A árdua luta contra o vício

Fabiana, José Carlos, Lucas e Henrique têm algo em comum: eles quase tiveram a vida destruída por causa das drogas. Saiba como essas pessoas superaram a dependência em álcool, cocaína, drogas sintéticas e crack

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Fabiana Santana Souza, de 34 anos (foto abaixo), começou a beber e a fumar cigarro quando tinha 12 anos, por influência de amigos. Aos 15 anos, ela engravidou do primeiro filho, mas o nascimento dele não foi suficiente para que ela mudasse seus hábitos. “Casei, mas me separei aos 17 anos e depois disso minha situação piorou.”

   Ela admite que preferia beber a cuidar do filho. “Meu filho foi criado pela minha mãe. Eu não dava atenção a ele”, conta. Alguns anos depois, ela se casou novamente e teve o segundo filho, mas a dependência continuou. “Casei, me separei e segui bebendo. Deixava meus filhos com a minha mãe doente para ir ‘encher a cara’, deixava tudo por conta do vício.” Depois de se relacionar com um homem que usava maconha, ela também passou a consumir a droga diariamente.

Fundo do poço
Fabiana acredita que o uso de maconha a levou a aumentar as doses de álcool. E, quanto mais ela bebia, mais a relação familiar se degradava. “Comecei a ficar na rua um, dois dias seguidos.” As brigas entre ela e a mãe se tornaram constantes. “Minha mãe estava doente, não conseguia andar direito, mas eu não ajudava em nada. A casa, às vezes, ficava toda bagunçada.”

Um pedido do filho mais novo a fez refletir sobre a forma que estava vivendo. “Meu fundo de poço foi quando meu filho mais novo pediu para levá-lo ao parque. Eu cheguei em casa meio-dia, depois de virar a noite bebendo, e disse que não podia ir ao parque porque ia dormir. Ele abaixou a cabeça, triste.”

Mudança
Fabiana tentou abandonar o álcool várias vezes, mas sempre voltava a beber. A situação gerava angústia e tristeza. Um dia, quando estava bebendo em um bar, ela recebeu um convite. “Eu vi um amigo e o chamei para beber, mas ele disse que tinha parado. Ele estava indo para o Templo de Salomão, então decidi ir com ele.” Ao chegar ao local, ela revela que percebeu algo diferente. “Senti que Deus estava comigo”, lembra. Depois, ela foi encaminhada ao Tratamento para a Cura dos Vícios. “Decidi obedecer aos ensinamentos e pedi forças a Deus. Quando dei por mim, eu não sentia mais vontade de beber nem de fumar”, diz.

Fabiana relata que passou a seguir as orientações recebidas em cada encontro na Universal. Ela deixou a bebida e conseguiu se aproximar dos filhos e da mãe. “Meus filhos hoje têm 9 e 19 anos e fico muito feliz em poder passar mais tempo com eles e levá-los para passear. Agora sou mais carinhosa, atenciosa”, afirma. Ela também é voluntária do grupo A Última Pedra, que oferece apoio a dependentes de drogas. “Meu prazer é ajudar as pessoas a sair dos vícios.” Com a superação da dependência, Fabiana ganhou novo fôlego no trabalho e voltou a estudar. “Além do ensino médio, faço cursos profissionalizantes. Minha vida está totalmente transformada.”

Drogas no Brasil
O consumo de álcool no Brasil acelerou em uma década. Entre 2006 e 2016, o consumo anual passou de 6,2 litros para 8,9 litros, um aumento de 43,5%. O brasileiro está bebendo acima da média mundial, de 6,4 litros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de ser uma droga permitida no País, o uso abusivo de álcool pode levar a problemas de saúde, como câncer e acidente vascular cerebral. Além disso, o consumo está ligado à violência, acidentes de trânsito e à desestruturação de famílias, como aconteceu com a de Fabiana.

O País também enfrenta problemas com drogas ilícitas. O Brasil bateu a marca de segundo maior consumidor de cocaína no mundo, de acordo com a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), organismo das Nações Unidas. E o mais assustador: nosso país é o maior consumidor mundial de crack. Por aqui, cerca de 2 milhões de pessoas já usaram a droga, segundo pesquisa da Unifesp.

É possível superar?
A estigmatização dos dependentes de drogas dificulta a vida de quem quer superar o problema. Quem afirma isso é o Pastor Murilo Dorini, responsável pelo grupo A Última Pedra no Templo de Salomão, em São Paulo (SP). “O Tratamento para a Cura dos Vícios oferecido na Universal abrange um público excluído. São pessoas consideradas casos perdidos, muitas já prometeram parar de usar drogas e tentaram internações, mas não tiveram sucesso. As famílias já perderam as esperanças.”

Ele diz que familiares de dependentes de drogas também podem ser beneficiados pelo tratamento. “Os familiares se tornam codependentes e sofrem com mentiras, roubos, agressões, eles se tornam ansiosos. Ao participar do tratamento na Universal, eles conseguem controlar o nervosismo e a preocupação. O desespero pode levar a família a tomar atitudes erradas, como ir atrás do dependente e brigar. Para ajudar o viciado, é preciso estar bem.”

Curiosidade
Durante muitos anos, José Carlos Favaretti Filho, de 37 anos (foto a esq.), não tinha alegria de viver. Ele relata que o inferno em sua vida começou aos 15 anos quando ele usou cocaína pela primeira vez. “Experimentei por curiosidade. Um amigo usava e me ofereceu.”

Ele passou a usar a droga aos finais de semana, mas acreditava que conseguiria manter o controle. Após quatro anos, entretanto, a dependência química ultrapassou os limites. A vontade de usar cocaína era cada vez maior. “Comecei a perder dias de trabalho por causa da cocaína.” Aos 26 anos, ele conta que decidiu fazer um roubo para conseguir dinheiro para comprar droga. O plano deu errado. “Fui pego em flagrante e fiquei três anos preso. Na prisão, conheci o crack.”

Tentativa de recomeço
Quando saiu da prisão, José Carlos tentou refazer a vida. Com a ajuda da mãe, ele conseguiu um emprego no centro de São Paulo (SP). Mas a felicidade da mãe dele durou pouco. “Conheci uma pessoa e começamos a andar na Cracolândia. Abandonei o trabalho e passei a usar crack todos os dias.” Foram seis anos usando crack e perambulando pelas ruas do centro paulistano. José Carlos afirma que às vezes voltava para casa para tomar banho ou comer. Durante esse período, ele emagreceu e perdeu a autoestima. “Eu fazia alguns furtos e roubos para sustentar o vício, mentia para os outros, pedia dinheiro na rua.” Por causa desses crimes, ele foi preso de novo.

Livre
Depois de passar novamente pela prisão, José Carlos diz que estava no limite. “Eu não queria mais usar drogas, me sentia um fracassado. Minha mãe sofria muito.” No fim do ano passado, ele tomou a decisão de procurar ajuda. Ele contou para a mãe que queria ir à igreja, mas ela não acreditou. “Eu fui para a Universal, mas antes passei na biqueira e comprei mais pedras de crack. Fiquei fumando na lateral da igreja, sentado na calçada. Fumei as pedras e depois entrei no fim da reunião. Só lembro do momento em que o pastor fez a oração, parecia que tinham tirado um peso das minhas costas. O desejo de usar drogas passou.”

Nova vida
Daquele dia em diante, José Carlos não deixou de frequentar as reuniões da Universal no Brás. “Participo das reuniões todos os domingos. Não adianta só arrancar o espírito do vício. Faço propósitos, correntes, participo de grupos. Decidi obedecer aos ensinamentos de Deus para me fortalecer e evitar recaída. Decidi fazer tudo para Ele, como eu fazia antes para a droga.” Após dois meses sem usar crack, a mãe de José Carlos fez uma compra de R$ 70 em doces para que ele revendesse. “Minha mãe estava com dúvidas quanto a minha mudança, mas me ajudou. Comecei a vender nas ruas, nos comércios e já tenho um estoque de mercadorias. Trabalho com doces caseiros, geleias, chocolates e quero abrir um negócio. Em quatro meses, minha vida mudou.”

Continuidade
O Pastor Murilo Dorini explica que, para superar a dependência, a pessoa precisa tomar uma decisão e estar disposta a mudar seus hábitos. “Após a libertação do espírito do vício, é preciso seguir os ensinamentos da Palavra de Deus, pois assim a pessoa fica blindada e o espírito do vício não volta à vida dela. O que sustenta a cura do vício é o Espírito de Deus. A continuidade no tratamento vai levar a pessoa a reconquistar o que ela perdeu, retomar a confiança e a vida dela.”

Festas
Lucas de Almeida Rodrigues, de 29 anos (foto abaixo), começou a usar drogas aos 14 anos. Na época, ele experimentou álcool e lança-perfume. Depois, usou maconha e cocaína. “Comecei a usar drogas para saber qual era a sensação. Você usa uma vez, acha engraçado, quer ir no embalo dos amigos. Eu não pensei no que poderia acontecer dez anos depois.” Lucas usava drogas aos finais de semana com os amigos. “Eu ia para raves e ficava dois, três dias fora de casa. Comprava ecstasy, LSD e outras drogas sintéticas.”

Efeitos colaterais
Aos poucos, a euforia inicial provocada pelas drogas foi dando lugar à tristeza e à angústia. “No começo a droga te dá prazer, mas logo isso passa e você se sente sozinho, vazio.” Ele conta que chegava a perder a consciência e não se lembrava do que acontecia nas noites em que saía. “Era algo fora do controle. Eu não sabia como tinha gastado meu dinheiro.” O comportamento instável o levou a brigar com os pais e o clima familiar ficou insustentável.

Última tentativa
Lucas já estava sem esperanças de mudar quando aceitou o convite de um colega para participar de uma reunião na Universal. “Eu decidi ir, mas não imaginava que seria tão libertador. Eu pisei no Tratamento para a Cura dos Vícios e em pouco tempo a vontade de usar drogas passou.”

A partir de então, Lucas começou a frequentar as reuniões todos os domingos. “Faço as correntes para me fortalecer. A cura interior não vem do dia para a noite, é semana a semana. Todo domingo recebo uma direção diferente na Cura dos Vícios e levo para a vida pessoal, sentimental e financeira. O tratamento me faz um homem cada dia melhor”, comemora ele, que conseguiu um novo emprego. “Perdi 14 anos da minha vida por causa das drogas. Hoje posso dizer que tenho paz, sou feliz e reconquistei a confiança da minha família”, finaliza ele, que está há um ano sem usar drogas.

Vazio
Henrique Almeida, de 33 anos (foto a dir.), também começou a usar álcool e cigarro ainda na adolescência. Aos 17 anos, ele conta que se sentia vazio e triste e procurou a maconha para aliviar a angústia. “A maconha me trazia uma falsa felicidade, mas a sensação de vazio voltava depois ainda mais forte.” Já adulto, Henrique buscava a alegria no álcool. A bebida o deixava mais violento e o colocava em situações de risco. “Com o álcool eu ficava valente e saía para arrumar briga.”
Entretanto ele se sentia isolado quando o efeito do álcool passava. “Eu era inseguro, tinha baixa autoestima. Não tinha perspectivas nem esperança.” Aos 27 anos, Henrique encontrou outro vício: a pornografia. “Eu não tinha limites, via pornografia no celular e no notebook durante várias horas por dia.”

Mentira
Há cerca de três anos, Henrique resolveu mudar o rumo de sua vida. “Eu percebi que estava vivendo uma mentira. A relação com a minha família tinha esfriado. Sabia que aquilo me levava para o mal, então resolvi procurar a Universal”, detalha ele, acrescentando que a família já frequentava as reuniões da igreja.

Para Henrique, tomar uma decisão foi fundamental. “Passei a seguir todos os ensinamentos de Deus e nunca mais deixei de ir às reuniões. A superação do vício me trouxe de volta à vida e hoje ajudo outras pessoas com o grupo A Última Pedra.”

Alegria sem drogas
Fabiana, José Carlos, Lucas e Henrique conseguiram abandonar as drogas com a ajuda do Tratamento para a Cura dos Vícios oferecido pela Universal no Brás, em São Paulo. Eles já tinham tentado deixar as drogas outras vezes, sem sucesso.

Por que com a Universal foi diferente? Segundo o Pastor Murilo Dorini, o diferencial é o apoio espiritual. “Nós explicamos que o vício é um problema espiritual, um vazio muito grande que a pessoa preenche com as drogas. Quando o espírito do vício é arrancado, a pessoa não tem mais aquele vazio. O forte do nosso trabalho é tirar a pessoa do inferno e dar a ela alegria e razão de viver sem a droga”, argumenta ele, que já usou drogas e superou o problema há 11 anos.

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Colaborador

Rê Campbell / Fotos: Demetrio Koch, Reprodução