Casos de racismo que viralizaram na internet

Ativista político comenta três fatos recentes de ataques preconceituosos nos Estados Unidos, Brasil e Espanha

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Veja três eventos a seguir e avalie se é possível estabelecer alguma ligação entre eles. O primeiro aconteceu em uma praça em Bilbao, na Espanha, no início deste mês. Um garoto negro tenta brincar no escorregador que há no local, mas é impedido por outras crianças, todas brancas. A mãe dele resolve tirar o menino dali e vão para outro brinquedo dentro do playground. As meninas descem do escorregador e passam a mão na cabeça do garoto de forma implicante. A mãe e o menino decidem ir embora.

O caso seguinte foi na Filadélfia, nos Estados Unidos. Dois homens negros foram detidos dentro de uma loja da Starbucks em meados deste mês. O gerente chamou a polícia porque os rapazes estavam no estabelecimento sem consumir nenhum produto. Eles foram denunciados por “invasão” e por “causar distúrbios”. Vale ressaltar que ir a uma cafeteria como essa e usar a internet sem consumir nada é ato corriqueiro, inclusive no Brasil.

O terceiro caso aconteceu no Brasil, mais especificamente em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. No final de março, a modelo Samen dos Santos participava do concurso para a escolha da miss daquele Estado e foi alvo de ataques no Instagram, com frases do tipo: “não, não representa, a mulher gaúcha é branca e linda, não negra”.

Ponto em comum


Esses três acontecimentos viralizaram na internet. Para o empresário e ativista político paulista Marco Antônio Batista, de 55 anos (foto abaixo), além desse aspecto, eles têm outro ponto em comum: “há racismo em todos eles. São diferentes, mas a base é a mesma. No primeiro, é velado. Você sabe que se trata disso, mas não tem muitas provas para confrontar. A grande probabilidade é que, se fosse um menino loiro, de olhos claros, em vez de um menino negro, talvez essas crianças o olhassem como um igual e o tratamento fosse diferente. Nos outros dois casos, é mais fácil identificar se há racismo, pois essa atitude fica escancarada”, avalia.

Sistema

No entendimento dele, as pessoas não nascem racistas, mas são ensinadas a ser assim, pois há um sistema que perpetua essa prática. “Com isso, a cor da pele é colocada como um impeditivo para a ascensão aos melhores postos de trabalho, inclusive à educação e à riqueza. Muitas pessoas falam que o racismo é uma questão de classe, quem tem dinheiro é visto de uma maneira e quem não tem é visto de outra, mas a cor da pele acentua essas duas posições”, pondera.

Diferenças

Um estudo da Oxfam, divulgado no final do ano passado, exemplifica que a questão é profunda. Ele projetou que, se as diferenças econômicas e sociais se mantiverem no Brasil, somente em 2089 os negros ganharão como os brancos. Para Batista, é óbvio que é preciso fazer algo. “Isso é difícil, é lento, gradativo. Cada passo que conseguimos dar, muitas vezes o sistema dá dois para trás. Haja vista a quantidade de candidatos que a cada eleição não se importa com a questão racial em um país em que mais de 50% da população é negra”, esclarece.

Estereótipos

Segundo Batista, os casos da modelo e da prisão dos rapazes nos Estados Unidos mostram que, mesmo com os avanços na luta pela igualdade de direitos econômicos e sociais, ainda é preciso avançar mais. “Aqui no Brasil, quando você pensa no negro, nunca vai imaginar que é uma pessoa que mora no Rio Grande do Sul, embora existam muitas pessoas negras lá. Todo mundo vai pensar na Xuxa ou na Gisele Bündchen. Vai ser uma loira, porque esse é o estereótipo. E isso está no nosso imaginário. O racismo não permite que se você conheceu uma menina negra ela possa ser do Rio Grande do Sul. Este é o lugar social que a cor da pele dá e é contra isso que temos que lutar”, adverte.

Problema de quem?

Por outro lado, Batista afirma que o problema do racismo não é somente do negro. “É da sociedade. Apesar de a população negra hoje se manifestar mais, acredito que ainda não desenvolvemos nem evoluímos mais porque o branco não se colocou nessa luta. O que ajudou, por exemplo, Martin Luther King na luta dos direitos civis nos Estados Unidos é que lá os brancos, não todos, marcharam de mãos dadas com os negros. Nessa discussão, para que o negro consiga ser um protagonista, precisamos de homens e mulheres brancos nesse sentido. Eu, como homem negro, sei o que preciso fazer para me defender, agora eu preciso de parceiros. Por que senão o resultado do racismo vai atingir a todos. Atinge de maneira diferente, mas, no final das contas, o que sobra talvez seja só a violência. E todos vão perder com isso”, observa.

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Colaborador

Por Eduardo Prestes/ Fotos: Reuters, Reprodução e Demetrio Koch