Morte de Paulo Gustavo reacende debate sobre o luto na pandemia

As restrições em velórios e funerais, o medo da doença e da morte intensificaram essa dor silenciosa que atinge milhares de famílias em todo o mundo

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Famosos, autoridades e fãs do ator e humorista Paulo Gustavo, de 42 anos, estão, desde ontem a noite, fazendo homenagens em suas redes sociais e lamentando sua morte precoce. Paulo estava internado por conta da covid-19 desde o dia 13 de março no Hospital Copa Star, em Copacabana, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Com o passar dos dias, o estado de saúde se agravou, levando-o, no último domingo, a uma embolia pulmonar severa.

O prefeito de Niterói, Axel Grael, decretou três dias de luto no município, porque o humorista nasceu e viveu grande parte de sua vida no local.

Até mesmo o presidente da República, Jair Bolsonaro, manifestou seus sentimentos. “Meus votos de pesar pelo passamento do ator e diretor Paulo Gustavo, que com seu talento e carisma conquistou o carinho de todo Brasil. Que Deus o receba com alegria e conforte o coração de seus familiares e amigos, bem como de todos aqueles vitimados nessa luta contra a COVID”, declarou em suas redes sociais.

Paulo foi mais uma vítima da covid-19, entre tantas outras pessoas. E ler mensagens sobre a sua partida me fez pensar sobre o luto.

A dor da perda

Sete em cada dez brasileiros conhecem alguém que morreu de covid-19. A sensação de que a morte pode estar próxima tem causado insegurança nas pessoas, principalmente porque esse é um tema evitado. Ninguém gosta de falar sobre a morte. Diversos estudos já mostraram isso.

“Mas, mais cedo ou mais tarde teremos que lidar com ela (a morte). Perdi meu pai no dia 24 de abril para a covid-19. Antes disso ele estava ótimo. Não esperávamos que fosse acontecer. Ele foi internado no dia 15 de março. De um dia para o outro precisou ser intubado e começou sua luta. Um dia estava melhor. Outro, pior. O luto é muito doloroso. É uma dor inexplicável. Não houve velório, foi muito estranho tudo isso”, destaca a funcionária pública, Viviane Domingues.

Se o luto sempre foi um processo difícil de ser superado, ele parece ter sido intensificado nesse período, onde o mundo parou por conta da pandemia e os protocolos para funerais se tornaram extremamente rígidos.

“Não pudemos sequer fazer um velório. Isso aumentou o nosso sofrimento (meu e da minha mãe). Foi difícil demais não poder velar seu corpo”, acrescenta Viviane.

Abraço amigo

É muito difícil saber o que falar para quem perdeu alguém, seja por conta da covid-19 ou outra doença, mas, mesmo assim, grupos têm intensificado ações que visam acalentar o coração daqueles que choram pela morte dos que amam.

Conheci um desses grupos, o Projeto Consolador, em que voluntários realizam visitas aos cemitérios com o objetivo de levar conforto nesse momento de profunda dor. É uma atitude bonita e necessária, porque não são poucos os que estão ali sozinhos, sem parentes, sem amigos, sem conseguir enxergar sentido para a vida.

O sopro da vida

A morte desperta tristeza. Não ter mais por perto aquela pessoa querida pode trazer uma sensação de vazio, impotência e insegurança. Alguns vivenciam sentimentos como o de arrependimento por não ter passado mais tempo com quem se foi, outros se sentem culpados por não terem feito isso ou aquilo.

Especialistas explicam que não se pode dar vazão a esses sentimentos. É importante respeitar o luto natural, ou seja, o processo de recuperação após uma perda significativa. Ele precisa ser vivido, mas a pessoa também precisa, aos poucos, superar a perda para seguir em frente.

Quanto mais negamos a existência da morte, mais difícil fica lidar com a ausência.

Mas, precisamos aprender a olhar para a vida e a morte como processos. A vida é um sopro, uma vela que hoje está brilhando, mas amanhã, com o soprar do vento, ela se apaga.

Nos preparamos para muitas coisas: para os estudos, para o emprego dos sonhos, para o casamento, para os filhos. E para essa fase difícil, quando perdemos alguém ou quando chega a nossa hora? De que forma nos preparamos?

Vale pensar sobre o assunto. Não podemos nos esquecer de que não temos controle sobre o que acontece ao nosso redor.

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Colaborador

Refletindo sobre a notícia por Ana Carolina Cury | Do R7 / Foto: Getty Images