Quem quer dar o nome de ganância às ambições egoístas que nutre dentro de si? Se ao ouvir essa pergunta muitas pessoas ficam sem resposta cabe, então, que cada uma fique atenta às próprias ações – grandes e pequenas – e verifique as motivações que estão por trás delas. A partir daí não será difícil entender a existência de pessoas como Aitofel, que se deixam seduzir pelo poder e, em muitos casos, usam a lábia para manipular os que estão ao seu redor.

A série Reis, da Record TV, retrata com maestria a postura calculista desse personagem bíblico, que é interpretado pelo ator Marcos Winter. A Bíblia narra que Aitofel era do conselho do rei (1 Crônicas 27.33) e que, naquela época, tanto Davi (Petrônio Gontijo) como seu filho Absalão (Ricky Tavares) “consideravam os conselhos de Aitofel como se fossem a palavra do próprio Deus” (2 Samuel 16.23).

Aitofel foi pai de Eliã (2 Samuel 23.34), um dos valentes de Davi cuja filha, Bateseba, foi casada com outro valente chamado Urias, conta a autora da trama Cristiane Cardoso à Folha Universal. Ela considera que “Aitofel estava bem familiarizado com tudo que acontecia no reino e na vida de Davi, inclusive do pecado que o rei cometeu com sua neta”, passagem retratada na sétima temporada da série. Agora, na oitava, intitulada A Consequência, será revelado o cerne das pretensões do personagem. “A Bíblia mostra como Aitofel foi traiçoeiro com Davi ao ajudar Absalão a furtar o coração da nação e, assim, usurpar o reino do pai. Isso nos levou a construir seu personagem desde a terceira temporada da série (A Rejeição), quando ele ainda era apenas um dos anciãos de Israel que, por alguma razão, se juntam aos que pediram um rei ao profeta Samuel. Na época, o público não entendeu ao mostrarmos sua rejeição a Ahava, a filha que ele teve fora do casamento, mas pessoas que traem outras normalmente traem primeiro as que mais amam”, diz Cristiane.

Agora, o público pode assimilar a trajetória de Aitofel desde sua primeira aparição na série até a fase atual. “Aitofel é estrategista. Ele está sempre manipulando Davi e forjando lealdade, mas, no fundo, ele quer ganhar poder no reino, especialmente com relação a Absalão. Aitofel deve ter ficado com ódio mortal de Davi depois do pecado, afinal, isso manchou a reputação de sua família que, até então, era formada por valentes e conselheiros do rei. Nós também conjecturamos que, como conselheiro do rei, Aitofel devia ter uma aliança com Gesur e que, por isso, escolheu Absalão para usurpar o reino”, detalha.

CONFLITOS
Já Absalão “enxerga no conselheiro do rei um pai que o compreende e o prefere aos demais filhos do rei” e, por isso, se inclina a escutar seus palpites, como detalha Cristiane: “ele enxerga em Aitofel o pai que o valoriza de verdade, pois vê nele o potencial de ser rei, diferentemente de Davi que só quer que o filho espere a Vontade de Deus. Como ele não teme a Deus e foi criado para tomar o lugar do pai, pensa que Aitofel é mais parecido com ele e, por isso ambos terão fins trágicos”, diz.

Cristiane acrescenta que Aitofel se aproveitou “do conflito familiar de Davi para afastar ainda mais Absalão do pai e o aproximar mais de si mesmo, forjando ser melhor que o próprio pai para ele. Ele se aproveita dos bons olhos de Davi, que não imagina que ele seja capaz de tamanha maldade. Na verdade, Davi o vê como amigo e só vai perceber o que Aitofel está fazendo quando for tarde demais, mas Deus vai Se vingar por ele. É como está escrito em Provérbios 11.31: se o justo é punido, imagina os injustos . Ele pode ter enganado o rei, mas não o Rei dos Reis”.

PODER QUE SOBE À CABEÇA
Mas, afinal, o que Aitofel desejava? “Primeiramente poder. Vemos isso claramente quando ele aconselha Absalão a ir para a guerra contra Davi e o filho rebelde do rei não lhe dá ouvidos, mas a Husai, outro conselheiro menos popular de Davi. Isso mexe tanto com Aitofel que ele se mata depois disso”, conta Cristiane.

Quando Husai diz a Absalão que “o conselho que Aitofel deu desta vez não é bom” (2 Samuel 17.7), temos diante de nós um alerta genuinamente espiritual e que clama por nosso discernimento. “Quem é de Deus ouve os conselhos de quem é de Deus; quem não é, infelizmente, aceita o conselho de qualquer um que aparece e, como o diabo se aproveita dessa falta de discernimento de quem não é espiritual, sempre coloca pessoas com conselhos ruins perto de nós. Discernimento é um dom que vem do Espírito Santo”, cita Cristiane.

LIÇÕES
De certa forma, vemos em cada personagem dessa temporada de Reis as consequências de escolhas que são muito semelhantes às nossas. “A consequência da mágoa é o ódio contido, um sentimento que pode levar à violência e até ao homicídio; já a consequência do perdão é a compreensão e a paz. Todos colhem, hoje, as consequências de decisões tomadas ontem. É como o apóstolo Paulo diz em Gálatas 6.7: quem é sábio procura semear boas sementes para assim colher bons frutos”, afirma Cristiane.

Dentre as lições que podem ser extraídas da história de Aitofel, Cristiane destaca “que o injusto pode até ganhar algo por um tempo, mas seu fim será à altura de suas injustiças. Não há final feliz para quem vive da injustiça”. Já o público pode esperar “um Aitofel cada vez mais manipulador não só com o rei, mas com o próprio Absalão”, garante Cristiane.

A série Reis vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 21h, na Record TV. Já pelo Univer Vídeo, é possível acompanhar cenas exclusivas e até episódios adiantados da produção. Não perca!