Médicos expõem pacientes nas redes e geram indignação
O que estes casos mostram sobre a relação das pessoas com o mundo on-line?
Casos recentes em que profissionais da saúde expõem pacientes nas redes sociais geram indignação e discussão. Afinal, a exposição de pacientes em redes sociais, mesmo que não intencional, representa violação de privacidade e ética médica. Por que se expor tanto ao ponto de prejudicar sua própria vida e a de outras pessoas?
O que aconteceu:
– Recentemente, duas estudantes de medicina publicaram um vídeo numa rede social comentando e zombando do caso de uma paciente que já havia passado por três transplantes de coração e um de rim. As jovens riam dizendo que um dos transplantes não deu certo porque ela não teria tomado corretamente as medicações: ‘Essa menina está achando que tem sete vidas’. A família nega a afirmação e informou que Vitória Chaves da Silva lutou a vida toda contra uma cardiopatia congênita. Ela passou pelo primeiro transplante de coração aos 7 anos. Os outros transplantes também tinham relação com o problema. A Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar as estudantes por injúria.
– Em Anápolis, Goiás uma estudante de medicina filmou e postou nas redes sociais um exame ginecológico realizado em uma paciente em uma unidade pública de saúde. O vídeo expõe partes íntimas da paciente e gerou repercussão após a divulgação em janeiro deste ano. A universidade afirmou que adotou as medidas cabíveis, aplicando sanções disciplinares à estudante. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Anápolis notificou a instituição de ensino e destacou que a conduta da estudante é inadmissível.
– A postagem de outro médico não foi tão explícita, mas também mostrou negligência médica. Em Itapetininga, interior de São Paulo, Matteo, de um ano e seis meses, morreu por complicações de uma apendicite não diagnosticada a tempo. Mesmo com febre, vômito e sem conseguir comer, o menino foi liberado pelo médico que receitou remédios para gases. O quadro se agravou e não houve tempo para a cirurgia. Naquele dia, o médico publicou nas redes sociais uma foto durante o plantão com a frase: “Eu só vim pelos boletos fazer essas 24 horas.” O profissional foi afastado e a família o acusa de negligência médica.
O que isso mostra:
Há algumas décadas, a única forma de ver e se expor ao mundo era por meio da TV. E estar por trás das câmeras não era algo tão fácil. Mas com a popularização da internet e das redes sociais no início dos anos 2000 ficou cada vez mais fácil interagir com o mundo.
Claro que isso tem um lado positivo (como para estudo, trabalho, etc), mas a maioria das pessoas usa a exposição nas redes para suprir um vazio, a necessidade de atenção. A rede social se tornou um vício de alimentar o ego por meio de likes e visualizações.
“Isso explica a necessidade que algumas pessoas sentem de compartilhar, atualizar o status e visualizar todo o tempo suas postagens para ver o que os outros vão falar a seu respeito. Para isso, expõem o que estão sentindo, para onde estão indo, o que estão comendo, o que pensam. Porque vício instalado imputa o seguinte pensamento: se não me virem, não me aceitarão e não me amarão, logo, ‘eu não existo!’”, reflete a escritora Núbia Siqueira.
Pense:
“As redes sociais se tornaram um sucesso porque preencheram o vazio da carência, das frustrações e da solidão. Existem milhares de pessoas que têm 5 mil amigos virtuais e vivem em completa solidão. Desabafam suas angústias e tristezas em suas páginas e alcançam migalhas de comiseração, e junto, vêm um bando de curiosos afoitos em fofocas. Para finalizar, como você, eu também tenho minhas contas nas redes sociais. Gosto quando minhas postagens promovem o pensamento e inspiram algo bom nas pessoas. Vejo comentários carinhosos e as curtidas, mas não apoio meu valor sobre isso, e muito menos mudarei meus conceitos para ser popular”, acrescenta.
Por isso:
É necessário não se deixar levar por modas e não fazer da vida on-line uma forma de aprovação e aceitação. Do contrário, você pode se tornar alguém que faz escolhas erradas em nome de um exposição desnecessária, como nos casos acima.
Para Núbia, a boa consciência, a saúde mental e a saúde emocional são mais valiosas do que os resultados da exposição on-line sem limites. É preciso saber estipular regras para o uso das mídias não consumir sua vida e seu tempo no mundo real.
“Determinei que em alguns momentos o celular não é bem-vindo. Outra regra minha é deixar as notificações de redes sociais desativadas. Com isso, não sou instigada a abri-las em momentos inadequados. Que tal você também estabelecer os seus limites para se preservar?”, sugere.