SUS: mais de 900 mil brasileiros aguardam uma cirurgia eletiva

A fila do descaso já ultrapassa o período de 10 anos para alguns pacientes

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Ser diagnosticado com um problema de saúde é difícil. Quando existe a necessidade de um procedimento cirúrgico, a situação se torna ainda mais angustiante, principalmente quando o paciente depende da rede pública para receber atendimento. Já imaginou esperar 10 anos ou mais para a realização de uma intervenção cirúrgica? Essa tem sido a dura realidade da grande parcela de brasileiros, segundo levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Divulgada em dezembro passado, a pesquisa mostrou que os pedidos estagnados para a realização de cirurgias eletivas, classificadas como não urgentes, atingiram aproximadamente 904 mil solicitações no Brasil.

De acordo com o levantamento, ao menos 746 solicitações para cirurgias eletivas estão na fila de espera há mais de 10 anos. Esse longo prazo pode agravar a saúde dos pacientes e tornar um quadro clínico que era eletivo em urgente ou mesmo levar o doente à morte. Quanto maior é a espera, mais elevados são os riscos e os gastos com o paciente.

Os dados apresentados pelo CFM são parciais e correspondem a pedidos cirúrgicos divulgados por Secretarias de Saúde de apenas 16 Estados e 10 capitais, sendo, respectivamente, 801 mil e 103 mil pedidos de intervenções.

O número de pacientes que aguardam uma cirurgia eletiva no Sistema Único de Saúde (SUS), portanto, é ainda maior, pois muitos Estados e capitais não enviaram os dados ao CFM, alegando não ter as informações organizadas ou computadorizadas, fato que comprova o descaso com a saúde pública.

Nessa imensa fila de espera e agonia, em que sofrem pacientes e familiares, os procedimentos cirúrgicos pendentes mais solicitados são: catarata (113.185), correção de hérnia (95.752), retirada da vesícula (90.275), varizes (77.854) e de amígdalas ou adenoide (37.776).

Entre os pacientes que aguardam o chamado da rede pública, cerca de 70 mil são crianças e adolescentes de zero a 19 anos.

De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), cerca de 150 milhões de usuários dependem exclusivamente dos serviços do SUS em todo o País.

Falta de investimento e recursos

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgados em maio de 2017, os investimentos com saúde no Brasil estão abaixo da média mundial, que em alguns países chega a ser três vezes maior que o índice brasileiro. Em 2014 (ano do último levantamento da OMS), a média no País era de 6,8% do orçamento público do governo federal. A média mundial era cerca de 11,7%.

Mesmo em alguns países em desenvolvimento, o índice foi acima do dado nacional, como é o caso do Uruguai, que chega a 20%; e Costa Rica, com 23% de investimentos.

Os dados de procedimentos cirúrgicos pendentes revelam o grave diagnóstico da saúde pública. O trabalhador brasileiro, que paga os seus impostos em dia, vive à mercê de um sistema precário e desorganizado. Gestores e governantes não priorizam a saúde pública – que enfrenta um verdadeiro descaso – e acabam prejudicando a qualidade dos serviços prestados. Serviços esses que são um direito de todo e qualquer cidadão brasileiro.

Em 2018, ano de eleições, o brasileiro novamente ouvirá discursos com promessas de melhorias e de progressos. Para começar, o cidadão poderia exigir dos governantes um sistema público de saúde tão bom e eficiente quanto o sistema privado do qual esses próprios governantes dispõem.

Pense nisso.

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Colaborador

Por Kelly Lopes/Foto: Folhapress