Covid-19: enfim, a ordem é virar a página

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A contar do início da elaboração deste texto, ou seja, há 1221 dias, a Organização Mundial da Saúde (OMS) soube da existência de casos de uma doença com vestígios de pneumonia – com causa até então desconhecida – em Wuhan, na China. Era final de 2019. Mas, em 30 de janeiro de 2020, a enfermidade ganhou nome e o conselho do Comitê de Emergência, reunido sob o Regulamento Sanitário Internacional (RSI), declarou Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (PHEIC, na sigla em inglês) por conta do surto global de covid-19. Estabelecido em meados de 2005, o regulamento, com foco em “ajudar a comunidade internacional a prevenir e responder a graves riscos de saúde pública que têm o potencial de atravessar fronteiras e ameaçar pessoas em todo o mundo” entrou em cena e, com ele, o mundo se isolou. Até então, a emergência tinha sido declarada cinco vezes: na pandemia da gripe H1N1, em 2009; com os surtos de ebola, em 2013 e em 2018; com a poliomielite, em 2014; e com o zika vírus, em 2016. De ponta-cabeça, o mundo conheceu as primeiras variantes do vírus Sars-CoV-2 (alfa, gama e delta), que rapidamente se alastraram. Em uma corrida desleal, especialistas do mundo todo precisaram buscar e rastrear evidências; já aos noticiários caberia a responsabilidade de estampar o fato de a saúde estar ameaçada.

Em uma sequência de publicações em seu perfil oficial, a OMS descreveu que a covid-19 era mais do que uma crise de saúde: ela causou uma “grave turbulência econômica eliminando trilhões do PIB, interrompendo viagens e comércio, fechando negócios e mergulhando milhões na pobreza”. Já a agitação social deu lugar “a fronteiras fechadas, circulação restrita e milhões de pessoas experimentando solidão, isolamento, ansiedade e explodiu a depressão”. E, para piorar, a igreja fechou – algo que não se viu nem durante as guerras. A pandemia chacoalhou também os sistemas de saúde – e o que nós pensávamos sobre saúde –, que precisaram lidar com uma demanda insana. Em três anos de pandemia, mais de 6,9 milhões de mortes foram relatadas à instituição e mais de 765 milhões de casos. O Brasil superou o número de 700 mil mortes.

Até que o cenário descontrolado, enfim, retrocedeu. Veio o declínio do número de casos graves, de mortes e de hospitalizações, a virulência das novas sublinhagens das variantes diminuiu e a população teve acesso à vacinação.

No dia 4 de maio deste ano, o mesmo Comitê de Emergência se reuniu pela décima quinta vez e sugeriu o fim da emergência: o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, acatou o conselho e sinalizou a necessidade de “virar a página”. No dia seguinte, 5 de maio, veio o anúncio de que chegou ao fim a Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional para a Covid-19, feito durante uma coletiva de imprensa com a presença dos principais executivos da instituição na sede em Genebra, na Suíça. “Estamos todos cansados desta pandemia e queremos deixá-la para trás, mas esse vírus veio para ficar e todos os países precisarão aprender a gerenciá-lo junto com outras doenças infecciosas”, relatou Adhanom. Ainda segundo ele, o pior que qualquer país poderia fazer neste momento é usar essa notícia para baixar a guarda, destacando que mortes continuam ocorrendo no mundo. Agora, as recomendações permanentes aos países são de “gerenciar a covid-19 de forma contínua”.

Só nos resta esperar e conhecer essa página virada depois de nos isolarmos em um mundo adoecido, que aprendemos a lidar em uma crise de saúde e também de informação – afinal, o monopólio pela “verdade” nunca foi tão disputado nem a “ciência” tantas vezes invocada de forma vã, mas devidamente travestida de precaução e de intenções camufladas.

Mas a lição que impera aqui é que em uma pandemia em que muitos se foram, que se perdeu tanto, em que a ciência foi muito desafiada e respostas foram cobradas, a vida nunca teve tanto valor. Mas não se trata da vida que por si só tem limites e um dia acabará – seja pela chegada de um vírus, seja lá pelo que for –, mas da que é espiritualmente conquistada. Essa vida, que deveria ser almejada – pois é eterna – e que nenhum mal pode ceifar, vem quando se entende que o valor da alma está infinitamente acima de todo o resto e que a vida – ou a morte – eterna da alma é uma escolha de cada um de nós.

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Colaborador

Redação / Foto: katleho Seisa/getty images