Quem fura a fila age contra a lei?
O que o dinheiro é capaz de comprar? Nos Estados Unidos, o dinheiro compra até lugar na fila. É isso mesmo. Muitos norte-americanos estão pagando por hora para que outras pessoas guardem um lugar na fila para que depois possam participar de audiências no Congresso ou garantam entradas para shows concorridos. A compra de lugar na fila também é usada para conseguir mesa em restaurantes badalados e até para matricular os filhos em uma escola pública bem-conceituada. Ou seja, pessoas que não querem enfrentar horas em uma fila contratam alguém para ficar nela no lugar delas. Quando chega o momento do atendimento, elas simplesmente aparecem no local e assumem a posição.
Tudo vira empreendimento?
Uma reportagem do jornal El País mostrou que furar fila virou um negócio e até empresas contratam pessoas em situação de rua para esperar em filas dos mais variados serviços públicos e privados. Infelizmente, esse negócio esconde questões complexas. Afinal, é justo transformar uma fila de espera em um empreendimento? Quem ganha nessa história? Certamente, pessoas que têm mais dinheiro são beneficiadas, enquanto aquelas que não podem pagar ou ficar muitas horas esperando saem prejudicadas e podem até perder acesso ao serviço desejado.
Imagine a seguinte situação: você deseja se inscrever em um curso gratuito. Para isso, é preciso ir pessoalmente ao local. Como o número de vagas é limitado, as pessoas chegam várias horas antes para formar a fila. Você decide trocar seu horário de trabalho e permanece três horas na fila, até que observa que a pessoa que estava à sua frente cede o lugar dela para outra em troca de um pagamento. Quando chega a sua vez de ser atendido, você descobre que as vagas já foram preenchidas. É justo que alguém que tenha mais dinheiro pague por um lugar na fila?
Podemos citar ainda outra situação comum no Brasil: as filas formadas por pessoas em busca de emprego. O que aconteceria se todos resolvessem vender o seu lugar na fila? E se você perdesse uma oportunidade por causa de alguém que passou na sua frente?
Justo ou injusto?
A Constituição Federal prevê o princípio da igualdade em seu artigo 5°, em que está escrito que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Usar o dinheiro para obter vantagem em uma situação em que todos deveriam ter as mesmas chances é desrespeitar a lei. E mais do que isso: esse tipo de trapaça mostra uma profunda falta de ética e de caráter.
Há outras situações em que é possível furar fila, até mesmo de forma legalizada. Um exemplo disso são alguns parques de diversões, que oferecem ingressos mais caros e que dão direito a passar na frente de todos. Mais uma vez, esse tipo de artifício só contribui para mais desigualdade e para a separação entre aqueles que podem pagar e os que não podem.
Afinal, se tudo se transformar em uma questão de dinheiro, a ânsia do mercado criará novas formas de vender espaços e privilegiar os mais abastados. Se continuarmos assim, no futuro vamos limitar cada vez mais o acesso a serviços públicos e a locais de diversão. A regra será uma só: pagou, levou. E nesse vale-tudo, aos poucos, passaremos por cima de princípios como justiça e igualdade para todos. Para os cristãos, esse comportamento de obter vantagem a qualquer custo vai contra os ensinamentos mais fundamentais da Palavra de Deus.
Em que medida estamos de fato exercitando a nossa fé? As atitudes que tomamos no dia a dia estão alinhadas às nossas crenças e valores?
Essas são questões que valem uma boa reflexão.
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