Médium João de Deus é acusado de abuso sexual

O homem seria responsável por, pelo menos, 200 assédios. Entenda o caso

Imagem de capa - Médium João de Deus é acusado de abuso sexual

Mais de 200 mulheres já formalizaram denúncias de abuso sexual contra o médium João de Deus desde a última sexta-feira (7). Nesta  data, o programa “Conversa com Bial” (Rede Globo), revelou casos de abusos sexuais ligados ao médium brasileiro João Teixeira de Faria, o João de Deus.

Em uma conversa cautelosa e marcada pelos traumas, quatro mulheres concederam entrevistas sobre os abusos sexuais que dizem ter sofrido de João de Deus. Além delas, mais seis mulheres apresentaram suas denúncias à equipe de reportagem.

Das quatro entrevistadas, duas escolheram não se identificar por medo. As outras duas são a coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Lous e a americana Amy Biank.

Abuso em nome da fé

De acordo com as denúncias, João de Deus utilizava da boa fé das pessoas para satisfazer-se sexualmente. Isso sem consentimento de suas vítimas.

“Ele pegava a minha mão para colocar no pênis dele. Eu tirava a mão e ele falava ‘Você é forte! Você é corajosa. O que você está fazendo tem um valor enorme’. Eu não estava fazendo nada. Eu estava ali sendo abusada, sabe?”, recordou uma das vítimas que não quis se identificar.

Outra vítima afirma que o médium abusava sexualmente das mulheres em nome da “pureza”. Segundo ela, o líder religioso dizia que o ato de tocar o órgão genital dele daria energia a ela.

Além delas, outra mulher revelou ter sido submetida a fazer sexo com o médium:

“Eu comecei a chorar e a ficar desesperada. Eu só pensava assim: como é que eu vou sair daqui?”.

Saiu da Europa e foi abusada no Brasil 

A holandesa Zahira Lieneke decidiu vir a público denunciar João com o intuito de encorajar outras mulheres que possam ter sido abusadas por ele:

“Eu realmente espero poder ajudar outras mulheres a saírem dessa sombra, porque nós não precisamos sentir vergonha. Ele e todas as pessoas que o protegem para que ele continue fazendo o que faz é que devem se envergonhar.”

Há quatro anos, Zahira Lieneke viajou ao Brasil especialmente para se consultar com João. Em sua consulta, uma experiência traumática:

“Ele agarrou a minha mão direita e colocou para trás de mim, na calça dele. Eu congelei e pensei: ‘Por que isso está acontecendo? Por que eu tenho que tocar no seu pênis para que eu possa ser curada?’ Ele tinha um grande sofá no banheiro. Ele me puxou até lá e me colocou de joelhos na frente dele”.

Entenda o escândalo

Desde a exibição das entrevistas cresceu exponencialmente o número de denúncias realizadas. Até mesmo uma ex-funcionária do médium o acusa de ter abusado sexualmente dela. Segundo o jornal Correio Braziliense, há notícias de que a própria filha do médium o estaria processando por abuso sexual continuado. De acordo com a promotora Gabriela Manssur, todas as acusações são semelhantes.

João de Deus, a casa espírita em que atua e outros funcionários também estão sendo investigados. Isso porque, caso alguém tenha colaborado para a realização dos crimes, também será indiciado.

O médium vem sendo acusado de abuso sexual há, pelo menos, oito anos. Em 2012 ele foi inocentado em um caso por falta de provas. De acordo com as testemunhas ouvidas, a princípio João de Deus realizava suas seções espirituais na presença de outras pessoas que buscavam cura. Todavia, as mulheres que chamavam sua atenção eram convidadas a retornar posteriormente para um atendimento individual em busca da cura almejada.

“Você de certa forma se sente especial e pensa: ‘Eu vou receber a cura. Uau! Finalmente isso está acontecendo’”, disse Zahira Lieneke.

Além dessas denúncias, João de Deus também é investigado por outros crimes que o Ministério Público de Goiás (responsável pelo caso) não divulgará por enquanto.

Em nota, a assessoria de imprensa do médium disse que repudia “qualquer prática imprópria em seus atendimentos”.

Denuncie!

A força-tarefa responsável pelas investigações começou a atuar na segunda-feira (10) e reforça a importância de realizar a denúncia. Serão quatro promotores e dois psicólogos atuando.

“Sabemos que há vítimas no Brasil inteiro e fora do país”, afirma o promotor Luciano Meireles. “O sigilo desse depoimento será mantido. A vítima não será exposta e, se for necessário, nós providenciaremos segurança para ela.”

Caso você tenha sido vítima do médium ou da entidade em que atua pode realizar a denúncia pelo e-mail denuncias@mpgo.mp.br, que foi criado exclusivamente para esse caso. As denúncias também podem ser realizadas em qualquer delegacia do país.

O promotor Meireles explica que as investigações buscam outras provas, mas apenas o depoimento de vítimas pode ser suficiente para fechar a casa em que o médium atua e levá-lo à prisão.

Assista à reportagem completa sobre o caso realizada pelo Jornal da Record:

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Colaborador

Rafaela Dias / Foto: Alan Marques/ Folhapress