Por que o excesso de notícias negativas afeta a mente — e como o Jejum de Daniel propõe uma desintoxicação

Assim como a alimentação influencia o corpo, o que se consome mentalmente molda o funcionamento do cérebro, as emoções e até a capacidade de tomar decisões equilibradas

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O consumo excessivo e contínuo de notícias negativas, violentas ou alarmantes tem provocado impactos diretos na saúde mental e emocional das pessoas. Segundo especialistas, o problema não está em se informar, mas no padrão de exposição — intenso, repetitivo e sem pausas.

O cérebro e as notícias negativas:

Assim como a alimentação influencia o corpo, o que se consome mentalmente molda o funcionamento do cérebro, as emoções e até a capacidade de tomar decisões equilibradas.

De acordo com a psicóloga clínica Dra. Ana Beatriz Cintra, especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital São Luiz (SP) e pela PUC-SP, o cérebro interpreta a exposição constante a notícias negativas como uma ameaça real.

Como funciona na prática:

Quando o indivíduo é bombardeado por informações trágicas, o chamado eixo do estresse é ativado. Isso eleva os níveis de cortisol e adrenalina, hormônios ligados ao estado de alerta.
Consequências imediatas incluem:

  • Hipervigilância
  • Irritabilidade
  • Dificuldade de concentração
  • Distúrbios do sono
  • Sensação constante de urgência

Além disso, a médio e longo prazo, o cortisol cronicamente elevado prejudica a memória e o aprendizado. A amígdala cerebral passa a gerar mais medo, enquanto o córtex pré-frontal — responsável pela tomada de decisões — perde eficiência.

O resultado emocional: mais ansiedade, mais ruminação mental e uma percepção distorcida da realidade.

  • “O mundo passa a parecer mais perigoso do que realmente é”, explica a especialista.
  • Com isso, a esperança diminui, a desesperança cresce e, em casos mais graves, o risco de depressão e suicídio aumenta.

Por que o cérebro reage tão intensamente às notícias negativas?

Segundo a psicóloga, há uma explicação evolutiva. O cérebro humano foi programado para priorizar ameaças, um mecanismo de sobrevivência conhecido como viés da negatividade.

Em outras palavras, é melhor, do ponto de vista biológico, errar por excesso de alerta do que por falta dele.
Além disso, a dopamina — neurotransmissor associado ao prazer — também atua na antecipação e na busca por informação. Notícias ruins ativam curiosidade, choque e a sensação de “preciso saber mais”, criando um ciclo quase automático de consumo.

O problema: a emoção assume o volante, enquanto o pensamento racional vai para o banco de trás.

Informação também deixa rastro

Estudos apontam que hábitos informativos moldam o cérebro. O consumo crônico de conteúdo negativo mantém estados de inflamação neural e corporal, agravados pelo estresse oxidativo e pelo excesso de cortisol.

Importante destacar: Não é a notícia isolada que causa dano, mas o padrão — a constância, a repetição e a ausência de pausas.

Assim como dieta, sono e exercício físico, o que se consome mentalmente entra na conta da saúde cerebral, emocional e física. Informação não é neutra. Ela deixa rastro.

Quanto é saudável consumir notícias?

Não há uma regra rígida, pois cada pessoa reage de forma diferente.

No entanto, a neurologista Dra. Ana Carolina Dias Gomes ressalta que diante desse quadro todo os mais afetados são os jovens, idosos e as pessoas com transtornos emocionais. Segundo explica, eles tendem a sentir mais os efeitos, como ansiedade, insônia, irritabilidade e isolamento.

“O estresse crônico causado pelo consumo excessivo de notícias negativas pode acelerar processos de degeneração cerebral”, enfatiza. Já o contrário, ou seja, “notícias positivas reduzem o estresse, fortalecem a resiliência emocional e ajudam a manter uma visão mais equilibrada da realidade”, diz.

Ainda assim, especialistas sugerem um parâmetro prático para consumi-las, a saber:

  • 20 a 40 minutos por dia;
  • Em horários definidos;
  • Evitar consumo logo ao acordar ou antes de dormir.

Boas práticas incluem:

  • Priorizar fontes confiáveis (menos volume, mais qualidade);
  • Evitar “rolar” notícias de forma compulsiva;
  • Perguntar a si mesmo: isso me informa ou só me agita?
  • Conclusão: disciplina informativa é um tipo sofisticado de autocuidado.

Boas notícias também curam

Assim, entendemos que se conteúdos negativos afetam o cérebro de forma nociva, conteúdos positivos têm o efeito oposto. O cérebro aprende com o que se repete.

Quando a mente só escuta “sirenes”, vive em estado de fuga. Mas quando encontra pausas, boas histórias e silêncio, ela se reorganiza. Conteúdos positivos não são alienação, são regulação emocional.

Eles ativam circuitos de segurança, pertencimento e esperança, reduzem o cortisol e favorecem a liberação de serotonina e ocitocina, hormônios ligados ao bem-estar, empatia e vínculo. Isso melhora o sono, o humor, a imunidade e a capacidade de enfrentar desafios reais. Equilíbrio emocional não nasce da ignorância, mas da proporção.

A proposta espiritual: a desintoxicação 

Em consonância com esse cuidado mental, o Bispo Renato Cardoso destaca a importância de uma verdadeira limpeza interior, que envolve mente, emoções e espírito.

Desintoxicação digital:

  • Redução do tempo em dispositivos eletrônicos
  • Diminuição do consumo de redes sociais, notícias, séries e entretenimento
  • Afastamento de conteúdos que geram ansiedade
  • Priorizar conteúdos construtivos e edificantes

Desintoxicação mental e espiritual:

  • Reduzir a sobrecarga de informações
  • Praticar momentos de silêncio e reflexão
  • Ler e meditar na Bíblia
  • Orar e buscar direção de Deus

Benefícios esperados:

  • Redução do estresse
  • Melhora da concentração
  • Clareza mental
  • Equilíbrio emocional
  • Renovação espiritual
  • Intimidade com Deus
  • Sensibilidade para ouvir a voz divina

Jejum de Daniel: silêncio exterior para ouvir Deus

Entre os dias 10 e 31 de dezembro, acontece em toda a Universal o Jejum de Daniel, um período de 21 dias dedicado a silenciar as vozes do mundo para ouvir a voz de Deus e buscar a presença do Espírito Santo.

O Jejum de Daniel não se limita à alimentação. Ele é, sobretudo, espiritual. Em tempos em que informação é um dos bens mais disputados, jejuar de conteúdos seculares também é uma forma de consagração.

Em conclusão: passo a passo básico

  • Abster-se de entretenimentos e notícias seculares por 21 dias
  • Substituir esse consumo por leitura bíblica, oração e conteúdos cristãos
  • Buscar comunhão, autoavaliação e santificação

O objetivo é claro: permitir que a alma seja alimentada pelo que vem do Alto.

 

 

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Colaborador

Cinthia Meibach / Fotos: Istock