A armadilha da vaidade

Cair nela pode custar bem mais do que qualquer um pode imaginar

Imagem de capa - A armadilha da vaidade

Quando se fala em vaidade, muita gente ainda tem dúvidas se ela é algo bom ou ruim. A palavra vem do termo latino vanitatis, que significa vão, fútil e vazio. Como isso pode ser positivo, se alguém pode se sentir tão cheio por algo vazio?

Há o aspecto psicológico e o espiritual que, unidos, esclarecem tudo. No primeiro caso, o psicólogo Vagner Miranda, de São Paulo, afirma que muita gente pode se iludir quanto ao aspecto positivo da vaidade quando a confunde com autoestima. “A autoestima diz respeito a valores próprios, enquanto a vaidade está relacionada a valores que os outros atribuem a mim”, pontua.

Vagner expande esse raciocínio: “a autoestima não está necessariamente desvinculada da vaidade, mas pode ser independente dela. A pessoa com autoestima tem grandes chances de ser bem-sucedida e isso, consequentemente, gera reconhecimento, o que é muito prazeroso”.

O perigo, segundo o psicólogo, é quando “a partir das conquistas, as pessoas se sustentam no status alcançado e não se apoiam mais na autoestima, mas na vaidade. Ora, a autoestima não é algo que se mantém por si só. Ela necessita do constante recriar-se, uma busca incessante de movimento, de construção e de aprimoramento. Já a vaidade é muito mais frágil, pois depende de olhar, admiração, aprovação e interesse dos outros”.

Para Vagner, “é como se ser reconhecido como bom pelos outros já bastasse e o investimento emocional e até mesmo financeiro pode ser enorme. Muitas vezes, para obtê-lo, deixamos de lado nossos valores pessoais. Esse é claramente o tipo de negociação interna que empobrece a vida emocional e psíquica, o que fatalmente gera sofrimentos, como os transtornos de ansiedade”.

Há gratificações que a vaidade traz, instantâneas, mas ilusórias, segundo Vagner, “mas que não têm o poder de sustentação e não se comparam à qualidade do se sentir bem de dentro para fora. Tentar sempre obter gratificações para a vaidade não gera autoestima”.

Riscos para a vida espiritual

O Bispo Júlio Freitas explica como essa armadilha citada por Vagner Miranda interfere no lado espiritual e o perigo de priorizar o que vem de fora (das outras pessoas) em prejuízo do que vem de dentro – a influência do Espírito Santo e a comunhão com Deus. Ele indica que é imprescindível saber identificar as “iscas” que a vaidade usa para “fisgar” as pessoas (confira abaixo).

O Bispo faz uma advertência: “muitos que um dia estiveram no Altar se perderam, caíram em tentação, se corromperam e hoje estão afastados. O pecado inicial não foi o adultério, a mentira, a rebelião, a promiscuidade, o vício e o tocar no sagrado, mas foi a vaidade. Ela seduziu um dia Lúcifer, convertendo-o no diabo. Guarde o seu coração da vaidade, esse sentimento tão nocivo, traidor e destrutivo que pode custar até mesmo sua Salvação”, finaliza.

Identifique as quatro iscas da vaidade

Confira os conselhos do Bispo Júlio Freitas

Os elogios: “eles suscitam a vaidade. Veja o que disse o Senhor Jesus em João 5.44: ‘Como podeis vós crer, recebendo honra uns dos outros, e não buscando a honra que vem só de Deus?’. Ele critica aqueles que vivem um afagando o ego do outro, falando dos religiosos. A ‘honra que vem só de Deus’ é a aprovação do Altíssimo por meio de obediência, sacrifício, renúncia, entrega, humildade, submissão a Ele, independentemente do que sentimos, do que os outros dizem e do que está acontecendo. Quem quer receber o reconhecimento dos outros e não de Deus não crê”.

As vitórias: “ao conquistar algo, é normal que nos sintamos felizes, que divulguemos para glorificar a Deus, mas nos cabe guardar o coração da vaidade que a vitória produz. Como? Atribua essa vitória não a você, à sua capacidade, ao tamanho da sua fé, à sua obediência, à constância na Igreja, mas ao poder de Deus”.

As revelações: “quanto mais o Altíssimo nos revela coisas maravilhosas e somos usados por Ele para divulgá-las, mais devemos nos humilhar e nos policiar, porque não faltarão aplausos, elogios, vitórias e superações. Mas foi Deus que revelou algo na Palavra a nós e isso resolveu um problema e evitou muitos outros. Ele às vezes permite que Seu servo tenha um problema não resolvido, um sonho não realizado e um objetivo não alcançado. Isso mostra que a glória é dEle, não nossa ou da Igreja. Fomos apenas o instrumento para as revelações. Não é bom se achar ‘o tal’, com todos os problemas resolvidos e todos os sonhos realizados”.

A posição: “Deus muitas vezes nos coloca em uma posição de destaque. Se isso subir à cabeça, pode custar até mesmo a Salvação. O Senhor Jesus nos deixou uma lição: ‘De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-Se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-Se semelhante aos homens.’ (Filipenses 2.5-7). Se Ele, o próprio Deus feito homem, procurou não se deixar seduzir por sua posição, por que nós, humanos falhos e pecadores, nos deixamos? Nossa Salvação é mais importante do que nossa posição”.

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Colaborador

Marcelo Rangel / Foto: Getty Image