Órfã, abusada e abandonada

A infância de Sebastiana da Silva teve todos os elementos para uma vida infeliz, mas ela virou o jogo a seu favor

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Em uma fase da vida em que precisava ser protegida e amparada, a governanta Sebastiana Moreira da Silva, de 66 anos, sofreu perdas irreparáveis. Durante muito tempo, a fome e as ruas foram a sua dura realidade. Nascida no norte de Minas Gerais, na divisa com a Bahia, ela perdeu os pais aos 5 anos e, então, uma parente próxima ficou responsável por ela. Mas os cuidados que Sebastiana recebia não eram os melhores. “Eu passava fome, ela me deixava sem comida e me batia quando eu pegava comida escondido”, conta.

Com 7 anos, ela foi levada para outra cidade, também em Minas Gerais, e deixada com uma família para que trabalhasse nos serviços domésticos e estudasse. O cenário mudou, mas as dificuldades continuaram. Além de só poder comer depois que executasse as tarefas, Sebastiana tinha que estudar à noite. Aos 12 anos, enquanto voltava da escola, um homem a violentou. Sem entender o que tinha acontecido, ela não contou isso a ninguém. Depois de algumas semanas, ela teve um mal-estar e foi rejeitada pelas pessoas com quem vivia. “Eu me vi sozinha, pois a família não me quis mais. A alegação foi que eu estava doente, que não podiam ficar comigo e me mandaram de volta para a casa dos meus parentes. Só que eu me perdi deles. Como eu não sabia voltar para a minha terra, fiquei nas ruas. Eu nem sabia que estava grávida”, diz.

Para sobreviver, Sebastiana pedia comida de porta em porta e dormia nas calçadas. Como lhe disseram que ela estava doente, Sebastiana recorda que acreditava que o crescimento de sua barriga fosse causado por um bicho. Ela não sabia que era um bebê. Foi quando, prestes a dar à luz, uma prostituta a encontrou na rua e a levou para o prostíbulo onde morava. “Eu fiquei lá até o dia que tive o neném. Era uma criança tendo outra criança. Eu não soube como criá-la e ela faleceu com quatro meses.”

Novo rumo
Sebastiana permaneceu nas ruas por quatro anos. Foi quando decidiu sair da cidade em que vivia, em Minas Gerais, foi para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. Até se estabilizar, ela dormia nos bancos da rodoviária. Na capital paulista, Sebastiana, que tinha sido apenas alfabetizada, retomou os estudos. Ela começou a trabalhar em um hospital e depois em uma casa de família.

Apesar de tanto sofrimento, ela conta que nunca culpou a Deus e, mesmo sem conhecê-Lo, sabia que Ele de alguma forma a protegia e a guiava, pois colocava pessoas boas em seu caminho.

Em 2000, Sebastiana foi convidada para participar de uma reunião na Universal. Ali, ela conta que encontrou a família que nunca teve. “Essa casa (a Igreja) ocupou toda a necessidade que eu tinha de um lar”, afirma. Anos depois, após enfrentar um problema de saúde grave, ela decidiu entregar sua vida completamente ao Senhor Jesus e se batizou nas águas. Em seguida, passou a priorizar o batismo com o Espírito Santo.

Hoje ela testifica a mudança interior que viveu: “eu nasci de novo e me tornei uma pessoa leve”. A mudança interna se refletiu externamente e ela conseguiu ter uma vida próspera. “Um dia, lá atrás, eu pedi a Deus que um dia eu queria ter não apenas uma, mas duas casas, e muita comida para mim e para poder dar. Hoje eu posso provar isso. Concluí meus estudos, me tornei governanta, comprei um apartamento, uma casa e um carro. Hoje eu ajudo no projeto Anjos da Madrugada, em que Deus me deu a oportunidade de lidar com meu passado na rua.”

Mesmo com tantas vitórias, ela sabe o que tem de mais valioso: “a única coisa que eu peço a Deus é que Ele não deixe nada atrapalhar a comunhão que eu tenho com Ele porque com Ele eu tenho tudo”, conclui.

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Colaborador

Núbia Onara/ Foto: Guilherme Branco