Alvos fáceis do consumo excessivo

Jovens têm sido reflexo do consumismo desenfreado nos tempos atuais. Entenda por que isso acontece e qual é a importância de formar consumidores responsáveis

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Andar em um shopping sem sair com uma sacola é um grande desafio na vida dos adolescentes de hoje. A necessidade de usar roupas de marca e ter os mais modernos aparelhos eletrônicos caracteriza uma geração consumista marcada pela forte influência publicitária que quer embutir na sociedade que o ter é mais importante do que o ser.

As pesquisas deixam isso mais claro. Segundo um estudo do Serasa Experian, que mapeia a inadimplência no Brasil, os jovens estão mais endividados do que os idosos. A Associação Comercial de São Paulo revela que 67% dos inadimplentes têm menos de 35 anos e 24% têm entre 26 e 30 anos. Outro dado preocupante foi divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e afirma que 70% dos jovens da América Latina se interessam por compras.

Para a economista e educadora financeira Janile Soares, todos esses números mostram que não há educação para o consumo. “Com os avanços da tecnologia, a facilidade para comprar se tornou ainda maior, uma vez que é possível fazer isso pela internet, por exemplo, com apenas um clique. Os jovens também têm acesso ao crédito sem necessidade de comprovação de renda nem de patrimônio (no caso de universitários) e desconhecem as taxas de juros”, explica.

Alvos fáceis da mídia

Aliados à falta de consciência financeira estão os estímulos publicitários.

“Um dos grandes alvos do comércio são as crianças e os adolescentes. As propagandas nas mídias utilizam vários recursos para instigar esse perfil de consumidor. Existe, inclusive, uma discussão muito forte a respeito do marketing voltado ao público infantil. Em alguns Estados da Noruega e da Suécia, por exemplo, há uma legislação para proibir propagandas voltadas ao público infantil”, revela a economista.

Assim, os blogs, os sites de moda e as lojas virtuais ganham públicos fiéis. De acordo com análise da agência norte-americana ComScore, aproximadamente 80% dos adolescentes online entre 12 e 17 anos visitam sites de varejo e estão acostumados com as facilidades de comprar via web.

Os anúncios prometem para aqueles que adquirem os produtos satisfação pessoal, beleza e felicidade, mas a verdade é que, se não houver equilíbrio no consumo, o que seria para trazer realização trará tristeza. “O consumismo compulsivo traz muitos prejuízos às pessoas, como gastos excessivos sem necessidade, acúmulo de objetos em casa, brigas com familiares, aumento da ansiedade, depressão, isolamento social, entre outros”, acrescenta Janile.

Neste cenário, entra a importância da presença dos pais para orientar e instruir os jovens a não exagerar nos gastos. “A família tem um papel muito importante, seja ensinando a respeito do consumo consciente, seja apoiando no tratamento das questões psicológicas. Ao perceber as tendências consumistas dos filhos, os responsáveis devem procurar auxílio e verificar o que está por trás dessa necessidade”, analisa a economista.

A educação financeira vem de casa

O primeiro passo para ajudar os filhos é buscar ser um exemplo. A psicóloga Tatiane Fidelis da Silva Foltran explica que a convivência familiar influencia diretamente no comportamento dos jovens. “Os pais devem ensinar os filhos a valorizarem o dinheiro desde cedo, devem conversar e explicar como fazem o orçamento da casa e, sobretudo, mostrar por meio de atitudes que são pessoas financeiramente equilibradas. Se há compulsão no ambiente familiar pelas compras é certo que haverá chances daquele jovem adquirir a mesma característica”, destaca.

A contribuição dos pais começa desde os primeiros anos de idade, ao estabelecer valores éticos e padrões comportamentais para os filhos. Contudo, além de ficar atento no modelo de criação que se dá, é necessário que os pais verifiquem se estão transferindo para as crianças a responsabilidade de viverem os sonhos que não viveram ou de terem aquilo que não tiveram na infância. “Esse também é um comportamento prejudicial porque futuramente as crianças podem se tornar pessoas acumuladoras e sem limites”, salienta a economista.

Uma das práticas mais comuns ensinadas aos pais ou responsáveis para reduzir o consumismo desenfreado é a troca de algo “velho” por algo novo. Ensina-se a criança que para ganhar, por exemplo, um brinquedo novo ela terá que escolher um brinquedo antigo para doar.

Mudança de hábito e conscientização

Caso não haja uma mudança de atitude, com certeza as próximas gerações vão consumir mais e serão formadas pessoas frustradas que dependem apenas de coisas materiais para ter a sensação de felicidade.

Por isso, se você é jovem e tem depositado sua felicidade no prazer de consumir, busque eliminar esse hábito a partir de hoje. Se pergunte: o que de fato eu preciso para ter uma vida boa? A autorrealização não vem do ter, mas do ser. Busque substituir a necessidade de comprar pelo desejo de se conhecer.

10 dicas práticas para deixar de ser consumista

1- Evite ir às compras em situações de picos de humor (quando estiver muito feliz ou muito triste)

2- Tenha uma planilha com todas as suas despesas, para evitar gastos desnecessários

3- Faça pesquisas de preços antes de fechar suas compras

4- Antes de encerrar a compra, pense novamente se necessita dela e se precisa dela naquele momento

5- Aprenda a lidar com um orçamento restrito e a estabelecer prioridades

6- Sempre que comprar algo novo, encontre algo “velho” que possa se desfazer, mas não compre pela troca

7- Evite adquirir coisas sem antes prová-las. Mesmo que o preço seja atraente, avalie se o produto será utilizado

8- Identifique os motivos reais de querer fazer determinada compra, pois ela pode ser apenas reflexo de uma insatisfação pessoal

9- Evite sair com cartões de crédito, use dinheiro em espécie e realize pagamentos à vista

10- Ocupe-se com novas atividades que não estejam relacionadas ao dinheiro ou às compras

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Colaborador

Ana Carolina Cury / Foto: Fotolia