Altruísmo ou egoísmo?

Ajudar o próximo é uma ação exemplar, mas muitos usam tragédias para desviar recursos ou se autopromover

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A recente tragédia no Rio Grande do Sul, com enchentes e alagamentos por todo o Estado, mostrou a união do povo brasileiro. Em razão de tamanha destruição das cidades, pessoas de todo o País se uniram em uma corrente de solidariedade. Cidadãos comuns se arriscaram em meio à água suja para salvar aqueles que estavam ilhados, enquanto voluntários organizaram abrigos e suprimentos e ofereceram comida aos que deixaram suas casas. Além disso, doações de várias partes do Brasil e do mundo continuam a ser enviadas.

Apesar desse cenário positivo, alguns exemplos ruins se destacaram. Muitas pessoas se aproveitaram do desastre para se beneficiar. Dezenas de prisões foram registradas por causa de saques, somadas a ataques a barcos de resgate e até mesmo à violência sexual em abrigo. Residências e empresas também foram alvo de invasões. “A gente percebe que essas pessoas têm um perfil antissocial mesmo, elas não conseguem ter empatia, pensam apenas naquilo que vai suprir a sua própria  necessidade”, diz a psicóloga Camila Galhego.

Mais golpes

Além desses crimes, muitos outros foram camuflados por supostas ações solidárias. Em meados de maio, por exemplo, a polícia prendeu dois suspeitos de fraudar transferências via PIX para as doações do Rio Grande do Sul. Eles fizeram uma arrecadação por meio das redes sociais para supostamente auxiliar as vítimas das tragédias, mas ficaram com o valor para si mesmos. Há ainda registros de pessoas que se ofereceram para levar os donativos até o Rio Grande do Sul, receberam o valor do frete e sumiram e outros casos que expõem ações desonestas de alguns.

Em busca de likes?

Há ainda quem esteja ajudando, mas faz questão de ganhar visibilidade por sua atitude. Um ex-participante de um reality show, por exemplo, postou fotos em suas redes sociais organizando mantimentos e amparando algumas vítimas. Ele tinha disponibilizado uma chave PIX pessoal para as doações, o que gerou críticas. Depois, ele revelou que usou o valor arrecadado por meio de seus seguidores para se deslocar até o Rio Grande do Sul e afirmou que não tinha condições de bancar a viagem. O assunto repercutiu negativamente e ele voltou atrás em sua declaração e fez até uma prestação de  contas. Mesmo assim, foi chamado de “turista de tragédia” por internautas.

Esse não foi um caso isolado. Influenciadores em todo o mundo têm usado a fragilidade humana para se destacar. Hoje, há perfis em redes sociais de pessoas que se dedicam a divulgar suas boas ações. Elas dão dinheiro, presentes, alimentos e os mais variados itens aos necessitados. Tudo é gravado, roteirizado e  toda a emoção transforma a atitude supostamente solidária em uma fábrica de curtidas, de seguidores e,  consequentemente, de dinheiro. Será que isso é fazer o bem?

Apesar de não ser um crime propriamente dito, esse tipo de atitude revela um perfil problemático. “São pessoas que precisam ser aprovadas, reconhecidas, muitas vezes são pessoas com baixa autoestima”, diz a psicóloga. Muitas vezes a intenção de aparecer não fica tão clara no momento de solidariedade, mas alguns sinais podem indicar o objetivo real de um indivíduo. “Quando a pessoa começa a falar muito que ela que ajudou, que ela que fez isso, fez aquilo, percebemos que ela está em busca de exaltação, o que a afasta de uma intenção genuína”, avalia Camila.

Qual é a intenção?

O ato de dar deve ser voluntário e para o benefício do outro e não para que o indivíduo mostre a sua suposta bondade. Por isso, Jesus ensina: “mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo que você fez. Isso  deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa” (Mateus 6.3, Nova Tradução  na Linguagem de Hoje).

Sabendo da tendência do ser humano de querer a atenção para si mesmo, Deus nos orienta a sermos discretos naquilo que fazemos ao próximo, até mesmo para não expor aquele que está em um momento de vulnerabilidade. Quem precisa de ajuda, também precisa de proteção. Que sejamos nós a diferença do mundo, amparando a quem precisa sem querer nada em troca.

 

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: Montagem sobre foto de GettyImages, FG Trade e Cid Guedes/GettyImages