Os evangélicos estão de olho neles

Inconformados com a derrota nas urnas, os insatisfeitos mostram desespero e preconceito com o prefeito Marcelo Crivella

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No dia 12 de julho, por 29 votos a 16, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro rejeitou a abertura de impeachment contra o prefeito Marcelo Crivella (PRB). Articulador da proposta, o deputado Marcelo Freixo (PSOL), derrotado por Crivella nas últimas eleições, não perdeu tempo. Saiu no dia seguinte em busca de assinaturas para viabilizar CPIs que fizessem exatamente o que a Câmara tinha acabado de decidir que não deveria ser feito: usar recursos públicos para investigar as “denúncias” levantadas por matéria maliciosa do jornal O Globo. (Se o clima de instabilidade prejudica o Rio, eles parecem não se importar).

O repórter da Globo acompanhou uma reunião “secreta” entre Crivella e cerca de 250 líderes evangélicos e deduziu que, pelo fato de o prefeito ser evangélico, haveria favorecimento. Como a matéria é parcial, a explicação dada pela Globo foi imposta como única leitura da situação. O público ficou sem saber, por exemplo, que não houve irregularidade. Crivella já fez mais de mil reuniões com representantes da sociedade, como ambulantes, professores, mototaxistas, líderes de escolas de samba, líderes comunitários, etc. Cada grupo traz reivindicações e as discute com o prefeito. E a Globo sabe disso.

A verdade é uma só: a permanência de Crivella enfraquece a Globo. O prefeito eleito não estava em seus planos. Na gestão anterior, enquanto o Rio se afundava em dívidas, os contratos da prefeitura com o Grupo Globo somavam R$ 150 milhões. Ao assumir, focado nas pessoas, sobretudo as mais necessitadas, como foi sua promessa de campanha, Crivella enxugou o desperdício, o que reduziu o dinheiro público repassado ao grupo. Lembre-se: a Globo só se preocupa consigo mesma e desgastar Crivella para enfraquecê-lo tem sido sua meta. Aliados a ela, veículos de comunicação oportunistas e políticos com interesses obscuros aproveitam e pegam carona.

Isso pode?

O grupo dos que acusam Crivella de improbidade administrativa é interessante. Autor do pedido de impeachment, o vereador Átila Alexandre Nunes (MDB) é investigado pelo MPE pelo crime de improbidade administrativa. Na lista também está César Maia (DEM), ex-prefeito do Rio, que em maio deste ano foi condenado pelo crime de improbidade administrativa. Maia, aliás, foi condenado por improbidade várias vezes, por motivos diversos. Uma delas, em 2012, foi por usar dinheiro da prefeitura para a construção de uma igreja católica. Mais curiosa foi a decisão do STJ que, em 2015, reverteu a sentença. O Tribunal decidiu que um prefeito construir igreja com dinheiro público não fere a laicidade do Estado.

O relator do processo, ministro Napoleão Nunes Maia, disse que não se pode confundir laicidade com antirreligiosidade. “A laicidade não impede o Estado de promover ações em favor da religiosidade de uma comunidade, mas sim a atitude de impor o seguimento de determinada crença”, explicou.

Não houve passeata dos defensores do Estado laico para lutar contra uma jurisprudência dessas. Nada. Silêncio absoluto dos adeptos da indignação seletiva. Já imaginou se Crivella tivesse usado dinheiro da prefeitura para construir uma igreja evangélica? Se por uma simples reunião já armam impeachment e CPI para removê-lo do cargo a força, caso construísse uma igreja com dinheiro público seria lançado aos leões na arena, como se fazia com os cristãos no Império Romano. Será mesmo que é em defesa do Estado laico que os justiceiros da indignação seletiva lutam? Ou o problema é ter um evangélico (que não faz parte do “esquema”) na prefeitura da segunda cidade mais importante do País e uma das maiores e principais do mundo?

Evangélicos sabem o que querem e não negociam seus valores e princípios. Formam uma frente coesa e se unem a outros eleitores que já perceberam qual é o lado daqueles que trabalham focados em seus próprios interesses — e fogem de quem estiver aliado a eles. No momento que mais se discute a importância do voto dos evangélicos, que já se aproximam dos 40% da população, o pior erro que um político pode cometer é se aliar a quem despreza esse segmento.

ELES VOTARAM A FAVOR DA ABERTURA DO IMPEACHMENT

  • Babá (PSOL)
  • Cesar Maia (DEM)
  • David Miranda (PSOL)
  • Fernando Willian (PDT)
  • Leandro Lyra (Novo)
  • L. Brizola Neto (PSOL)
  • Luciana Novaes (PT)
  • Paulo Pinheiro (PSOL)
  • Rafael A. Freitas (MDB)
  • Reimont (PT)
  • Renato Cinco (PSOL)
  • Rosa Fernandes (MDB)
  • Tarcísio Motta (PSOL)
  • Teresa Bergher (PSDB)
  • Ulisses Marins (PMN)
  • Zico (PTB)

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Colaborador

Por Vanessa Lampert / Foto: Futurapress e Folhapress