A verdadeira “máscara” do carnaval

Muitos usam esse período para arruinar suas vidas, como se ele fosse uma “desculpa oficial” para perder a cabeça. Mas depois vêm as consequências, quase nunca boas

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Este não é mais um texto só para ensinar que o carnaval tem origem pagã. Nem para discutir o teor de músicas que viram sucesso instantâneo – e, felizmente, desaparecem como apareceram. E nem para dizer de uma forma “crente” que algumas pessoas (muitas, na verdade) forçam a barra muito além da definição de vulgaridade, enquanto poucas tentam ter uma diversão saudável. Você já sabe disso tudo faz tempo.

No carnaval de 2016 foram mais de 1,7 mil os acidentes só nas rodovias federais, com centenas de feridos graves ou mortos. E os acidentados que agora portam deficiências se questionam todos os dias se precisava ter sido assim. Sem falar nos entes queridos dos que perderam a vida. Embora isso seja horrível, também não é o principal foco da matéria.

O negócio aqui é pensar sobre o que faz tanta gente se alienar de tudo para, durante alguns dias (o mês todo em alguns lugares, reconheçamos), ficar “largados” em relação a compromissos, reputação, saúde, autopreservação física e espiritual. E tome gente chapada por álcool e outras drogas que não se lembra de com quem transou, quem beijou, o que fez e o que fizeram com ele (a). E obrigada a viver dali em diante com problemas que poderiam ter sido evitados.

Muitos “vão com a galera” para que sua imagem não fique ruim perante todo mundo. Alguns fingem gostar de coisas de que nem gostam tanto só para “socializar”. Mas a turma, depois que algum problema sério acontece, está onde? Para a gandaia todo mundo está ali, mas, para ajudar num momento difícil, lá se foram os amigos.

Feliz é aquele que pelo menos usa essa folga de forma sábia: descansando, visitando a família ou aproveitando o feriado de forma consciente.

A escolha é sua

Claro que há quem procure apenas boa diversão sem se deixar contaminar pela porcaria cultural, comportamental e espiritual. Porém, muitos vão é atrás de coisas ruins mesmo. Propositalmente. Experimentam drogas, metem-se em brigas sem sentido, causam estorvo para os demais cidadãos que nem em festa estão pensando.

E isso não é mera reflexão nem teoria pura. Em São Paulo mesmo, a maior cidade do Brasil, inventaram há alguns anos de levar festas de carnaval a bairros em que antes elas nem sequer existiam. Resultado? Depredações, vandalismo, violência, barulheira, roubos, furtos, enquanto os moradores locais, que gostariam de gozar do merecido repouso, não aguentam ficar em seus lares.

Venhamos e convenhamos, sem concessões falsamente patrióticas: os brasileiros (não todos, felizmente) não são as criaturas mais chegadas do planeta a respeitar os direitos do próximo. Podem reclamar, se quiserem, por isso estar escrito aqui, mas é fato. A maioria se esquece de que o direito de um termina onde começa o do semelhante. Ou, mesmo que não se esqueçam, simplesmente não ligam mesmo. Mas parece que no carnaval conseguem piorar isso ainda mais.

Grande parte da mídia, inclusive, nessa época vende uma imagem de harmonia, de que tudo é lindo e tropicalmentre colorido para todos daqui e do exterior, quando, na verdade, vidas físicas e espirituais se perdem nessa época simplesmente porque alguém se recusa a usar a razão e cede à sedução barata da bandalheira.

Claro, há sempre alguém defendendo que o período carnavalesco é uma válvula de escape para as frustrações e o estresse do resto do ano. Alívio disso tudo é uma coisa; alienação para fazer de conta que tudo está bem, apesar da realidade que nos cerca, e que entregar-se a atos praticamente animalescos é “curtir a vida”, é outra bem diferente.

Ilusão intencional

Após a Quarta-Feira de Cinzas tudo volta ao “normal”? Não, talvez até voltaria, mas tem gente que resolve se esquecer disso e arranja problemas até bem piores que os anteriores.

É, muitos não vão atrás dos bailes só pelo prazer de uma dança, de uma música, de uma expressão cultural. Querem é “ficar doidões” com entorpecentes de todo tipo e a experiência que era para ser uma festividade fica para nunca. O que era para ser relaxamento e alegria deixa um saldo de mortes, deficiências, tristeza, doenças sexualmente transmissíveis (algumas incuráveis e até fatais), gravidez indesejada… “Marcas” permanentes nada bonitas como as temporárias máscaras coloridas ou fantasias.

Durante alguns dias, parece que há uma “desculpa oficial” para não usar a cabeça. Para deixar de parecer um ser humano dotado de raciocínio e de razão.

Mas a vida cobra seu preço. Ela não aceita desculpas, “oficiais” ou não. É baseada em resultados práticos de nossas escolhas.

Obviamente, todos contamos com o perdão Divino por nossas falhas, caso o arrependimento seja sincero. Mas também somos dotados de cérebro e podemos escolher, antes mesmo de uma desculpa esfarrapada disfarçada de feriado, não nos entregarmos a uma falsa festa que, se não trouxer algo de ruim, também está longe de render boas consequências.

Os arrependidos que o digam. Que saibamos, ninguém gostaria de estar no lugar deles.

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Colaborador

Por Marcelo Rangel / Foto: Fotolia