Golpes com voz clonada por IA aumentam no Brasil
Saiba lidar com as artimanhas tecnológicas que os criminosos estão usando
Se você receber ligações de números desconhecidos nas quais ninguém fala nada (chamadas mudas), cuidado: é a nova tentativa de golpe da praça. Criminosos usam a inteligência artificial (IA) para clonar vozes e depois pedir dinheiro, senhas ou dados pessoais a familiares e conhecidos. O golpe se tornou tão comum que as Secretarias de Segurança do Rio de Janeiro e de São Paulo emitiram alertas recentes quanto ao chamado “golpe do roubo da voz”.
Acesso facilitado
Segundo Elaine Coimbra, palestrante, professora e vice-presidente de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria), esses golpes ganharam força no País em 2023: “Eles se intensificaram em 2024 e 2025 com o acesso facilitado à inteligência artificial generativa. A IA simplificou um processo que antes exigia softwares caros e conhecimento técnico. Hoje, os criminosos usam ferramentas gratuitas para reproduzir timbre, emoção e entonação com alta precisão”.
Fontes fáceis
Ela diz que com apenas três segundos de voz, um modelo avançado já consegue reproduzir o timbre e o ritmo de fala com cerca de 85% de semelhança. “Quanto mais tempo de áudio, melhor o resultado e essa precisão é o que torna o golpe tão convincente: até familiares próximos têm dificuldade de perceber a diferença. Os criminosos capturam um trecho de voz da vítima de redes sociais, vídeos no Instagram, áudios de WhatsApp, stories e até mensagens de voz enviadas em grupos são fontes fáceis”.
Exposição excessiva
Os criminosos também usam bases de dados ilegais com gravações vazadas. “Os golpistas possuem informações pessoais privilegiadas, a maior parte delas vem de fontes públicas, ligações não identificadas ou vazamentos. Eles coletam dados de redes sociais, cadastros expostos e de listas de contatos vendidas ilegalmente. Muitas vezes, eles cruzam informações com nomes de familiares e locais de trabalho e criam um cenário convincente. Ou seja, os dados vêm de nós mesmos e do excesso de exposição on-line”, esclarece.
Ligações de emergência
Ela afirma que, às vezes, o golpista nem conhece a pessoa, apenas encontra um áudio público e usa a IA para clonar a voz dela. “Ligações desconhecidas, que esperam a pessoa falar algo, também podem ser usadas como matéria-prima para criar um clone digital. Depois, eles fazem uma ligação de emergência, geralmente com pedidos de dinheiro ou ajuda imediata, na qual exploram o emocional da vítima (medo, urgência ou culpa) e simulam acidentes, sequestros ou emergências financeiras. Eles usam frases como ‘preciso agora’, ‘não conta para ninguém’, ‘é urgente’”, comenta.
Gatilho
Por isso, Elaine recomenda desconfiar de pedidos urgentes. “A emoção é usada como gatilho para que a vítima aja sem pensar. Os golpistas sabem que, sob pressão, as pessoas agem por instinto e não com a razão. Quando alguém disser ‘é agora’, respire e faça uma confirmação primeiro, pois os criminosos conseguem falsificar números e nomes e podem aparecer como ‘Banco do Brasil’ ou ‘Mãe’ na tela do celular. Sempre confirme no aplicativo oficial, no site da empresa ou use contatos salvos de confiança”, cita.
Palavra-chave
Elaine ainda sugere desconfiar de números estranhos e desligar imediatamente ao receber chamadas mudas. “Ao desligar logo, você impede que o criminoso capture mais segundos da sua voz. Evite postar áudios e vídeos com sua voz em público. Desconfie de pedidos de dinheiro, mesmo que venham de pessoas próximas. Crie palavras-chave familiares secretas. Se a pessoa não responder com a palavra-chave, desligue o telefone e tente entrar em contato com ela por outros canais. Ative a autenticação em dois fatores em todos os aplicativos. E, acima de tudo, confirme qualquer pedido por outro canal antes de agir”, aconselha.
Denúncias
Ela também fala da importância da denúncia: “Ela é essencial para mapear e enfraquecer as quadrilhas. Você pode registrar boletim de ocorrência na delegacia eletrônica do seu Estado; reportar o número ou conta nas plataformas (WhatsApp, Instagram, etc.); e, se houver perda financeira, acionar o Procon ou o banco. Quanto mais denúncias, mais rápido os sistemas conseguem rastrear padrões e bloquear perfis”.
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