em defesa da liberdade em sua essência e da Constituição e contra as arbitrariedades da nossa Suprema Corte. Foi, sim, um dia histórico.

Mas, infelizmente, há quem esteja fazendo uso desse acontecimento para acentuar ainda mais o “nós contra eles”. Um repórter, por exemplo, dizia que o lado que hasteava bandeiras vermelhas com símbolos comunistas e nomes de partidos – pedindo inclusive por uma ditadura do proletariado – era considerado o lado a favor da democracia, enquanto que as milhares de pessoas que vestiam verde e amarelo – sem qualquer referência a partidos políticos – eram consideradas fascistas.

“O que a grande imprensa fez nas últimas horas foi desenvolver todo tipo de narrativa para desmoralizar os patriotas e conservadores que protagonizaram uma das maiores manifestações da história do País. Do ponto de vista meramente midiático, é ridículo acompanhar as narrativas sobre fascismo e atos antidemocráticos quando vimos manifestações pacíficas e repletas de famílias – enquanto as manifestações da esquerda incluem destruição de estátuas e confronto com a polícia”, observa o sociólogo Thiago Cortês, especialista em educação e política.

Por que a voz dessa multidão foi silenciada? Para Cortês, há uma explicação: “a verdade é que jornalistas e intelectuais em geral aprenderam a enxergar a realidade social sob a ótica do marxismo – ainda que um marxismo superficial – e têm uma visão abstrata do que seria o povo: um agente coletivo à disposição das causas de esquerda. O que vemos, contudo, é que o povo ama sua Pátria, a família e a liberdade. E isso nunca foi uma pauta de esquerda. Os jornalistas estão com dificuldades para interpretar essa manifestação, portanto, preferem rejeitá-la em nome da uma visão abstrata de povo. Quando o povo real sair às ruas, a partir de agora, será chamado de fascista”.

Em Os Donos do Poder – Formação do Patronato Político Brasileiro, clássico de 1958, o jurista brasileiro Raymundo Faoro, analisa como os portugueses influenciaram a formação política brasileira atual. Para o autor, eles teriam transportado para o Brasil uma estrutura burocrática que tomou posse do Estado, de suas instituições e, principalmente, de seus recursos. Sobre isso, Cortês opina: “assim, formou-se um tipo de política acostumada a convocar o povo apenas para validar seu esquema de poder, por meio do voto, sem qualquer espaço para protagonismo ou uma pauta de real interesse para o Brasil. Raymundo Faoro, portanto, já alertava sobre esses ‘Donos do Poder’ que tomam conta do Estado, controlando as instituições ‘em nome do povo’, mas sem consultálo, mesmo que não tenham sido eleitos ou tenham qualquer legitimidade popular”.

Por isso, as manifestações são uma grande reação popular contra a máquina do poder. “As pessoas estão nas ruas lutando por soberania, pelo direito de terem suas escolhas políticas reconhecidas e legitimadas, lutando pela democracia real, que não passa, de forma alguma, pela tutela dos ‘Donos do Poder’, estejam eles no Supremo Tribunal Federal (STF) ou na imprensa”, conclui Cortês.

Assim, o que está acontecendo é muito maior do que apenas uma disputa entre esquerda e direita. Só não vê quem realmente não quer ou está preocupado em defender ideologias de partidos políticos.

Ana Carolina Cury é jornalista.

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Redação / Foto: Getty Images