O que acontece depois do “sim”?

Entenda o que fazer para superar os desafios e vencer a adaptação tão temida pelos casais no início do matrimônio

Imagem de capa - O que acontece depois do “sim”?

O tão sonhado dia do casamento chegou. Seja com uma cerimônia simples, seja com uma festa de arromba, esse momento é esperado ansiosamente pelos casais. Tanto é que o mercado de casamento é um dos setores que mais movimentam a economia brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os gastos com festas e cerimônias matrimoniais têm apresentado um crescimento anual médio de 10,4%, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira de Eventos Socias (Abrafesta), que também afirma que o crescimento foi de 25% em todo o Brasil, entre os anos de 2013 e 2016. Por fim, os dados mostram que em 2014 foram gastos, em média, R$ 16,8 bilhões com essas celebrações no País. Isso sem contar o tempo destinado a escolher cada detalhe da cerimônia e o de dedicação que o casal empenha para preparar tudo da melhor forma possível.

Diante desse cenário, é possível que os pombinhos cheguem ao altar com muitos cabelos brancos, por conta de todo o esforço empreendido para o grande dia.

E, na manhã seguinte, logo após o dia do casamento? E depois da lua de mel? Será que o casal manterá, na relação, o mesmo cuidado e a mesma dedicação que teve para preparar uma celebração perfeita?

Saber como lidar com o comportamento diferente do outro, administrar as contas da casa, dividir as tarefas do lar e lidar com os familiares não são itens discutidos na festa, mas serão temas reais no cotidiano do casal.

“O histórico dos noivos não vem escrito no convite de casamento. Aliás, em lugar nenhum. Mas ninguém casa sem trazer a sua bagagem para o relacionamento. No dia do casamento você só conhece de 10% a 20% da pessoa com quem está se casando – na melhor das hipóteses – e a maior parte do que você conhece é apenas o lado bom”, explicam Renato e Cristiane Cardoso, autores do livro Casamento Blindado, que agora conta com uma versão revisada e atualizada: Casamento Blindado 2.0.

“A culpa foi da paixão”

É com essa frase que Danielle Elaine da Cunha Carvalho, de 37 anos, coach e empresária, justifica porque desconhecia a bagagem emocional de seu atual marido, Loui Parma Carvalho (foto ao lado), de 37 anos, também coach e empresário. Eles se casaram após três meses de namoro e o que sabiam um do outro se resumia a romantismo, carinho e sorrisos.

“Estávamos apaixonados. Mas, depois do matrimônio, começamos a ver que éramos muito diferentes em termos de personalidade, ritmo de trabalho e visão de algumas coisas. Naquele momento passamos a ter confrontos, principalmente a respeito de assuntos relacionados ao trabalho e à vida financeira”, lembra Danielle.

Uma só conta bancária?

Para a psicóloga Alessandra Amorim, as finanças estão entre as principais dificuldades enfrentadas pelos casais na fase inicial do casamento. “Esse assunto pode causar muitas discórdias. Pela minha experiência, após alguns anos, os cônjuges que têm muitos problemas nessa área e não têm diálogo podem chegar a se divorciar”, diz a especialista.

O fato de não saber lidar com o dinheiro levou o casal Danielle e Lou a uma dívida de R$ 200 mil. “Sem falar o dinheiro que passamos a dever para familiares e amigos. A gente se gostava, mas os problemas financeiros tiravam a nossa paz e o fato de não sabermos lidar com isso fazia com que brigássemos toda hora”, lembra Loui.

No início do casamento, eles decidiram empreender juntos, mas os maus negócios e decisões erradas tornaram as diferenças entre eles ainda maiores. “Usávamos muito o crédito e fazíamos muitos empréstimos. Queria fazer de um jeito; ele de outro. Eu era explosiva; ele introspectivo, calado, não reagia às nossas dificuldades e isso me irritava muito. Precisávamos de uma solução e nada acontecia”, relembra a empresária. A falta de orientação financeira prejudicou os primeiros quatro anos de casados.

“Lembro-me de uma briga dentro de casa em que ela jogou um copo de água no meu rosto e eu quebrei um quadro na parede. A Danielle estava grávida, foi horrível. Ficávamos meses sem nos relacionar intimamente também. Essa situação só mudou em 2009”, diz o coach.

Naquele ano, Danielle recebeu um convite e decidiu tomar uma atitude. “Uma amiga me chamou para ir à ‘Terapia do Amor’ com ela e eu aceitei. Não queria me separar, só que não estava feliz. O legal é que, depois de ir a algumas palestras, entendi que, se nós aprendêssemos nosso papel dentro do relacionamento e como lidar com as diferenças um do outro, poderíamos transformar a relação, reerguer o negócio e quitar todas as dívidas”, afirma a empresária.

E foi isso o que aconteceu. Loui passou a acompanhar a esposa nas palestras e eles aprenderam que se soubessem ouvir, ceder e fazer uma organização financeira mensal em conjunto venceriam aquela situação. “A raiz das nossas dívidas era o nosso problema de adaptação. Então, aprendi que deveria assumir mais responsabilidades, ser mais carinhoso e também passar mais segurança para a minha família. Não demorou muito para conseguirmos pagar as dívidas e restituir nossa empresa. Hoje, com 11 anos de casados, podemos afirmar que somos uma verdadeira equipe e temos paz no nosso casamento”, completa.

Somos muito diferentes

Imagine as seguintes cenas: a mulher chega em casa cansada e tem que lidar com uma meia jogada no chão da sala, a toalha molhada em cima da cama, o sapato sujo de cocô de cachorro no quarto. Ou, então, o homem que chega em casa depois de um dia cansativo de trabalho e se sente forçado a discutir a relação, quando tudo o que queria era apenas ver TV e dormir.

Essas são algumas situações que podem gerar conflitos nos primeiros meses de casamento. O que fazer, então, para encontrar uma solução antes de pensar em jogar tudo para o alto?

“Depois de duas semanas de casados, o Ivanildo queria o divórcio”, lembra Cinthia Mika Kikuchi (foto ao lado), de 33 anos, enfermeira. Para ele, a única forma de resolver as diferenças seria a separação. “Eu era muito independente e não aceitava ter que cuidar das coisas dele. Fazia cara feia e, se pudesse, xingava. Tudo tinha que ser do meu jeito. Vivia uma vida egoísta, não atentava nem ao menos ao que iríamos almoçar ou jantar. Queria ser servida sempre”, acrescenta a enfermeira.

Ivanildo Alves Barbosa , de 42 anos, técnico de enfermagem, por sua vez, queria que a esposa fosse igual a ele. “Exigia muito da Cinthia como mulher submissa e dona de casa. Não aceitava ser contrariado e não me importava com a opinião dela. Queria sempre ter razão em tudo e mandar nela. Ficávamos dias sem conversar um com o outro. Chegamos até mesmo a dormir em quartos separados. Vivíamos cada um a própria vida”, lamenta o técnico de enfermagem.

Os primeiros meses de casamento passaram e o problema não foi resolvido. “No terceiro ano eu queria o divórcio. Ao comentar com uma amiga, ela insistiu para que eu fosse com ela buscar ajuda antes de tomar essa decisão. Fui à ‘Terapia do Amor’ e perseverei. Frequentei sozinha por um ano e meio. Nesse período aprendi a ser feliz comigo mesma, a me amar. Usei o amor inteligente, em vez de usar as emoções para resolver os problemas”, revela.

Nesse período, Cinthia também mudou suas atitudes com o marido: passou a ser mais carinhosa e atenciosa e isso chamou a atenção dele. “Quando a vi tão diferente fiquei até com vergonha dos meus atos. Decidi buscar ajuda para melhorar também. Comecei a me preocupar mais com a Cinthia e parei de fazer tantas exigências. Entendi que não havia casado para ser servido, mas sim para fazê-la feliz. Hoje aprendemos que para o casamento dar certo é preciso parceria, paciência e respeito. Se tivéssemos isso desde o início, teríamos evitado muitos problemas”, conclui Ivanildo.

As consequências

Natylie Bacelar Francesconi (foto ao lado), de 36 anos, professora, conta que o casamento dela não superou o período da adaptação. “Conheci meu ex-marido por meio de um site de relacionamento. Um mês depois nos casamos. Os problemas começaram quando fomos morar com a minha mãe. Tinha ouvido falar que morar com sogra não era bom, mas achava que minha mãe seria uma exceção. A intenção dela era a de viver toda a vida comigo, na mesma casa, onde ela comandaria tudo sempre”, lembra.

O parceiro queria independência, mas Natylie insistiu para que eles ficassem lá. “Minha mãe era um tanto possessiva e dominadora, mas eu não reconhecia isso por ser dependente emocionalmente dela. Ela falava mal dele quando estávamos sozinhas, me desencorajava. Seis meses depois do casamento ele decidiu ir embora e me abandonou”, se recorda.

O casal tentou reatar algumas vezes, mas sem sucesso. “Da última vez, ele colocou a condição de eu ir morar com ele na casa dos pais dele. Abri mão de quase tudo para me redimir e evitar repetir meus erros. A casa tinha uma divisória de forma que um dos lados era onde morávamos ele, eu, o enteado e nossa filha; do outro lado moravam os pais dele já idosos”, diz.

As dificuldades só aumentaram. “Ele se mostrou muito agressivo. Chegou a socar a parede em uma discussão enquanto eu fugia para o quarto e me escondia embaixo do edredom. Tudo acabou quando, em uma briga, meu sogro me deu um soco no peito e ele ficou do lado do pai dele. Depois que saí de casa, ele propôs que continuássemos juntos, mas morando em casas separadas. Não aceitei”, desabafa a professora.

Solteira há dois anos, Natylie diz que hoje entende que foi precipitada ao se casar tão rápido e que faltou uma preparação para que eles se adaptassem à vida a dois.

“A respeito da fase de adaptação, eu aprendi muita coisa. Principalmente sobre não ser apressada em tomar decisões e a não ter ansiedade. Aprendi que o namoro é fase de se conhecer, pois não nos conhecíamos e juntamos nossas ‘bagagens’ passadas, traumas, de forma muito rápida e desajeitada. Foi desastrosa mesmo. Decisões devem ser tomadas sempre com a razão apenas”, diz.

Hoje, ela tem se preparado para quando o próximo relacionamento chegar. “’A Terapia do Amor’ me ajudou em tudo, principalmente a ter equilíbrio emocional. Fui curada da depressão. Tenho muito mais segurança, autoconhecimento, autoestima elevada, tranquilidade. Ainda estou solteira, sem pressa ou ansiedade, mas pronta para começar um relacionamento verdadeiro com base no que aprendi e no que vou continuar aprendendo.”

A tal da paciência

Segundo o dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra adaptação significa “tornar apto”, “fazer com que uma coisa se combine convenientemente com outra; acomodar, apropriar”. Então, quando se diz que o casal passa por uma fase de adaptação após o casamento, significa que os cônjuges deverão ter paciência para lidar um com o outro até encontrarem a melhor forma para construir o casamento.

“Mesmo aqueles casais que namoraram durante anos e pensam que terão mais facilidade passam por essa fase. Viver esse momento é se desprender de formas antigas de se relacionar com o outro, de ambientes ou situações e aprender novas formas. E, para dar certo, é preciso muita dedicação de ambas as partes”, esclarece a psicóloga Alessandra Amorim.

A psicóloga clínica Viviane Rebechi diz que esse período deve ser encarado como a reestruturação de um novo eu. “Porque é necessário sacrificar o ego, desejos e vontades em prol do objetivo de formar uma família feliz. Por isso, é essencial o casal saber que passará pelo tempo de adaptação antes mesmo de se casar para aprender quais ferramentas pode usar para resolver os problemas que aparecerão.”

O amor inteligente não é questão de sorte, mas de escolha. Assim como se seleciona um curso para estudar e se estabelece um meta profissional para atingir, é preciso saber como se preparar para um casamento antes dele acontecer. Assim, depois do tão esperado “sim”, a união se torna mais leve e fácil.

Então, tenha sempre em mente a importância de preservar o bom diálogo e decida ser o melhor que puder para o seu cônjuge. “Um dos principais aspectos do amor é ter consciência do impacto que suas atitudes têm sobre a pessoa amada. É se colocar no lugar da outra pessoa. Se perguntar ‘eu gostaria de ser tratado como a trato?’ As pessoas confundem amor com o que o outro pode lhes oferecer. Isso é egoísmo. Amor de verdade nos faz pensar nos efeitos que nossos comportamentos têm sobre quem amamos. Eu amo, portanto, quero o bem-estar daquela pessoa. Se algo que eu faço gera medo, insegurança, raiva, tristeza, ciúme ou qualquer outro mal-estar em quem amo, preciso erradicar esse comportamento”, recomenda o casal Renato e Cristiane Cardoso, que realiza a “Terapia do Amor”, todas as quintas-feiras, no Templo de Salomão, em São Paulo, ou em uma Universal
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Colaborador

Por Ana Carolina Cury / Fotos: Fotolia, Demetrio Koch e Arquivo Pessoal / Arte: Edi Edson