Pele por pele

Imagem de capa - Pele por pele

Diariamente somos surpreendidos ou aterrorizados pela insana capacidade humana de burlar, enganar, mentir e até de se safar das leis. As estratégias têm sido tão eficazes que dia desses até profissionais qualificados e peritos em suas áreas foram enganados com a criação da cocaína de coloração preta. A droga já conhecida há muito tempo pelas autoridades conseguiu passar facilmente pela fiscalização em aeroportos, não era detectada pela maioria dos testes rápidos e até passou despercebida pelos cães farejadores. Como a droga se tornou indetectável e, consequentemente, capaz de chegar ao seu destino? Eis um mistério que demorou a ser descoberto e que ainda deve render muita pesquisa de cientistas para garantir que ela seja detectada facilmente e se evite que algo semelhante volte a acontecer.

Mas não é só com relação ao tráfico de drogas que a criatividade burla até as pessoas mais inteligentes e treinadas. Quantos golpes existem por aí e são noticiados todos os dias na mídia? Tem para todos os gostos: o do PIX, o do amor, o do WhatsApp, o do link ou boleto falso, o da clonagem, o do marketing, o da pirâmide financeira, o da falsa assistência técnica, o da suposta vaga de emprego, o de phishing e tantos outros que a criatividade permitiu que surgissem. O pior golpe, no entanto, é o do autoengano.

Talvez você pense que é uma boa pessoa porque nunca enganou ninguém, até caiu em algum golpe e perdoou e é um bom cidadão que defende veemente o que é certo. Mas, não importa o quão bondoso você seja, há uma característica inerente ao ser humano: uma rebelião natural contra o que é certo, impregnada no próprio traço genético e tão autêntica que sobressai de maneira instintiva quando é necessário salvar a própria pele.

Isso não é uma teoria ou conclusão de um estudo científico, mas bíblico. Quando Deus destacou as qualidades de Jó, satanás retrucou dizendo “pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida. (…)” (Jó 2.4). Essa resposta audaciosa decorre do fato de que desde a formação de Adão ele observa atentamente o ser humano e sabe dessa rebeldia e inclinação ao egoísmo que o torna capaz de tudo e mais um pouco quando o instinto de sobrevivência fala mais alto, mesmo se for necessário fazer algo considerado errado por si mesmo para se salvar.

Essa dualidade poderia ser engraçada se não fosse tão trágica. Reclama-se do erro alheio, mas assim que tem a oportunidade de fazer o contrário, lá está alguém fazendo o que reprovou e escancarando a hipocrisia. Até entre os que têm a função de criar e defender as leis é assim. Muitos legisladores já propõem projetos de lei visando seus próprios interesses ou identificando as brechas, tentam impedir uma injustiça com outra maior e apoiam leis argumentando que é pelo bem comum, mas ninguém é beneficiado além dos que detêm o poder. Infelizmente, até as leis, criadas com a melhor das intenções, são burláveis ou se modificam a depender das circunstâncias. Quantas artimanhas já presenciamos? Desde um líder de uma organização criminosa ser colocado em liberdade por conta de uma brecha da lei anticrime, até condenações por corrupção serem anuladas por manobras embasadas em brechas administrativas.”

O ser humano é indomável. Há bondade, mas também há maldade em sua natureza e a diferença é que alguns se aprimoram apenas na maldade. Então, como construir uma sociedade altruísta e empática como a maioria deseja? Impossível, senão por meio de uma transformação do caráter do indivíduo – algo que só se consegue com Deus. O reflexo será visto nas ações desse cidadão, que mais consciente vai considerar o que disse Jesus em Mateus 16.25: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”. Só assim haverá boa influência em todas as esferas, desde a família até os que foram eleitos que cumprirão melhor os seus papéis.

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Colaborador

Redação / Foto: wildpixel/getty images