A renúncia tem peso ou valor para você?

Para muitos, "abrir mão" de hábitos, coisas, pessoas ou situações é algo extremamente custoso. Contudo, em vez de diminuir alguém, essa atitude é capaz de levá-lo a um patamar incomparável. Entenda o porquê

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Todo ganho revela uma perda. Quando alguém persegue o sonho de segurar em suas mãos um diploma, por exemplo, deve estar disposto antes a segurar canetas, cadernos e livros e ainda lidar com responsabilidades em estágios, muitas vezes, sem ganhar qualquer dinheiro. Durante esse período, o lazer e o descanso são reduzidos, e, muitas vezes, depois da formação, a realidade dos primeiros anos de trabalho não se torna muito diferente.

O próprio mês de maio, que traz essa reportagem, é lembrado como o mês das noivas e, quando se pensa no assunto, vem em mente frases como: “na alegria e na tristeza”, “na saúde e na doença” e “até que a morte os separe”, ditos em um compromisso assumido, muitas vezes, de véu e grinalda e sob inúmeras pétalas de flores arremessadas ao final da cerimônia. No entanto, o enredo de conto de fadas requer que os noivos, na verdade, abandonem a vida que tinham de solteiros para se tornarem “um”.

Outras situações ilustram bem que para cada escolha há uma renúncia: qual empresário se mantém bem-sucedido se ele viver de “pernas para o ar”? Qual pai pode ver o filho se tornar uma pessoa com bom caráter, se não assumir o seu papel? Qual atleta sobe ao pódio administrando a medalha em uma mão e na outra uma bandeja com hambúrguer e batata frita? A verdade é que o retrato da família feliz, do casamento dos sonhos e do profissional reconhecido seduz muita gente. Mas quem está realmente disposto a “abrir mão” de conforto, propostas irresistíveis, jeitos, manias e de si mesmo para bancar tudo isso ao longo dos anos? O fato é que, a princípio, o sacrifício dói e essa dor não apenas afasta aventureiros, mas também revela o verdadeiro valor de uma decisão.

MENOS É MAIS
Para quem não enxerga recompensa, a palavra renúncia parece pesada. Mas quem renuncia a algo que é errado, imoral, antiético, prejudicial para si ou para outras pessoas e, mais do que isso, desagradável aos olhos de Deus, só tem a ganhar. É claro que todos precisamos lidar com dilemas e a Palavra de Deus nos deixa exemplos de pessoas que, assim como nós, tiveram os seus. Algumas concluíram que a renúncia não valia a pena – e, cá entre nós, ninguém gosta de perder – e, por não entenderem o valor espiritual por trás de cada uma, lidaram com consequências que lhes custaram mais ainda.

Ao longo dos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, podemos acompanhar a história do jovem rico. Ele, que chegou a chamar o Senhor Jesus de bom e garantiu que seguiria cada vírgula das Escrituras, só não contava com esse aviso dEle: “(…) Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste (…)” (Mateus 19.21-22). Neste exemplo, o Senhor Jesus só reafirmou o que está escrito: “E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la- á.” (Mateus 10.38-39). Quem também poderia descrever como é se decepcionar com a própria condição espiritual é a mulher de Ló (Gênesis 19 e Lucas 17) e o casal pouco atento Ananias e Safira (Atos 5) que, disfarçados de bondade, quiseram manipular para esconder sua incredulidade. Mas, em casos como esses, não houve tempo de se entristecer.

O fato é que a renúncia traz insegurança porque o “agora” fala mais alto e, desconfiados quanto ao dia de amanhã, muitos se esquivam dela. No entanto, Quem nos acolhe nos pede confiança: “Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” (Mateus 6.25).

Foi assim que a confiança de Abraão lhe apresentou a renúncia como algo necessário para sustentar sua Fé. O livro de Isaías 51.1-2 mostra o exemplo dele: “Ouvi-me, vós os que seguis a justiça, os que buscais ao Senhor. (…) Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque, sendo ele só, o chamei, e o abençoei e o multipliquei.”

Em uma recente reunião no Templo de Salomão, o Bispo Renato Cardoso destacou que “neste mundo em meio a tantas pessoas corruptas” há quem queira justiça e que Deus viu em Abraão o retrato desse homem justo. “A escolha de Deus por Abraão não foi aleatória e você vê isso em seu caráter. Quando sua mulher não poderia lhe dar filhos e, pela cultura da época, ele poderia tomar outra mulher, ele recusou. Ele não quis impor essa injustiça, essa dor sobre a sua esposa.” O Bispo explicou que a justiça que Deus quer que as pessoas busquem é a obediência em Sua Palavra: “Deus procura um coração transformado e que, mesmo podendo fazer o errado, escolhe não fazer.

Quando Ele fala para olhar para Abraão quer mostrar um exemplo, um referencial de pessoa, de vida, de conduta, de caráter. Para seguir a justiça, em muitas situações você vai ter que perder.”

Em seu blog, o Bispo Edir Macedo compartilhou que “quem quiser adotar os ensinamentos de Jesus como padrão de comportamento, deve renunciar à própria vida”. Ele orientou como isso deve ser feito: “não é à toa que Ele aconselha ao que quer segui-Lo assentarse primeiro para calcular se está mesmo disposto a assumir o compromisso de obediência até o fim, se conseguirá pagar o preço dessa decisão. Isso é o que se chama de Fé inteligente, que nos obriga a usar a razão para fazermos a escolha que realmente iremos honrar, sem emoção ou precipitação, uma vez que conhecemos o que ela exige de nós”.

O Bispo ressaltou que Deus não impõe Sua disciplina a ninguém, mas também não confere Seu Poder a todos. “Ele nos deixa cientes de como devemos agir se quisermos esse Poder dentro de nós. É uma proposta que devemos analisar com a mente, não com o coração, porque há um preço a ser pago” .

ABRIR MÃO DE QUÊ?
O Reino de Deus, que começa no interior de cada um ao receber o Seu Espírito, e a garantia de viver na Eternidade com Ele requer uma vida de “nãos” às más atitudes.

Contudo a renúncia em favor do Evangelho não é vã. O que poucos entendem é que no momento em que se renuncia à própria vida é que de fato ela passa a ganhar sentido. Quem abre mão do seu eu passa a viver na Luz e, com isso, obtém uma nova vida, como está descrito: “Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” (João 3.20-21).

Para Simone de Sales Esposito, (foto baixo) de 41 anos, uma decisão como essa valeu a pena. “Eu era uma pessoa magoada, transtornada, cheia de problemas e presa ao passado e deixei tudo para trás. Abri mão do meu eu, da minha vontade, dos meus achismos e, assim, vi que eu estava diferente. O Espírito Santo me transformou em outra pessoa.”

Ela relembra que sua história foi marcada por desestrutura familiar: “meus pais tinham se divorciado, por que havia muitas brigas e desentendimentos. Assim, eu convivi  em um lar destruído e não sabia o que era família”.

Sem ter referência familiar, aos 18 anos, Simone passou a reproduzir em sua vida amorosa a mesma confusão que havia dentro de si. “Eu até procurava uma maneira de ser feliz, mas eu só me envolvia com homens casados. E como eu iria ter uma família se eu me envolvia com alguém que já tinha uma? Sempre tive o sonho de casar e quando eu passava por lojas de roupas de noivas, ficava encantada e falava que um dia me vestiria daquela forma, mas não sabia a maneira que podia fazer isso acontecer. A vida toda passei sonhando, mas parecia não passar de um sonho.”

Ao colecionar inúmeros relacionamentos fracassados, Simone passou a se envolver com mulheres e um deles durou 13 anos. Ela conta que sua vida era conturbada: “eu tinha uma vida financeira estável e tudo o que o dinheiro podia comprar, mas eu não tinha paz. O convívio era marcado por discussões e uma depressão foi desencadeada.

Cheguei a ir ao hospital com crise de ansiedade, sem conseguir dormir, mesmo os médicos me dando ansiolítico e outros medicamentos na veia. Sem enxergar saída, eu planejei um suicídio subindo no viaduto e tentando me jogar de um carro em movimento, até que meu irmão impediu meu ato, e, na última tentativa, coloquei a cabeça dentro do forno com o gás ligado. Quando eu estava quase desacordada, me socorreram”.

Tanto a mãe como a irmã de Simone, que já frequentavam a Universal, a convidaram para ir a uma reunião. “Eu estava deplorável, mas comecei a entender o que realmente precisava fazer.” Desta forma, ela deu chance à Palavra de Deus e renunciou à vida antiga para agarrar uma nova. “Eu decidi abrir mão do relacionamento com outras mulheres e de tudo que eu me envolvia. Ali, a palavra renúncia começou a fazer sentido. Entendi que precisava do Espírito Santo até para não retroceder, pois Ele é Quem dá força e guia. Foi aí que a Simone, de fato, começou a perder”

Ela conta o que ganhou com essa atitude: “eu deixei de ser explosiva, nervosa, pavio curto e isso se torna possível porque, dentro de você, há mudança de Espírito”, aponta.

Ela acrescenta os ensinamentos que obteve: “se há perdas, Deus recompensa você em dobro: Ele lhe dá felicidade e o Espírito Santo lhe enche de alegria. Você se torna uma pessoa completa. Então, quem perde, com Ele só ganha”.

Há um ano e três meses, Simone tem vivido o casamento que desejou. “Eu tive de volta até os sonhos perdidos, mas o Espírito Santo é meu bem maior. Posso perder qualquer coisa, menos Ele”, conclui.

SOZINHA, ERA DIFERENTE
A cabeleireira Carolina Rodrigues Barbosa, (foto baixo) de 25 anos, conviveu com as dificuldades muito cedo. Ela cresceu aos cuidados da avó e conta sobre seus problemas: “eu só fui conhecer meu pai aos 21 anos, pois eu nunca soube quem ele era e minha mãe, que teve três filhas com pais diferentes, nunca nos criou. Por conta dessa distância, eu era muito carente e vivia na casa dos outros. Ao meu redor, percebia que todo mundo tinha família e eu não e isso me fazia sofrer muito. Acabei me aproximando de rapazes mais velhos – acredito que eu procurava um pai nesses relacionamentos para suprir aquela carência”, recorda.

Aos 15 anos, Carolina se envolveu em um relacionamento abusivo com alguém com o dobro da sua idade. “Ele me batia, me fazia usar maconha, me fez parar de estudar e tinha muito ciúme de mim. Esse relacionamento durou um ano e, ao sair dele, fui curtir minha vida. Então me envolvi com mulheres e com homens casados, me prostituí e frequentei casas de swing (voltadas a relacionamentos permissivos). Mas, ao voltar para casa, eu me sentia a pessoa mais podre do mundo e pensava que a minha vida não tinha sentido.”

Até que Carolina passou por outra decepção: “em mais um relacionamento, achando que seria feliz, eu tatuei o nome do rapaz no meu braço, mas, com três meses de namoro, ele terminou comigo. Ali me vi em uma situação em que até a pessoa que estava pior do que eu não me queria. Dessa forma, por meio da minha avó, cheguei à Universal. Eu estava sem trabalho e sem perspectiva de vida, mas decidida a mudar. Era tudo ou nada. Ou melhor: era tudo ou tudo”.

Ela conta o que precisou fazer para arcar com aquela decisão: “abri mão da minha vida, dos vícios e dos desejos e excluí redes sociais para poder me desligar do mundo e me encontrar com Deus. Assim, Deus começou a ver que eu queria mudar. De lá para cá, nunca parei de renunciar, até porque cheguei à Universal próxima a uma Fogueira Santa”. Ela conta o que aprendeu com isso: “na minha vida, a renúncia representa transformação. Quando a gente entrega nossa vida no Altar, é impossível Deus não responder. Embora houvesse necessidade em me resolver financeira e até sentimentalmente, minha preocupação não foi essa: eu queria me curar por dentro e, em quatro meses, recebi o Espírito Santo. Deus não olhou meus erros, mas a minha sinceridade, mesmo sem condições”, descreve.

Por fim, Carolina pontua que renunciar lhe “doeu muito”, mas sabia que se fosse perseverante iria alcançar o que pretendia. Como sua entrega foi rápida, a transformação em sua vida também foi. “É como se houvesse uma mudança de DNA, de caráter, de pessoa. Agora mesmo parece que estou contando a história de outra pessoa e não a minha.” Por isso, ela comemora: “hoje sou mãe, bem casada, feliz, realizada. Sou orgulho para a família e as pessoas têm prazer de estar ao meu lado. Com o Espírito Santo, eu tenho paz e a minha empresa e a minha casa são abençoadas. Eu sou a própria benção e as demais coisas são só acrescentadas”, finaliza.

NEM TUDO O QUE RELUZ É OURO
Algumas situações de renúncia parecem ser a melhor escolha quando feitas, mas, na verdade, não são bem o que parecem. É o que diz o administrador de empresas e corretor de imóveis Bruno Caetano da Silva, (foto baixo) de 32 anos. “Eu cresci na Igreja e os valores cristãos foram meus princípios desde a infância”, pontua. Por estar bem ambientado à Fé, Bruno acreditava ter tido um encontro com Deus e assim ele foi levando a vida. “Eu achava que estava bem e assim segui minha vida. Então, na fase adulta, decidi fazer faculdade. Minha escolha foi por administração de empresas, guiada até mesmo por minha própria família, pois meu pai tinha uma transportadora e ele precisava de alguém para tocá-la de uma forma não amadora. Em mim, então, nasceu o desejo de ser capaz de administrar o negócio”.

Ao todo, foram quatro anos de faculdade, além dos seis meses no curso de corretor de imóveis, área que acabou seguindo. “Eu estudava de manhã e, à tarde, trabalhava com meu pai. “No final do curso, fui chamado para ser corretor em uma empresa. Mudei de trabalho, onde comecei a me desenvolver e alcançar cargos de responsabilidade desde o primeiro mês.” Porém, seu foco não era Deus: “embora eu continuasse a participar das reuniões da Universal, minha vida com Deus era sempre pensando no lado material: eu queria conquistar, crescer e mostrar para todo mundo que Deus era comigo, que eu estava ganhando dinheiro. Chegava a trabalhar 12 horas, 14 horas por dia e também aos finais de semana e a viajar pela empresa para outros estados do Brasil. Era uma dedicação muito grande”, reforça.

O mesmo empenho, no entanto, não existia para o mais importante: “minha vida espiritual foi para o buraco e quanto mais eu me dedicava, menos eu estava presente na Fé. Foquei totalmente na minha carreira e coloquei o dinheiro como ‘deus’, deixando o trabalho me esgotar cada vez mais”. Isso lhe trouxe consequências ruins: “eu me envolvi com pessoas do alto escalão da empresa e, nesse meio, comecei a beber e a ir para as noitadas. Essa sensação de liberdade, na verdade, me trouxe libertinagem e uma vontade de fazer valer meus desejos. Eu achava que, ganhando um pouco mais de dinheiro, eu seria o dono do mundo, que eu poderia fazer o que eu quisesse e que nada iria acontecer. Era como se eu não pecasse muito e, assim, me tornei um Bruno vazio, em que nada me preenchia”.

Cansado daquela vida, em 2017, Bruno decidiu voltar para a Presença de Deus e, em 2018, ele perdeu o emprego. “Depois de sete anos e meio, me desligaram da empresa.

Mas, quando soube, eu sorri. Para mim, foi a oportunidade perfeita: pude focar 100% na minha Fé”. Sobre isso, ele faz uma reflexão: “dali em diante, eu fiz uma renúncia de verdade e acho que essa palavra define muito a minha vida: sempre renunciei para alcançar algo. Renunciei tempo e amigos para trabalhar mais e alcançar cargos superiores. Depois, para suprir o vazio, renunciei o descanso estando em festas. Para mim, a palavra renúncia é imensa, pois só alcançamos algum objetivo se renunciamos alguma coisa.

Em 1 Coríntios 9.25, vemos que “todo aquele que luta de tudo se abstém”– e isso não é exagero algum. Todo aquele que quer alcançar algo precisa dizer “não”. Lemos na Bíblia com Nova Tradução da Linguagem de Hoje (NTLH), que “todo atleta que está treinando aguenta exercícios duros porque quer receber uma coroa de folhas de louro, um ornamento que, aliás, não dura muito. Mas nós queremos receber uma coroa que dura para sempre” e essa é a maior conquista que se pode alcançar: a Salvação.

Hoje, completo e bem posicionado em sua área, Bruno garante: “uma coisa é ouvir falar de Deus fora, mas é completamente diferente quando Deus está dentro de você. Agora, eu sou outra pessoa”, encerra.

Faça você também como essas pessoas e “abra mão” daquilo que vai lhe prejudicar. Você só terá ganhos.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: getty images, Demetrio Koch, Mídia terapia do amor/João Dias