Celular ao volante, perigo constante

Como o uso indiscriminado do aparelho aumentou o número de acidentes e mortes

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Usar o celular ao volante já se tornou a principal causa de acidentes no Brasil, como afirmam 76% dos condutores entrevistados em uma pesquisa do serviço de pagamento automático Sem Parar. Para eles, o smartphone é hoje o maior responsável por colisões tanto nas rodovias quanto nas vias urbanas.

O problema não é exclusividade dos motoristas: o uso do celular por pedestres, ciclistas e motociclistas desatentos também coloca vidas em risco e contribui para a ocorrência de acidentes e até mortes nos centros urbanos.

Aumento de infrações

Para termos uma ideia do uso indevido do aparelho, o Detran de São Paulo registrou um aumento nas infrações por uso do celular ao volante em relação a 2024: entre janeiro e março deste ano, por exemplo, as multas por digitar no aparelho subiram de 35.859 para 45.314. Esse tipo de infração é gravíssima, implica em 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e multa de R$ 293,47 (veja mais no quadro ao lado). Já as autuações por segurar o celular (infração gravíssima) também cresceram e passaram de 9.567 para 9.837.

Alta de mortes

Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), enumera as principais causas de mortes no trânsito: “Excesso de velocidade, mistura de direção e álcool, uso do celular, falta de uso de equipamentos de proteção e condições de infraestrutura (trechos inseguros, ausência de travessias seguras, etc.). Um levantamento do Observatório, em parceria com o DataSUS, registrou cerca de 34,8 mil mortes em 2023 e mostrou uma retomada da alta após queda na década passada”.

Categoria mais vulnerável

As mortes atingem mais os jovens e adultos. “São especialmente homens nas faixas de 15 a 29 anos e de 20 a 34 anos que aparecem com altas taxas. Os motivos são maior exposição (mais deslocamentos), comportamento de risco (velocidade e dirigir sob efeito de álcool), maior presença em motocicletas (categoria com crescimento de óbitos) e vulnerabilidade socioeconômica”, analisa.

Perda de atenção

Guimarães avalia por que o celular tem contribuído para acidentes e mortes: “Entre os perigos estão as perdas de atenção visual (olhar fora da via) e cognitiva (atenção dividida e mãos fora do volante). O uso do celular reduz a capacidade de identificar perigos e o tempo de reação e provoca distração cognitiva. O cérebro ‘sai’ da tarefa de dirigir, o condutor perde elementos essenciais do ambiente e fica mais lento para reagir. Quando a pessoa volta a olhar para a via, já perdeu tempo crítico”.

Mais sinistros

Para ele, a crescente dependência das redes sociais também reforça esse panorama negativo: “O celular concentra múltiplas tarefas: a disponibilidade contínua, as notificações e a pressão social aumentam o uso mesmo durante a condução do veículo, fenômeno que pode ser descrito como comportamento compulsivo ou de ‘checar’ o aparelho. Isso traduz-se em mais episódios de distração e, portanto, mais sinistros”.

Usar celular ao dirigir pode custar caro!

Falar ao celular mesmo com fone configura infração média, gera 4 pontos na CNH e multa de R$ 130,16. Já segurar o aparelho é infração gravíssima, com 7 pontos e multa de R$ 293,47. Digitar enquanto dirige também é infração gravíssima, resulta na marcação de 7 pontos e no mesmo valor de multa.

Fonte: Departamento Nacional de Trânsito (Denatran).

Combinação perigosa

Segundo Guimarães, a relação do celular com acidentes não se restringe a motoristas de carros. “Qualquer condutor, motociclista, ciclista, operador de patinete e até o pedestre distraído pode sofrer perda de atenção por uso do celular e causar ou sofrer acidentes”, afirma. Ele alerta ainda que juntar, por exemplo, bicicletas elétricas com celular pode ser altamente danoso. “A combinação é perigosa. A circulação de bicicletas em velocidade elevada em calçadas e ciclovias e o uso de celular eleva os riscos para pedestres e para o próprio condutor.”

Imprudência e álcool

Além do celular, ele destaca que a imprudência também causa acidentes e mortes no trânsito. “Ela aumenta tanto a chance de o sinistro ocorrer quanto a gravidade das consequências. Estudos nacionais mostram que mudanças de comportamento evitariam boa parte desses casos. O álcool é outro fator relevante, pois compromete o julgamento, os reflexos e a percepção de risco. Mesmo em pequenas doses, ele já eleva a probabilidade de acidentes graves”, alerta.

Atuação preventiva

Guimarães sugere algumas medidas que podem ser eficazes na prevenção de acidentes e mortes: “Fiscalização direcionada, infraestrutura segregada e de boa qualidade, campanhas educativas, regras claras sobre circulação de veículos leves e fiscalização do uso do celular, além de políticas públicas que priorizem espaços seguros para os pedestres. A mudança exige ação combinada (engenharia + educação + fiscalização). O condutor, por sua vez, pode reduzir a velocidade, não misturar álcool e direção, desligar o celular ao dirigir e usar cinto e capacete”.

Evite acidentes e contratempos

Antes de sair: ative o modo Não perturbe/Dirigindo no celular e defina resposta automática.
Configure navegação e playlists antes de dirigir (use suporte veicular).
Deixe o celular fora do alcance – longe do painel – ou no modo avião.
Se precisar atender alguma urgência, estacione em local seguro antes de usar o aparelho.
Empresas com frotas podem usar bloqueadores de chamadas em velocidade e telemetria para reduzir comportamentos de risco.

Fonte: Paulo Guimarães, CEO do Observatório Nacional de Segurança Viária.

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Colaborador

Eduardo Prestes / Foto: stevanovic igor/getty iamges