Brasileiros estão abaixo da média

Especialistas apontam caminhos para mudar o panorama da educação

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Todos sabem que a educação pública no Brasil não é das melhores. Um estudo realizado há dois anos e divulgado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traz alertas sobre esse assunto. Pela segunda vez consecutiva, os brasileiros estão abaixo das médias consideradas aceitáveis no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), prova que acontece a cada três anos e oferece um perfil básico de conhecimentos e habilidades dos estudantes, além de reunir informações sobre variáveis demográficas e sociais de cada país e indicadores de monitoramento dos sistemas de ensino ao longo dos anos.

Abaixo da crítica

O programa que avalia alunos de 15 e 16 anos em três áreas específicas concluiu que houve uma estagnação do conhecimento dos adolescentes brasileiros entre 2009 e 2015, o que fez com que o Brasil ocupasse as últimas posições na lista de 70 países avaliados e ficasse na 66ª colocação em matemática, 63ª posição em ciências e 59ª em leitura. A pesquisa mostrou que a maioria dos alunos brasileiros não sabe fazer contas nem compreende o que lê. Dessa forma, persiste o chamado analfabetismo funcional e a incapacidade de utilizar a leitura e a escrita para sua atividade social e profissional como características de jovens e adultos escolarizados sem os conhecimentos correspondentes ao seu grau de estudos. A dificuldade de leitura e de compreensão de textos também tem consequências mais amplas, como não conseguir adquirir mais conhecimentos para exercer plenamente sua cidadania, segundo conceito dos organizadores do Pisa.

Internet para quê?

O relatório ainda apontou que no Brasil, como em diversos países, há a generalização do uso de SMS e de aplicativos de mensagens instantâneas como o WhatsApp, levando em consideração que há uma grande diferença entre os estudantes dos países ricos, onde o uso da internet é comum nos domicílios, lugares públicos e escolas, e os dos países pobres, onde o acesso é restrito às escolas e ainda assim de maneira precária. Alunos com boa capacidade de leitura geralmente são oriundos de famílias mais favorecidas e tiram melhor proveito da internet para obter informações qualificadas.

Situação atual

Para Leunice Martins de Oliveira, Ph.D. em educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a situação social dos alunos de escolas públicas no Brasil é muito importante para situar a problemática da educação em nosso país. “Também temos professores com baixa remuneração e faltam políticas públicas de investimento na qualificação deles. Por outro lado, a escola como transmissora de conhecimento já está superada. O novo paradigma é que os jovens sejam capazes de produzir o seu próprio conhecimento”, avalia.

Mudança

De acordo com Leunice, para que uma mudança ocorra, além de investimentos adequados nas áreas sociais e na educação, é preciso construir um processo de cidadania em que o aluno desenvolva o senso crítico. “Não tem mais como separar a educação dos processos de forma crítica, criativa e construtiva sem trabalhar temáticas que estão ligadas aos interesses e realidades dos alunos. Sem isso, a escola se torna desinteressante e o aluno vai preferir estar fora dela, mas aí o preço é alto”, observa.

Desafio

Para Leunice, o grande desafio dos professores de escolas públicas é realmente utilizar ferramentas como a internet para auxiliar nesse processo de forma positiva. “Nessa era de globalização econômica que estamos vivendo, há uma reconfiguração do tempo e do espaço e as mudanças são muito mais rápidas. A escola parece estar dissociada desse movimento, mas o seu papel mudou, assim como o do professor. Eles não são mais passadores de conhecimento como anteriormente, mas sim mediadores. Os alunos têm mais acesso às informações com a internet, mas precisam da mediação dos educadores para poder trabalhar com essa informação e aprofundar o conhecimento. Se o professor não for um mediador, desafiando e instigando os alunos a se posicionarem diante do mundo, não se consegue sair do lugar”, conclui.

Como se vê, o panorama da educação só mudará com todos os elos dessa corrente que se chama sociedade fazendo a sua parte. O governo investindo em estrutura e qualificação das escolas e dos professores, estes percebendo o seu novo papel na era em que vivemos e os alunos contribuindo com a sua vivacidade e curiosidade para aprender e se tornarem críticos diante da sua realidade. Do contrário, quando comparados a outros países, estaremos condenados à estagnação ou ao retrocesso na área da educação, sem termos a possibilidade de exercer plenamente a nossa cidadania e avançarmos como nação.


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Colaborador

Por Eduardo Prestes / Foto: Fotolia / Arte: Eder Santos