Educação insuficiente

Mais da metade das crianças brasileiras ainda têm dificuldade em leitura e matemática. Com a aprovação da base curricular, País ganha novo desafio: garantir ensino de qualidade para todos

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Entra ano, sai ano e o Brasil continua atrasado quando o assunto é educação. Mais da metade das crianças brasileiras do 3º ano do ensino fundamental têm nível insuficiente em leitura e matemática. Isso significa que elas têm dificuldade em interpretar textos, fazer contas e reconhecer o valor monetário de uma cédula. O dado é da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), divulgado em outubro pelo Ministério da Educação (MEC).

Segundo o levantamento, 54,73% dos alunos tinham nível de leitura insuficiente em 2016 e 45,27% tinham nível suficiente. No caso da matemática, 54,46% apresentaram desempenho abaixo do adequado, enquanto 45,53% tiveram nível suficiente em 2016. A pesquisa foi feita em novembro de 2016 em 48 mil escolas públicas, com a participação de mais de 2 milhões de estudantes matriculados no 3º ano do ensino fundamental. Quase 90% dos estudantes tinham 8 anos de idade ou mais.

Durante a divulgação dos dados, o governo anunciou medidas da nova Política Nacional de Alfabetização, que prevê o acesso de professores a cursos de mestrado e a presença de um professor auxiliar nas salas de aula para ajudar no processo de alfabetização. Em entrevista à Agência Brasil, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, classificou como “sofrível” os resultados da avaliação. “Precisamos dar apoio para que essas crianças tenham um mínimo de condições para recuperar e reconstruir essas estruturas e prosseguir. Do contrário, continuaremos enxugando gelo.”

Mudanças

Ao longo de 2018, as escolas e redes de ensino deverão rever e adaptar seus currículos para começar a implementar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2019. Homologado pelo Ministério da Educação no fim deste mês, o documento estabelece o que deve ser ensinado nas escolas públicas e privadas ao longo do período da escola básica, compreendido por três etapas: educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

Uma das mudanças é a antecipação da alfabetização das crianças até o 2º ano do ensino fundamental. Hoje, as diretrizes curriculares determinam que o período da alfabetização deve ser organizado até o 3º ano desta mesma etapa, embora muitas escolas particulares já realizem a alfabetização até o 2º ano.

Direito de todos

A aprovação da base curricular não significa a solução dos problemas do Brasil. O desafio é garantir que todos os Estados e cidades tenham condições de implementar essas diretrizes. O País precisa garantir o direito de aprender a todo cidadão – e não apenas àqueles que podem pagar por uma escola particular.

A educação é o caminho para enfrentar a crise econômica e diminuir as desigualdades que obrigam muitos estudantes a abandonar os estudos, enquanto apenas a pequena parcela da população mais abastada ocupa as vagas nas melhores universidades. Não adianta só criar novas vagas. É preciso investir em qualidade, como fazem os países no topo do ranking de desenvolvimento humano da Organização das Nações Unidas (ONU), como Noruega, Austrália, Alemanha e Cingapura. E nós, como cidadãos, devemos cobrar educação de qualidade dos governantes e acompanhar mais de perto a educação de nossas crianças. Nosso futuro agradece.

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Colaborador

Por Rê Campbell / Fotos: Fotolia