Baixa escolaridade é considerada fator de risco para demência no Brasil

Entenda por que o investimento em educação, inclusive para adultos, é essencial na luta contra essa doença

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É objetivo comum de cientistas do mundo todo entender melhor a demência para poder preveni-la e, quem sabe, curá-la. Um estudo recente, por exemplo, trouxe uma nova perspectiva para o assunto, associando a doença à baixa escolaridade. Mas, antes de entrar nesse tema, vamos entender melhor o que é a demência.

Perspectiva geral

Perda de memória, dificuldades de comunicação e desorientação são alguns sinais mais comuns. A doença é marcada pelo declínio das funções cognitivas e/ou por alterações comportamentais que impactam a rotina e reduzem a autonomia da pessoa. Estima-se que 2,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais vivam essa condição no País.

E, segundo o Ministério da Saúde, até 2050 o número de brasileiros com algum tipo de demência pode chegar a 5,6 milhões. A incidência da doença aumenta no mundo todo e a América Latina é a região mais afetada.

A origem da demência

A forma mais comum de demência no Brasil é a doença de Alzheimer, conhecida por causar perda de memória recente e, com o passar do tempo, afetar também a linguagem, a orientação e o raciocínio. Existem, porém, outras formas da doença, como a demência vascular, a frontotemporal e a de Lewy.

O que diferencia cada uma delas é principalmente a origem da degeneração cerebral, as áreas do cérebro mais atingidas e a maneira como os sintomas se manifestam e progridem.

O neurocirurgião Renato Andrade Chaves, especialista em cérebro e coluna, detalha mais aspectos da doença: “A demência tem origem multifatorial e envolve processos neurodegenerativos, alterações vasculares e fatores genéticos. No nível celular, ocorre acúmulo de proteínas anormais, como a beta-amiloide e a tau, que levam à morte neuronal. Inflamações crônicas e estresse oxidativo também contribuem. Além disso, fatores ambientais e traumas cranianos podem antecipar o quadro”.

Baixa escolaridade e demência

Entre os estudos mais recentes sobre o tema, destacase o liderado pelo bioquímico Eduardo Zimmer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que contou com a participação de pesquisadores de vários países. Diferentemente de pesquisas anteriores, que apontavam o sexo e a idade, com maior prevalência entre mulheres e pessoas acima dos 70 anos, como os principais fatores de risco para a demência, o novo estudo revelou que a desigualdade social no Brasil influencia diretamente a saúde cerebral.

Os pesquisadores identificaram a baixa escolaridade como o principal fator de risco para o desenvolvimento da demência no País. “A baixa escolaridade está ligada à menor reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de resistir a danos antes que os sintomas de demência apareçam. Pessoas com menos anos de estudo tendem a estimular menos suas redes neurais. Isso acelera a manifestação clínica das doenças neurodegenerativas. No Brasil e no mundo essa realidade expõe uma desigualdade educacional que impacta a saúde neurológica”, diz Chaves.

O cérebro é um músculo que, como os demais, precisa de estímulos em todas as fases da vida para se manter saudável. Portanto a educação também tem importante papel na saúde. A escola é o principal caminho para crianças e adolescentes se desenvolverem inicialmente, mas não deve parar por aí. Os adultos, independentemente da idade, precisam manter o cérebro em atividade e isso ocorre por meio de aprendizados.

Chaves cita algumas opções: “Ler, aprender novos idiomas, praticar exercícios físicos, manter vínculos afetivos e desenvolver hobbies são essenciais. No dia a dia podemos estabelecer rotinas que incluam desafios mentais e interação social regular. Além disso, a alimentação balanceada e o sono adequado são fundamentais. A plasticidade cerebral depende desse cuidado contínuo”.

Área prioritária

O Brasil ainda registra um número elevado de analfabetos: 11,4 milhões. Soma-se a isso o fato de 10,3 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não estudarem nem trabalharem. Além disso, o governo tem cortado verbas para a educação formal de adultos.

A falta de acesso à educação de qualidade no Brasil impacta não apenas o futuro profissional, mas também a saúde dos indivíduos. Por isso a educação deve ser tratada como uma prioridade pelo Estado, que tem a obrigação constitucional de garantir o acesso de todos  a ela, inclusive aos adultos. Com as novas descobertas científicas, a deficiência educacional deixou de ser só uma questão social e passou a ser um problema de saúde pública.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: Gettyimages