A diferença entre o veneno e o remédio é a dose

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O assunto da vez: o novo coronavírus, a Covid-19. E, quando se fala nele, vêm palavras que todo mundo está ouvindo todo dia: quarentena, isolamento vertical ou horizontal. Você já deve ter ouvido falar muito desses termos nos últimos dias, correto? Muitos países estão adotando o menor contato físico possível entre os seus cidadãos.

As medidas extremas são compreensíveis. Na Itália, até o encerramento desta edição, os mortos já eram mais de 10 mil. Na Inglaterra, nem mesmo uma família já muito protegida, a da rainha Elizabeth II, ficou livre do vírus: o príncipe Charles, seu filho e o primeiro na linha de sucessão, contraiu a doença e, não muito longe do Palácio de Buckingham, o primeiro-ministro, Boris Johnson, também.

As autoridades sanitárias de muitos países determinaram o isolamento horizontal, ou seja, todo mundo, independentemente de idade ou de suas condições de saúde, deveria ficar em casa quando possível. Assim, se alguém infectado permanece em seu lar, evita passar o vírus a outros; e, quem não foi infectado, ao ficar em casa, também tem risco menor de contrair a doença.

E a economia?
Mas não é só com a saúde que muitos líderes políticos e cidadãos estão preocupados. Se a maior parte da população, isolada em casa, não trabalha ou, mesmo trabalhando, produz menos que o normal, como fica a economia? Se uma empresa não vende seus produtos ou serviços, como pagará seus funcionários e manterá seus empregos? As consequências econômicas, no fim das contas, podem afetar a todos.

Temendo a queda na economia de seus países, autoridades políticas e médicas passaram a sugerir o chamado isolamento vertical: em vez de todo mundo ficar em casa, só seriam isolados os indivíduos mais vulneráveis à doença: maiores de 60 anos, diabéticos, hipertensos e aqueles com doenças cardíacas ou pulmonares, além de fumantes e obesos.

O isolamento vertical permitiria que indivíduos mais jovens voltassem ao trabalho e aos estudos. A economia voltaria a girar, pois o consumo se normalizaria aos poucos. Os defensores desse tipo de isolamento dizem que as pessoas fora dos grupos de risco, mesmo que pegassem a doença, seriam curadas com mais facilidade. Mas quem não concorda essa ideia diz que esses mesmos indivíduos potencialmente saudáveis podem levar o vírus para casa, aos familiares idosos e portadores de comorbidades, mesmo quando não apresentarem sintomas aparentes.

Exemplo de sucesso
Quem defende o isolamento vertical usa como exemplo a Coreia do Sul, onde ele foi aplicado com bons resultados. Até o dia 25 de março os casos confirmados de contágio eram cerca de 9 mil, com 131 mortes, ou seja, uma taxa de mortalidade em cerca de 1% dos casos. Contudo a Coreia do Sul fez testes em massa, detectando e isolando rapidamente os casos de contágio confirmado. Não é a realidade no Brasil nem foi a da Itália.

E agora?
A economia de muitos países vai, sim, sofrer muito. E o que fazer diante desse prognóstico pouco positivo? É importante considerar: a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. É indispensável ser prudente e cauteloso neste momento tão delicado. Mas será que o isolamento total não seria uma dose muito alta, capaz de matar a economia brasileira? Vale o questionamento.

Para que lado cada um deve olhar? Os especialistas estão longe de chegar a um consenso. Um bom e eficaz remédio, até agora, é algo que faz bem em qualquer época e em qualquer assunto: o bom senso.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty Images