Onde está a mão de obra qualificada?

Oferta de empregos aumenta, mas falta pessoal especializado em muitas áreas

O Brasil é o nono país com mais falta de mão de obra qualificada, de acordo com um estudo deste ano realizado pela consultoria de recursos humanos norte-americana Manpower, que ouviu 40 mil empregadores de todos os setores em 40 países e territórios.

Contudo, enquanto 81% dos empregadores brasileiros responderam que encontram dificuldades para contratar trabalhadores com a qualificação necessária, a oferta de empregos com carteira assinada aumentou no Brasil nos últimos meses. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego registrou taxa de 9,3% no segundo trimestre (o que representa cerca de 10,1 milhões de pessoas). É a primeira vez em mais de seis anos que essa porcentagem não está na casa dos dois dígitos.

Em uma análise superficial, é fácil supor que, se há mais oferta de empregos, mais profissionais especializados estariam empregados. Então, por que acontece o contrário? Em outra pesquisa, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 90% das empresas informaram que o maior desafio atualmente é encontrar técnicos capazes de desenvolver funções específicas.

Os setores com mais dificuldade de encontrar mão de obra especializada são, de acordo com a CNI, tecnologia da informação, atendimento ao cliente, logística e operações, produção (operadores, técnicos e engenheiros), vendas (marketing), administrativo, gerencial e pesquisa e desenvolvimento.

Ensino defasado
O estudo da CNI aponta não só a falta de pessoal com ensino superior ou técnico para determinadas funções, mas também a de candidatos com habilidades que não dependem só do ambiente educacional: raciocínio e resolução de problemas, resiliência e adaptabilidade, iniciativa, confiabilidade e autodisciplina, espírito colaborativo e trabalho em equipe. Além disso, a pesquisa deixa evidente a dificuldade da atual geração de entender a necessidade de respeitar hierarquia e regras.

E não é só a defasagem do ensino superior ou técnico que interfere nesse cenário. Segundo a CNI, as causas ocorrem mais cedo, pois a formação do ensino médio no País deixa a desejar. Conforme o mais recente Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), algumas áreas de ensino não correspondem às expectativas, como matemática, ciências e leitura (uma categoria de inquestionável importância).

A CNI aponta também que, apesar de algumas empresas já investirem há muito tempo na capacitação de seus funcionários (dando a eles oportunidades de estudo dentro e fora da empresa), algumas ainda engatinham nesse sentido. A entidade alega que capacitar os próprios colaboradores não só vai ao encontro das necessidades da empresa como também os alinha com os valores e a cultura dela, o que é bem melhor do que gastar valores astronômicos para procurar externamente o “trabalhador perfeito” que já chegue pronto.

De acordo com os dados da pesquisa, 85% das empresas passaram a realizar a capacitação nas próprias instalações e 42% fora dela, como em faculdades ou cursos externos custeados
pelo empregador.

Não à acomodação
Os funcionários que não se acomodam e aproveitam oportunidades passam a se sentir mais confiantes e reconhecidos, o que influencia positivamente na sua produtividade, conclui a CNI, para a qual investir na capacitação dos colaboradores deve compor a meta de qualquer empresa que possa arcar com essa despesa (que será revertida em lucros no prazo oportuno). Ou seja, não se trata de mero gasto, mas de investimento.

Essa iniciativa mostra que são os funcionários que acabam escolhendo se acomodar ou crescer e torna o emprego mais atraente para candidatos a vagas que disponibilizam essa opção de evolução profissional, cita o estudo. Candidatos internos ou externos tendem a cair menos na acomodação quando as vagas mostram mais atrativos não só em termos de ganhos salariais, mas na evolução como um todo.

A CNI aconselha, inclusive, que estagiários deixem de ser vistos apenas como mão de obra barata e sejam capacitados para uma real efetivação, com a vantagem de estarem livres de “vícios” e condutas arraigadas de outras organizações – não que um candidato veterano de outra procedência também não possa ser incluído nessa capacitação, que fique claro.
Outro tipo de análise que fica mais fácil fazer é ver quem já tem determinadas especializações que podem ser aproveitadas em outros setores, pois pode haver algum colaborador com essa condição em funções abaixo de sua real capacidade.

Influência direta da política

Há outro candidato que merece ser visto nessa questão: o político, já que estamos em ano de eleições. Aqueles com um histórico de corrupção e que levaram à estagnação econômica e social dificilmente têm propostas concretas para fazer as empresas e o trabalhador em geral evoluírem e contribuírem para uma sociedade próspera de verdade.

Portanto, você, como empregador, colaborador ou que está à procura de uma vaga, deve prestar atenção em quem votar, em vez de somente ir na ideia de terceiros ou cair na armadilha da propaganda enganosa de quem está atrás do seu voto. Ao apertar o botão na urna, você pode também estar decidindo o seu caminho profissional.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty images