UNP realiza formatura de detentas

Mais de 300 pessoas concluíram cursos profissionalizantes

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Um ambiente hostil, sombrio e violento. Essa é a imagem que a maioria das pessoas tem de uma penitenciária brasileira. Mas na manhã do dia 23 de junho, na Penitenciária Feminina de Santana – uma das instituições penais mais antigas de São Paulo, inaugurada em 1920 e que tem uma arquitetura belíssima, embora desgastada pelo tempo –, um clima de fé e esperança invadiu o local e o coração de todos os que estavam lá para prestigiar o evento de formatura de 322 presas que concluíram os cursos profissionalizantes oferecidos pelo programa social Universal nos Presídios (UNP) em parceria com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP).

Unidos por uma causa
Autoridades, funcionários, pastores e voluntários da UNP se uniram para proporcionar a essas mulheres a oportunidade de se desenvolverem profissionalmente e, assim, reconstruírem a vida quando estiverem em liberdade.

Entre as autoridades presentes estavam o secretário de Estado da SAP paulista, coronel Marcello Streifinger; o diretor-geral da unidade, Osvaldo Martins Bueno; o responsável pela Universal no Brasil, Bispo Renato Cardoso; e o Pastor Clodoaldo Rocha, responsável nacional pela UNP. Também compareceram a responsável da coordenadoria de Reintegração Social e de Cidadania, Carolina Maracajá; a secretária de Estado da SAP fluminense, Maria Rosa Lo Duca Nebel; a juíza Carla Kaari; e a deputada estadual Edna Macedo e o vereador Sansão Pereira, ambos do Republicanos.

Martins Bueno disse que há anos a Universal realiza um belo trabalho nas unidades prisionais de São Paulo e destacou a parceria firmada com a SAP: “essa parceria só veio abrilhantar e reforçar os laços das unidades com a Igreja. Isso tem proporcionado um enriquecimento muito grande para nós e a realização de muitas atividades. O que tentamos mostrar para as detentas é que estamos aqui para ajudar na ressocialização, em busca de formação e trabalhamos em prol da recuperação delas”.

Já Streifinger falou da importância desse trabalho: “é enorme, porque as pessoas que estão aqui recolhidas, às vezes, perderam a crença nelas mesmas e precisam ser provocadas por alguém ou por meio do trabalho, da família, da educação ou da religião. A Universal atua por meio de tudo isso e, muitas vezes, concilia a família com a presa nesse processo. Isso faz com que as reeducandas tenham expectativa de futuro e também propicia um ambiente mais tranquilo na unidade”.

A formatura
Posicionadas em seus lugares e vestidas com os trajes tradicionais de formatura (capa e capelo), as reeducandas aguardavam ansiosas o começo da cerimônia, que contou, inicialmente, com o pronunciamento de alguns representantes do sistema prisional e da Universal.

A organização do evento e a decoração do local não deixaram a desejar, se comparadas às dos eventos de formatura convencionais.

A cerimônia contou com apresentação do coral Vozes da Liberdade, formado por 24 detentas, que emocionou a todos com suas canções. Outro momento de comoção para as formandas foi a apresentação de depoimentos de seus familiares, que foram gravados especialmente para essa data. Além disso, uma das formandas foi surpreendida pela presença da avó e do filho de oito anos, que não via há mais de dois anos, e recebeu seu diploma das mãos da avó.

Superação
No pátio em que a cerimônia foi realizada estavam ex-detentas que viveram histórias de superação. Muitas foram beneficiadas pelo trabalho da UNP e hoje, completamente recuperadas, atuam como voluntárias e ajudam as encarceradas compartilhando suas histórias inspiradoras de fé e regeneração. Uma delas era Silvia Ramos, de 49 anos. Ela foi condenada a 48 anos de prisão e cumpriu seis meses de pena nessa unidade. Agora, 14 anos depois, ela retornou como voluntária da UNP e foi mestre de cerimônias do evento de formatura.

Ela conta que conheceu o trabalho da Universal no dia que tinha decidido se matar. Era Dia das Mães e ela recebeu a visita da filha que a presenteou com um exemplar do livro Nada a Perder, autobiografia do Bispo Edir Macedo, que as voluntárias da UNP entregaram à menina na entrada do presídio. Silvia tinha planejado seu suicídio, mas, naquela noite, leu o livro. Quando se deu conta, eram três horas da manhã e a vontade de se matar tinha passado. “Aquelas palavras tinham vida e diziam para mim que, se eu quisesse, ainda tinha jeito para a minha vida e que tudo dependia de mim. Depois de seis meses de pena, recebi minha liberdade. Faz 14 anos que estou livre e há 12 estou firme com Jesus e com a minha vida totalmente transformada. Estar aqui como mestre de cerimônias é uma honra, pois sou resultado desse projeto”, afirmou.

Assim como Silvia, a voluntária Mônica Firmino de Sousa, de 49 anos, também cumpriu pena na Penitenciária de Santana, mas por cinco anos. Ela deu à luz ali dentro. “Voltar aqui é uma emoção. Passa um filme na nossa cabeça com o sofrimento e o desespero do dia a dia. Eu conheci o trabalho da UNP aqui e quando saí procurei a Universal e estou até hoje. Estou livre há dez anos, graças a Deus, e atuo na UNP há oito”, contou Mônica
Já a voluntária Shirley Ghattas, de 39 anos, revelou que teve familiares presos e, por isso, conhece bem a dor dos encarcerados e da família deles: “isso me levou a querer ajudar nesse trabalho. Muitas pessoas aqui dentro estão abandonadas. Chegamos aqui, transmitimos uma palavra de fé e contamos nossas experiências para que elas se sintam motivadas a continuar”.

Desempenho excelente
Os cursos oferecidos foram de cabeleireiro e confecção de brigadeiro gourmet e salgados. Os professores das aulas de cabeleireiro, Dinho e Taís Correa, são profissionais experientes na área e ofereceram as aulas voluntariamente. Dinho afirmou que todos os módulos foram muito bem trabalhados, pensados e executados com muita excelência. “Eu, como professor, fiquei muito feliz com o desempenho delas. Meu sentimento é de dever cumprido com a Palavra de Deus.”

Já Taís relatou: “fazer parte de tudo isso nos deixa muito felizes. É um momento de transformação da vida delas. É como se elas não estivessem aqui dentro, mas livres”.

A professora do curso de brigadeiro gourmet, Paula Rocha, por sua vez, disse que é de uma família de confeiteiros e se empenhou para levar às alunas tudo que já aprendeu. “Elas não foram tratadas como detentas, mas como alunas, e isso despertou o interesse nelas”, contou. “Temos meninas que já saíram e estão lá fora colocando em prática o que aprenderam aqui. Hoje nós temos ex-detentas que se especializaram dentro do presídio e são professoras, inclusive dessa turma. Então, creio que teremos muitos frutos desse curso”, disse.

Apelo aos cristãos
O Bispo Renato Cardoso, ao ser questionado sobre quais sentimentos foram despertados nele ao entrar naquele pátio e se deparar com todas aquelas presas, inclusive as que assistiam ao evento das janelas de suas celas atentas a tudo que era dito, a cada palavra, a cada ensinamento, especialmente na hora da mensagem de fé e da oração, respondeu: “um deles foi que, se todos os membros da Igreja, pastores, obreiros, esposas, voluntários pudessem vir aqui e ver, fazer o trabalho, eles teriam, acredito, uma renovação espiritual do que é a Obra de Deus. Vários diretores estiveram aqui, inclusive a secretária do Rio de Janeiro está aqui para ver o trabalho e considerar sua implantação no Rio de Janeiro. Então, eles estão dizendo assim para a Universal: ‘vem! Faz mais disso!’ E nós não temos trabalhadores suficientes que possam se dedicar a esse trabalho. Então, a dor que sentimos é de não poder fazer mais. Só poderemos fazer mais se tivermos pessoas que realmente sejam despojadas. Então, clamamos a Deus que mande mais pessoas assim para a Obra dEle. Se você é cristão e quer fazer a Obra do Senhor Jesus na vida dos presos, contate a UNP. Você será bem-vindo para acompanhar esse trabalho e ver como ele é feito. Eu gostaria muito que todos pudessem, pelo menos uma vez, vir conhecer o trabalho dentro dos presídios!”

 

 

 

 

 

 

Em tempo
Todas as reeducandas foram presenteadas com uma Bíblia e, no encerramento do evento, receberam um kit de higiene e de salgados.
Neste ano, 3.300 reeducandos já concluíram um dos cursos ofertados pela UNP em 37 unidades prisionais de São Paulo. Entre
os cursos oferecidos estão barbearia, cabeleireiro, confeitaria, designer de sobrancelhas, eletricista, empreendedorismo, mecânica de moto, pedreiro, pintura predial e pizzaiolo.

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Colaborador

Jeane Vidal / Fotos: Guilherme Branco