Para refletir sobre o banimento de Donald Trump das redes sociais

Questão acende o debate acerca da liberdade de expressão, da transparência e da coerência sobre as diretrizes de moderação

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Após os protestos violentos e a invasão do Capitólio, sede do Congresso dos Estados Unidos, no dia 6 de janeiro último — quando aconteciam os trâmites para a certificação da eleição de Joe Biden –, o presidente norte-americano Donald Trump foi banido de redes sociais usadas mundialmente como o Twitter, o Instagram e o Facebook. Ele sofreu ainda restrições por parte de outras plataformas, por exemplo, com a remoção de vídeos no Youtube.

No geral, os argumentos para a punição foram a divulgação de afirmações falsas e a incitação à violência. Do Facebook e do Instagram, Trump foi banido “indefinidamente”, ou pelo menos até o dia da posse de Joe Biden, em 20 de janeiro próximo. Na noite dos protestos, ele já havia sido suspenso também pelo Twitter por um período de 12 horas, por “risco de mais incitação à violência”. Menos de dois dias depois, Trump foi banido permanentemente da plataforma.

Posicionamento e censura

O posicionamento das grandes empresas de tecnologia e de suas plataformas não pode refletir questões e preferências políticas sejam elas quais forem. Esse banimento coletivo de um representante político acende o debate acerca da liberdade de expressão, da transparência e da coerência sobre as diretrizes de moderação de uma rede social.

Ao mesmo tempo em que tais restrições contra Trump ganhavam divulgação, outras personalidades, em apoio, deixavam suas contas no Twitter, com milhões de seguidores, por decisão espontânea ou logo após também sofrerem um banimento de 12 horas. A exemplo dos apresentadores, radialistas e comentaristas conservadores Rush Limbaugh, Mark Levin e Dan Bongino. Levin chegou a afirmar que estava deixando a plataforma para sempre como um “protesto” contra o “fascismo do Twitter”.

Em contrapartida, por exemplo, a jornalista brasileira Miriam Leitão publicou na mesma rede social, a seguinte frase: “Trump de castigo no Twitter por 12 horas e se não voltar pianinho vai ser banido”. A jornalista, que viveu a censura durante a Ditadura no Brasil e se tornou uma profissional da comunicação, na sua postagem, ironizou ao apontar uma condição de cerceio ao governante. Como se estivesse corroborando as “medidas punitivas” que as plataformas estavam aplicando em suas páginas.

Tais decisões das redes sociais contra Trump beiram à censura — aquilo que restringe, por exemplo, a publicação e exibição, neste caso de posts e vídeos, com base em uma análise. Mas, análise feita por quem? Sob quais critérios? Notoriamente, qualquer acontecimento com uma autoridade política ganha dimensões e holofotes maiores. Entretanto, o que vale para determinar se uma postagem é apropriada ou não deve valer igualmente e seguir a mesma lógica para todos que se pronunciam em uma rede social.

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Colaborador

Redação / Foto: Agência Brasil - Isac Nóbrega/PR