Ameaça disfarçada: adultos fantasiados de crianças nas redes sociais
Hoje em dia é comum ver a criançada com seus tablets em mãos. Algumas para assistir a desenhos, acessar joguinhos ou ver as redes sociais. Muitos acham inofensivo, já que essas plataformas oferecem “conteúdo kids”. Mas, infelizmente, é aí que mora o perigo.
A rede de vídeos on-line para o público infantil tem crescido de forma surpreendente e abrigado influenciadores que se fantasiam de crianças para manipular os pequenos, e não para o que é bom. Muitos perfis têm interações extremamente inadequadas. “Não coma a banana assim, coma com a colher”, dizia um rapaz no TikTok. Vendendo uma roupagem “infantil”, e com milhões de seguidores, ele “ensinava” as crianças, de forma maliciosa, a comer a fruta. Outros conteúdos e perfis que se dizem “kids” disseminam a sexualização precoce e até a pornografia, e banalizam a violência física, a violência verbal, a morte e o respeito à vida.
O que os adultos precisam saber sobre isso? Por trás desses vídeos existem estratégias e, com certeza, uma delas é a de conseguir audiência para que a publicação seja compartilhada entre esse público. “É como se tudo fosse voltado para criança, as cores do influencer, sempre colorido, o que prende e chama atenção. O problema é que a linguagem verbal e visual confunde, como se o conteúdo fosse adequado a menores de idade, e não é. Quem produz é seduzido pelas métricas e não tem nenhum filtro que atenda a classificação etária da infância”, observa a psicopedagoga Cassiana Tardivo.
A especialista acrescenta que o conteúdo não apenas influencia como pode mexer com o simbólico da criança, com seu campo fantasioso, colocando-a em risco ou em quadros de vulnerabilidade. “Sem mencionar que toda fala carrega um conteúdo valorativo e os pais precisam saber, acompanhar, para concluir se as narrativas vão a favor ou contra seus valores e crenças. Em meio ao colorido, o que realmente o autor fala, veicula e defende?”, questiona Cassiana.
O acesso às redes sociais aumenta a cada ano e, infelizmente, as crianças têm ingressado nelas antes do que deveriam, inclusive antes do recomendado pelas próprias plataformas. “Isso é comum porque temos uma geração de mães e pais também sem conhecimento. Muitos pais visam ‘negociar’ a respeito de tudo com os filhos, mas não deveriam confundir diálogo aberto com gestão democrática na educação, afinal eles são menores de idade e imaturos”, observa a psicopedagoga.
Permitir que as crianças acessem esses perfis abre espaço para que as publicações influenciem e modelem seus comportamentos, incentivando até mesmo o bullying, que tem como consequência o adoecimento mental e até o suicídio. Não é incomum ver “desafios” nas redes que podem levar ao óbito.
As crianças precisam voltar a ser crianças, brincar com esportes, corridas, bicicletas, jogos, desafios lógicos etc. Elas precisam ter experiências relacionadas a fazer, pensar e solucionar questões; precisam ser produtoras e não consumidoras passivas. Para isso acontecer é essencial andar na contramão do que a internet impõe.
E quem pode fazer isso? Os pais e responsáveis! “Façam uma lista de atividades e orientem os filhos ao uso correto, saudável e consciente da internet, e não barganhem. Filhos são vulneráveis e os pais precisam cuidar do que eles assistem. E isso não significa colocar um aplicativo de controle parental achando que já é o suficiente”, orienta a especialista.
A criança precisa de atenção, firmeza e limites saudáveis. “Estejam ao lado dos filhos no desenvolvimento deles, brincando, conversando, vivendo! Tenham eles dando trabalho na sala e não aceitem os ‘filhos do quarto’. Filhos precisam de pais e pais precisam de filhos”, conclui a psicopedagoga Cassiana Tardivo.
É possível viver em uma família feliz, em que exista o interesse genuíno de que todos os integrantes estejam unidos, mas para isso é preciso resgatar o convívio, as conversas e o amor.
Ana Carolina Cury, jornalista e editora-executiva
de Jornalismo na Record TV
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