A importância da socialização na velhice

Pesquisa mostra os impactos que os vínculos sociais – e não apenas os familiares – têm para um envelhecimento com qualidade

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A figura da idosa na poltrona fazendo tricô de pijama e pantufas ou tomando uma xícara de chá precisa ser aposentada. Atualmente, o que se vê como parte de um envelhecimento de qualidade não é apenas ter sossego e conforto, mas o estabelecimento de vínculos sociais. Essa informação consta de uma pesquisa realizada por especialistas das universidades dos Estados da Georgia e da Flórida, nos Estados Unidos.

O estudo buscou entender como o ritmo social pode interferir no envelhecimento, levando em conta a disponibilidade de tempo do idoso e o fato de estar viúvo. O levantamento concluiu que o trabalho e o voluntariado atuam como moderadores das condições crônicas e das limitações típicas dessa fase. E também apontou que quando há um engajamento produtivo do idoso em atividades há também diminuição dos riscos de mortalidade, uma vez que, além de favorecer mais engajamento físico e interação social, a socialização oferece também maior saúde física e mental. Por isso, o envolvimento entre os idosos foi visto como elemento-chave no processo do envelhecimento bem-sucedido.

O professor-assistente de sociologia Ben Lennox Kail, da Universidade de Georgia, um dos autores do estudo, chegou a mencionar que, entre viúvos, “foi possível observar que oferecer 100 horas por ano de voluntariado reduz a solidão a um nível parecido com o de quem não perdeu uma pessoa tão próxima. Isso foi algo que nos deixou muito felizes”.

TROCA FUNDAMENTAL
O estudo confirmou ainda que as trocas humanas são essenciais. Em entrevista à Folha Universal, Vicente Faleiros, especialista em gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), explica que, no envelhecimento, há trocas conhecidas como intergeracionais e intrageracionais. As ações intergeracionais buscam integrar não apenas idosos a outros idosos, mas também ligá-los a jovens, adultos, adolescentes e crianças, o que ajuda a desconstruir estereótipos que ainda envolvem a idade. Já as trocas intergeracionais ocorrem entre gerações, como entre avós e netos. “Elas permitem uma aprendizagem enriquecedora”, ressalta.

Faleiros observa que uma das consequências do isolamento social pode ser a depressão. Para ele, o fato de participar de grupos de convivência e de voluntariado pode contribuir para reduzir ou superar esse quadro. “Os idosos podem encontrar um lugar de expressão pessoal, de suas potencialidades, de troca, de amizade e de reconhecimento.”

REDE DE APOIO
A aposentada Darli Salvador Ribeiro, (foto abaixo) de 76 anos, de Belo Horizonte, Minas Gerais, conta que, em abril de 2018, ficou viúva. “Me deparei com a realidade da falta de um companheiro fiel, leal, amigo, provedor de 58 anos, de convivência lado a lado”, relata.

Nesse período, ela conheceu o Grupo Calebe, projeto apoiado pela Universal, que presta assistência social e espiritual à melhor idade. O grupo tem beneficiado milhares de pessoas por meio de atividades como dança, ginástica, artes marciais, artesanato, serviços de saúde, cursos de informática, smartphone e idiomas, entre outros. Só em 2019, por exemplo, mais de 2 milhões de idosos foram beneficiados em todo o País pelo projeto.

“No grupo, me deparei com diversas atividades e me senti amparada, pois convivia com mulheres que também tinham passado o mesmo que eu e venceram. O trabalho no artesanato, as conversas agradáveis e o convívio com outras pessoas começaram a fazer parte da minha vida. Pouco depois eu já podia acolher outras mulheres e pessoas que também chegavam com suas dores”, relata Darli.

O Bispo Antonio Santana, responsável pelo grupo Calebe no Brasil, aponta que o trabalho realizado tem ajudado não apenas a levantar a autoestima dos idosos, mas “a integrá-los na sociedade e faz com que se sintam acolhidos e valorizados.” Ele destaca que “a melhor idade ainda é vista por muitos como uma fase reclusa, monótona e parada, mas que o grupo tem mostrado exatamente o contrário”.

PROTAGONISMO
Observarmos que o idoso tem cada vez mais deixado de lado o papel de coadjuvante para assumir o de protagonista na sociedade. E esse processo tende a se acelerar com a transição demográfica. Atualmente, há no País cerca de 29,3 milhões de brasileiros acima dos 60 anos, de acordo com o Ministério da Saúde, o equivalente a 14,3% da população, e as estimativas apontam que, em 2030, o número de idosos deva ultrapassar o de crianças e adolescentes de zero a 14 anos. Portanto eles devem ser sempre valorizados e ver respeitadas as características que apresentam nessa fase.

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Colaborador

Flavia Francellino / Fotos: Arquivo pessoal e getty images