Quando o povo elege “Barrabás”…

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Jesus e Barrabás. Um dos mais famosos trechos bíblicos. De um lado, um prisioneiro, que cometeu crime de rebelião. Era um agitador e que, em um motim, assassinou pessoas. Do outro lado, Jesus, que dispensa comentários. Na Páscoa, era comum libertar um criminoso. Pilatos, então, deu ao povo o poder de escolha. Estava nas mãos do povo escolher se soltaria Jesus ou Barrabás. Barrabás foi solto e Jesus condenado, apesar de que, com a morte, Ele cumpria Sua missão.

Assim também nas últimas eleições municipais, o Rio de Janeiro teve de fazer escolhas. De um lado estava Eduardo Paes, réu na Justiça Eleitoral por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral. De acordo com a denúncia do Ministério Público Eleitoral, Paes teria recebido R$ 10,8 milhões de vantagens indevidas – por meio do caixa dois – para campanha eleitoral. Um homem que deixou uma dívida de R$ 1,6 bilhão por ano. Do outro lado estava Marcelo Crivella, prefeito naquela altura e que buscava a reeleição. Homem temente a Deus, de reputação ilibada, sério e que teve a coragem de bater de frente com o sistema. Quem teve que honrar entre os anos de 2017 e 2020 as dívidas anteriores. É do conhecimento de todos que a cidade do Rio viveu a pior crise econômica de sua história e que no mesmo período o Governo do Estado decretou sua própria falência – ainda tendo que enfrentar as piores enchentes dos últimos 100 anos e a pandemia de covid 19. Como consequência, ele acabou recebendo acusações infundadas ao final das quais nada se provou.

O cenário estava montado e a escolha tinha de ser feita. E, assim como na época de Jesus, o povo escolheu “Barrabás”. Agora, “Barrabás”, que comanda o Executivo do Rio, tem feito absurdos na gestão municipal. A mais recente foi o anúncio de uma verba de R$ 18 milhões para o carnaval de 2022. Sem falar dos R$ 250 milhões destinados à publicidade (todo mundo sabe pra quem) e do fato de trazer de volta a organização social (OS) da saúde que foi afastada por improbidade e que teve a idoneidade decretada e dar a ela contrato de centenas de milhões de reais. Além disso, de ter retornado o pedágio da Linha Amarela, que já funcionava há meses sem o pagamento, suspenso por lei municipal e decisão do Superior Tribunal de Justiça.

Ainda, houve o impasse para a realização do Réveillon. Paes havia cancelado a festa, após o comitê científico ter opinado sobre os riscos de transmissão de covid-19. Depois, após uma reunião do prefeito com o governador Cláudio Castro, a Secretaria Estadual de Saúde o liberou, desde que medidas de prevenção fossem tomadas. Paes ainda soltou “pérolas” na imprensa como “tomara que tenha muita gente” e “claro que vai ter aglomeração”.

Crivella, quando era prefeito, teve atitude diferente da de Paes. Ele proibiu o destino dos recursos, fruto do pagador de impostos, para a realização do carnaval. Na ocasião, o prefeito pontuou que a prefeitura deixaria de subsidiar eventos que cobrassem ingressos, como o carnaval, mas parece que o povo não se importou com isso. Agora, a escolha feita pelos cariocas tem lhe rendido dores de cabeça. Não é novidade que a saúde pública está precária. Faltam médicos, medicamentos e o descaso com a população é evidente. Além disso, a educação por lá está muito ruim. Dados da própria prefeitura apontam que ao menos 2.664 crianças estão fora das creches por falta de vagas.

É sabido que, assim como o povo colhe os frutos de suas escolhas, quando ele escolhe com consciência também vê os frutos de suas decisões nas urnas. Há prefeitos que têm proibido o uso de dinheiro dos impostos para promover o carnaval, como é o caso do prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga. Em uma rede social, ele destacou: “todo e qualquer evento que for feito na cidade tem que ser feito em parceria com a iniciativa privada. O dinheiro público tem que continuar sendo investido na saúde, para a construção do nosso hospital, na contratação de médicos, na educação, na manutenção das nossas escolas e para uma qualidade melhor do ensino”.

A atitude de Crivella, dentre outros homens comprometidos com o bem-estar do povo, nos faz lembrar da passagem bíblica: “Quando os justos se engrandecem, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme.” (Provérbios 29.2). Em outras palavras, quando homens da qualidade dos acima mencionados governam, o povo se alegra, mas quando homens como Paes, entre outros, dominam, o povo sofre muito. Enquanto Paes se preocupa em destinar verbas para escolas de samba, mais de 1,7 milhão de pessoas vivem na pobreza na cidade, segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas Social. Infelizmente, o povo elegeu “Barrabás” e, agora, tem feito escolhas levianas, mesmo que elas afetem em cheio a vida, sobretudo, dos que mais necessitam de apoio público. Resta ao povo aprender a fazer boas escolhas nas próximas eleições ou estará condenado a aceitar as decisões tomadas por “Barrabás”, sem ter a quem recorrer.

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Colaborador

Redação / Foto: Getty Images