Você se sente inseguro?

Pesquisa revela que 80% dos brasileiros não se sentem seguros ao realizarem atividades básicas do dia a dia. Entenda por que e como mudar essa percepção

Imagem de capa - Você se sente inseguro?

Entrar e sair de casa, andar sozinho à noite, usar o celular em locais públicos, estacionar o carro na rua ou esperar por alguém dentro do veículo, utilizar transporte público e realizar transações bancárias são algumas atividades diárias que, muitas vezes, requerem alguns cuidados que garantam a própria segurança. Isso porque, infelizmente, não é de hoje que pessoas mal-intencionadas se aproveitam desses momentos para praticar crimes.

Por conta disso, os brasileiros criaram diversas artimanhas e é bem provável, inclusive, que você já seja adepto de andar com a bolsa ou a mochila na frente do corpo, evite transitar em determinados locais ou em alguns horários, compartilhe sua localização em tempo real com familiares ou até leve um “celular para o ladrão” quando sai de casa. Afinal, uma pesquisa do Instituto Realtime Big Data mostra que 96% dos brasileiros não se sentem seguros ao usar o celular na rua, enquanto 95% ficam inseguros ao esperar dentro do carro, 87% ao entrar e sair de casa, 83% ao utilizar o caixa eletrônico e 77% ao fazer um PIX fora de casa.

Uma possível explicação para isso está no relatório Vitimização: Furtos e Roubos 2021, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que revela que 1,8 milhão de brasileiros foram roubados em 2021, sendo que 67,8% deles foram vítimas na rua.

Além de ser alvo do delito, outra questão lamentável é que a vítima se sente culpada ou é parcialmente responsabilizada pelo incidente porque “estacionou no lugar errado”, “era um horário perigoso” ou “estava com o celular na mão”. O coronel Paulo Sergio de Melo, da Polícia Militar do Estado de São Paulo, destaca que nada justifica a violência cometida contra a vítima, “mas (essas atitudes) muitas vezes explicam por que o criminoso teve a oportunidade de agir”.

O outro lado dessa história
Quanto à pesquisa, o coronel Melo cita que a sensação ou percepção de segurança, muitas vezes, está dissociada dos fatos e que outros estudos mostram que, mesmo com a redução de índices criminais, a percepção de segurança permanece a mesma. “Um exemplo disso pode ser verificado na diminuição de delitos no Estado de São Paulo, pois, em 2003, tivemos 10.954 homicídios, contra 2.909, em 2022. Essa diminuição, porém, não foi suficiente para mudar a percepção de segurança da população, que assiste em meios abertos de comunicação um único crime ser noticiado exaustivamente, muitas vezes sem a adequada explicação de quando, onde e em que circunstâncias ele ocorreu”, diz.

Muitas ações são tomadas para inibir práticas criminosas e incluem desde o policiamento preventivo até o uso da tecnologia, como o Projeto Câmera Detecta/Radar, cujas câmeras permitem a identificação imediata de situações de risco à segurança pública e a rápida intervenção dos policiais ou agentes públicos de segurança. Em abril, por exemplo, o governo de São Paulo anunciou o uso de tornozeleiras eletrônicas em reincidentes de roubo ou furto e em acusados de violência doméstica no Estado, já que se estima que mais de 300 mil condenados ou acusados, soltos em audiência de custódia, circulam livremente pelos municípios paulistas sem nenhum tipo de monitoramento.

Em contrapartida, enquanto os órgãos públicos usam os recursos de que dispõem para promover a segurança de cada indivíduo e a população fica atenta para não entrar para as estatísticas como vítima, infelizmente, crimes ainda ocorrerão e é fundamental denunciar todo e qualquer tipo de crime. “A notificação de delitos aos órgãos de segurança pública é vital, pois, além da repressão visando desestimular novos delitos, ela permite mapear os problemas e planejar as ações de segurança para prevenir e evitar novos delitos”, explica o coronel Melo.

E a quem cobrar?
Para contribuir com a segurança pessoal e coletiva é importante cobrar os responsáveis por ela. E quem são os principais responsáveis? No artigo 144 da Constituição Federal de 1988 lemos que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Ou seja, é responsabilidade do governo garantir e zelar pela segurança de cada brasileiro e até dos bens materiais conquistados por cada um, promovendo tal segurança por meio dos órgãos públicos (como polícias federal, civil e militar). Por isso, a cobrança por maior eficiência da segurança pública em todo o País deve ser dirigida aos políticos eleitos pelo voto popular. Eles são responsáveis pela legislação e ainda pela destinação de verbas para que se invista nessa área que ainda carece de atenção e de ações.

Além de cobrar quem conquistou seu voto, você também pode acompanhar todos os projetos de lei sobre o tema e emendas orçamentárias por meio da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Essas comissões parlamentares são responsáveis pela análise dos projetos de lei e emendas antes que elas sigam para votação em Plenário e seus membros ainda podem promover estudos sobre o assunto, convocar autoridades para esclarecimentos e realizar audiências públicas. Então, zele pela sua segurança, confie em quem trabalha diariamente em prol dela e cobre quem realmente pode fazer algo pela segurança pública de todo o País.

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Colaborador

Laís Klaiber / Fotos: Wirestock/getty images, South_agency/getty images, eclipse_images/getty images e urbazon/getty images