Análise: porque a obrigatoriedade de vacinação é um contrassenso

Mais uma vez o governador de São Paulo demonstra sua total falta de respeito à liberdade, suscitando o medo com argumentos sem nexo

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Em virtude do pânico gerado em torno de uma doença com índice moderado de contágio, o governador de São Paulo conta mais uma vez com o medo e a desinformação para obrigar as pessoas a fazerem o que ele bem quer. Cabe aqui uma ressalva: todas as vezes que mencionamos o fato de que a doença tem índice de contágio moderado, não faltam pessoas para perguntar se mais de 150 mil mortes não importam. Sim, importam, mas isso não muda os fatos e aqui estão eles para quem quiser pesquisar: o grau de contágio do novo coronavírus está entre 2 e 3, o que é cientificamente considerado moderado e muito mais baixo do que o sarampo, por exemplo, que possui nível entre 12 e 18.

Para que algumas doenças, como sarampo, febre amarela, caxumba, hepatites A e B e rubéola não se disseminem pelo país, existem pelo menos 18 vacinas oferecidas pelo governo por meio de campanhas de conscientização, a exemplo do Dia D da vacinação, ocorrido neste sábado. Detalhe: campanhas de conscientização fazem parte de toda sociedade livre e democrática e são totalmente diferentes do expediente “incutir medo para impor obrigatoriedades” sabe-se lá por qual motivo. Mas vamos nos ater a como funcionam as vacinas.

O objetivo delas é introduzir no organismo vírus ou bactérias modificadas para produzir células e anticorpos e evitar que a pessoa vacinada desenvolva uma determinada doença. Dessa forma, quem se vacina não contrai a doença mesmo convivendo com quem não se vacinou. Fica claro que, nesse caso, quem não se vacina assume o risco para si mesmo, não trazendo prejuízos à saúde dos vacinados.

Portanto, o argumento de João Doria, governador de São Paulo, para tornar a vacina compulsória a todos os paulistas é descabido, além de estar em desacordo com a legislação vigente. Dizer que a obrigatoriedade visa proteger aqueles que se vacinaram daqueles que não se vacinaram é um contrassenso, afinal, não é essa a função da vacina? De novo: o vacinado é o próprio beneficiário dos efeitos da vacina, independentemente de quem não se vacinou.

Até hoje, a vacina mais rápida do mundo levou quatro anos para ser desenvolvida e aprovada. Logo, é preciso ter cautela em relação a algo criado a toque de caixa – em meio a uma politização nunca vista em cima de uma doença – sem tempo para avaliar seus efeitos a médio e longo prazos. E tudo isso para conter um vírus do qual ainda se sabe muito pouco, afinal de contas, praticamente a cada semana surge uma nova informação sem que haja consenso por parte da comunidade científica.

Em artigo publicado no site do Instituto Mises Brasil, Robert P. Murphy, Ph.D em economia pela Universidade de Nova York e autor do blog Free Advice, destaca o seguinte:

“Observe, porém, a ironia e quão fraco se tornou o argumento em prol da vacinação obrigatória. Não mais estão dizendo que as vacinas são ‘seguras’ e que qualquer um que tema complicações médicas é um teórico da conspiração que confia em sites obscuros de internet em vez de pessoas em jalecos brancos. Pelo contrário, o próprio CDC (agência de saúde dos EUA) americano alerta certos grupos a não tomarem vacinas populares por causa dos riscos à saúde. Isso não é mais uma questão de princípio – as pessoas do lado da ciência são pró-vacina, enquanto os malucos e ignorantes são antivacinas. Ao contrário: temos agora uma discordância sobre quais pessoas devem tomar a vacina e quais pessoas não devem tomá-la porque os perigos são muito grandes.”

Cada pessoa deve ter assegurado o seu direito sobre seu próprio corpo, ou será que o “meu corpo, minhas regras” só serve para o aborto? Cautela, bom senso e liberdade são coisas que simplesmente não nos podem ser suprimidas com base em um medo desproporcional. Vivemos em uma sociedade livre e isso não pode ser ignorado, nem mesmo por quem quer, a todo custo, se colocar acima das leis.

Link para o artigo publicado no Mises Brasil.

Link para artigo do CDC.

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Colaborador

Por Patricia Lages / Foto: Getty Images