thumb do blog Bispo Macedo
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O Espírito Santo no Japão

Imagem de capa - O Espírito Santo no Japão

O bullying é uma triste realidade de muitos japoneses e estrangeiros. A jovem Masumi, de origem japonesa, relata o sofrimento que viveu durante a infância. Os traumas influenciaram sua vida e ela se isolou do convívio social.

“Meu sofrimento começou quando eu ainda era criança, desde que iniciei na creche até a idade escolar fui vítima de bullying, e sofri muito por causa dos maus tratos.
A pressão dos professores e as constantes brigas dentro de casa me tornaram uma pessoa muito triste e estressada. Constantemente me perguntava: – Por que e para que estou viva?
A minha vida não fazia nenhum sentido…” – lembra Masumi.

Sua mãe foi quem percebeu a gravidade do seu estado emocional e a levou ao hospital, onde ela foi diagnosticada com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ou Distúrbio Obsessivo Compulsivo (DOC).
Ela não se portava como uma pessoa normal e foi tratada como portadora de deficiências, tendo em posse a carteira para pessoas deficientes ou pessoas especiais.
“Comecei a me preocupar com o que as pessoas estavam pensando sobre mim e acabei me tornando uma pessoa fechada. Por um ano e meio me tornei um Hikikomori.” – relata

Captura de Tela 2015-09-01 às 23.53.04Hikikomori é um termo usado para designar pessoas com comportamento de extremo isolamento doméstico. Os hikikomoris se retiram completamente da sociedade, evitando contato com outras pessoas. Passam o tempo dormindo durante o dia e jogando games ou navegando na internet durante a noite, porque para elas é mais fácil interagir em um mundo virtual do que no mundo real, onde os esforços são necessários. Um hikikomori tem total consciência do estado em que se encontra, mas o seu retorno à sociedade é algo complicado. E quanto mais tempo permanece no isolamento, mais difícil é o retorno para convívio social.
“Foi assim que vivi um ano e meio da minha vida! Me afastei das pessoas, tomava banho a cada 2 meses, não gostava da minha família e não queria me comunicar com ninguém.” – relembrou a jovem.

Desejando ajudar a jovem Massumi, sua família passou a buscar ajuda nas religiões japonesas, participando e pedindo por ela. Porém, sua situação não mudava e veio a piorar com a separação dos seus pais.
“Após a separação dos meus pais meu problema piorou, passei a viver no mundo virtual e navegando na internet conheci um rapaz e me tornei totalmente dependente dele, o meu mundo era ele”, conta a jovem.
Cansada dos problemas e cheia de questionamentos, os pensamentos e o desejo de morte eram constantes.

Massumi-depois“Eu queria morrer e por isso cortei meu pulso por varias vezes. Por causa desta situação que não mudava, acabei sendo internada novamente, e mesmo tomando fortes medicamentos, a minha situação só piorava.
O hospital decidiu me isolar das pessoas normais, e eu não podia fazer nada, me tornei uma prisioneira. Estava só e sofrendo muito, eu só queria que alguém me ajudasse!
Ao retornar para casa, ela conheceu algumas pessoas navegando na internet e marcaram para sair. E naquele dia algo inusitado aconteceu.

“Encontrei com um casal de amigos na estação e minha amiga começou a passar muito mal, chegando a cair no chão. Fomos atendidos por pastores e evangelistas do grupo Anjos da Noite, que oraram por nós e nos levaram até a igreja. Nunca me esquecerei daquele dia, foi quando pense: Agora minha vida vai mudar”, relata Masumi.

Comecei a participar das reuniões, chegando a ir diariamente à igreja. Eu queria aprender mais, e aprender mais rápido. Ouvindo as mensagens, passei a crer e dentro de mim tive a certeza de que a minha vida mudaria.
Tomei atitudes mediante a fé e como resultado vi muitos milagres acontecendo. Em 2 meses parei de tomar os remédios para a depressão, dentre outros remédios que tomei durante 7 anos. Parei de fumar, o desejo de morrer saiu de dentro de mim, o vazio que havia no meu coração foi preenchido, fui liberta da depressão e do sentimento que me aprisionava àquele rapaz.
Convivo normalmente com as pessoas ao meu redor e com a minha família, que percebeu a mudança em mim, hoje sou outra pessoa e estou muito feliz!

Aqui foi o único lugar onde pude encontrar a felicidade e receber a mudança na minha vida.
A cada reunião recebo força e encontro pessoas que me ajudam e apoiam.
Continuarei na fé, buscando a Deus na Igreja Universal.” – conclui Nozue Masumi.

Dia de volta às aulas é o que mais tem suicídio de jovens no Japão

No Japão, a volta às aulas no segundo semestre é marcada por tragédias: segundo o governo japonês, o dia 1º de setembro é historicamente o dia do ano em que o maior número de jovens com menos de 18 anos comete suicídio.

De 1972 a 2013, mais de 18 mil crianças se suicidaram. Em média anual, foram 92 no dia 31 de agosto, 131, no dia 1º de setembro e outros 94, no dia 2.
No ano passado, o Japão registrou pela primeira vez o suicídio como primeira causa de morte para pessoas entre 10 e 19 anos. A volta às aulas em abril também marca um pico no número de mortes de crianças.

Assustado com as estatísticas, um bibliotecário da cidade de Kamakura causou polêmica ao tuitar recentemente:
“O segundo semestre está quase chegando. Se você está pensando em se matar, porque você odeia a escola tanto, por que não vem para cá? Temos quadrinhos e romances leves. Ninguém vai brigar com você se passar o dia inteiro aqui. Lembre-se de nós como um refúgio, se estiver pensando em escolher a morte em vez da escola.”

Em apenas 24 horas, a nota de Maho Kawai foi retuitada mais de 60 mil vezes.
A iniciativa foi criticada, já que na prática se trata de um funcionário municipal incentivando crianças a não irem à escola. Mas para muitos, ele pode ter ajudado a salvar vidas.

“O meu uniforme escolar parecia tão pesado quanto uma armadura. Não podia aguentar o clima da escola, o meu coração disparava. Pensei em me matar, porque teria sido mais fácil”, escreveu o aluno Masa, cujo nome real não pode ser publicado para preservar a sua identidade.
Ele afirma que, não fosse a mãe compreensiva, que o deixou ficar em casa “matando aula”, teria se suicidado no dia 1º de setembro.

A declaração de Masa foi dada a um jornal para crianças que decidem não ir à escola.
“Começamos essa organização não-governamental há 17 anos, porque em 1997, tivemos três incidentes chocantes envolvendo alunos de escolas pouco antes do começo das aulas”, afirmou o editor da publicação, Shikoh Ishi.

Duas das crianças citadas por Ishi se mataram no dia 31 de agosto. Mais ou menos na mesma época, outros três alunos atearam fogo à escola que frequentavam, porque não queriam voltar às aulas.
“Foi aí que percebemos como havia crianças desesperadas e queríamos dar o recado de que não existe esta escolha entre escola ou a morte”, disse Ishi.

Apoio a suicidas

O governo japonês também lançou uma série de iniciativas – entre linhas telefônicas e outros serviços – para dar apoio a potenciais suicidas de todas as idades.

Mesmo assim, na semana passada, um jovem de 13 anos se matou no dia da cerimônia de abertura do segundo semestre.
O próprio Ishi chegou muito perto de se matar nesta idade.

“Me sentia desamparado, porque odiava todas as regras, não só as da escola, mas também aquelas entre as crianças. Por exemplo, você precisa observar cuidadosamente a estrutura de poder para evitar os bullies”, disse. “Mesmo assim, se você decide não se juntar a eles, corre o risco de virar a próxima vítima.”

Para ele, no entanto, o problema maior é a competitividade da sociedade japonesa. Ele próprio começou a pensar em suicídio quando não conseguiu entrar em uma escola de elite.
“O pior de tudo é uma sociedade competitiva, na qual você tem que derrotar os seus amigos.”

Ishi acrescenta que, em japonês, o termo usado para exames de admissão inclui a palavra “guerra”.
O que o salvou da morte foi que os seus pais encontraram o bilhete de suicídio e não o obrigaram a ir à escola.
“Quero que as crianças saibam que você pode escapar da escola, e que as coisas vão melhorar.”

Mariko Oi
Da BBC News