Incompreensível

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Sabe o que é incompreensível? O Brasil votar contra a libertação dos reféns do grupo Hamas que estão em Gaza desde os ataques terroristas do dia 7 de outubro de 2023. Antes, vamos recordar alguns detalhes dessa história. Durante a manhã do dia 7 de outubro, o Hamas (Harakat Al-Muqawama Al-Islamiyya) coordenou um ataque terrorista orquestrado e sangrento em postos militares, kibutzim e um festival de música no sul de Israel, assassinou quase 1.500 pessoas, feriu mais de 3 mil e levou 270 civis e soldados à Faixa de Gaza como reféns. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou uma contraofensiva ao grupo terrorista como resposta e com o objetivo de resgatar os reféns. Desde então, uma guerra começou naquela região. Na data dos ataques, o Brasil presidia o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), órgão que tem a função de mediar e resolver conflitos, zelar pela possível paz e segurança e, apesar de uma reunião de emergência ter sido convocada, as intermediações em prol de uma solução não obtiveram êxito.

No dia 24 de novembro, o Hamas aceitou liberar 24 reféns (13 israelenses, 10 tailandeses e um filipino) em troca de 39 palestinos que estavam presos em Israel desde o início do conflito. Meses depois, em 19 de fevereiro de 2024, o presidente do Brasil, Lula da Silva (PT), foi declarado “persona non grata” por Israel depois que o chefe de Estado brasileiro comparou as lamentáveis mortes em Gaza por conta do conflito com o Holocausto – o genocídio cometido durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em que seis milhões de judeus foram mortos.

Em 28 de maio, a Argélia apresentou uma denúncia sobre a situação do sistema de saúde em Gaza, por conta da contraofensiva de Israel, na Organização Mundial de Saúde (OMS), com o apoio de países árabes, China, Colômbia, Cuba, Irã, Nicarágua, Rússia e Venezuela. Dois dias depois, a delegação de Israel solicitou a inclusão do seguinte adendo à resolução: “apela à libertação imediata e incondicional de todos os reféns detidos em Gaza, incluindo crianças, mulheres e idosos, e condena o uso, por parte dos grupos armados, de instalações de saúde, incluindo hospitais e ambulâncias, que coloca em perigo a população civil” (tradução livre do documento A77/B/ CONF./3 da OMS). Essa adição ao texto original recebeu 50 votos favoráveis e 44 votos contrários. Entre os que votaram “não” para o apelo da libertação dos 125 reféns em Gaza estava o Brasil.

É importante mencionar que o documento apresentado pela Argélia foi retirado de votação pelos países que apresentaram a resolução. Mas a questão ainda ecoa: por que votar contra o pedido de um país que solicita a libertação do seu povo que tem sido mantido refém há mais de oito meses? Por que votar contra a libertação de crianças, idosos, jovens, mulheres e homens? Por que votar contra o direito dessas pessoas de retornarem para suas famílias, suas casas, suas vidas ou, pelo menos, serem sepultadas por seus entes queridos? Sabia que dentre os reféns, inclusive, havia um brasileiro natural de Niterói (RJ)? Michel Nisembaum é seu nome. O niteroiense de 59 anos vivia há 45 anos em Israel e ficou refém por meses, até que no dia 24 de maio as Forças de Defesa de Israel confirmaram que haviam conseguido resgatar o seu corpo em Gaza. Sim, ele foi assassinado.

O embaixador de Irael na ONU, Meirav Eilon Shahar, ainda fez um apelo para que todos os países e a OMS condenassem os ataques terroristas do Hamas: “qualquer decisão que não exija a libertação imediata dos reféns e condene a exploração das instalações de saúde pelo Hamas equivale a um fracasso moral da organização. Agradeço aos 50 países que optaram por não ignorar o destino dos 125 reféns deixados nas mãos da organização terrorista Hamas em Gaza”.

Por fim, cada vida perdida nesse conflito deve ser lamentada. Cada pessoa em cárcere merece reaver sua dignidade. Cada um, sem exceção, merece ser livre, como está previsto no Art. 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”. E o Brasil deveria apoiar isso de maneira irrestrita! Deveríamos ser uma ponte para garantir que todo e qualquer ser humano possa desfrutar de sua liberdade e não um muro que impede que isso possa se concretizar.

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Colaborador

Foto: Aluxum/GettyImages