Cuidado em excesso ou relacionamento abusivo?

Com a desculpa de ‘proteger’, muitos homens controlam suas companheiras, ameaçam, insultam e chegam até a matá-las

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Em julho, a morte da advogada paranaense Tatiane Spitzner chocou o Brasil e acendeu o alerta para os casos de violência contra a mulher. Antes de morrer, a jovem de 29 anos apanhou do marido no elevador e na garagem do edifício onde eles moravam, segundo imagens de câmeras de segurança. Tatiane recebeu chutes e tentou fugir do agressor, mas foi levada à força ao apartamento deles. As câmeras gravaram o momento em que ela caiu do quarto andar do prédio. Depois, o marido pegou o corpo de Tatiane e o levou ao apartamento, limpou o sangue do elevador, trocou de roupa e fugiu com o carro da vítima.
A perícia constatou que Tatiane sofreu esganadura. Em 6 de agosto, o Ministério Público do Paraná denunciou o marido dela, Luís Felipe Manvailer, de 32 anos, pelos crimes de cárcere privado, fraude processual e homicídio qualificado por meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima, motivo torpe e feminicídio. Segundo o Paraná Portal, amigos disseram que Tatiane vivia um relacionamento abusivo e queria se divorciar.
O que é?
A violência física não é a única forma de agressão contra a mulher. Em um relacionamento abusivo, os maus-tratos começam de forma sutil. Os abusadores usam a desculpa de “proteger” e “cuidar” da companheira para controlar a vida dela. Um homem abusador é ciumento e faz chantagem emocional, exige “provas de amor”, ameaça, xinga, grita, controla as roupas da companheira e até as relações dela com familiares. Ele ainda impede o acesso ao dinheiro, esconde objetos e força a prática de relações sexuais. Aos poucos, a mulher fica cada vez mais isolada e sem autoestima.
“A violência contra a mulher ainda é culturalmente aceita, por isso é difícil identificá-la. Ciúme, por exemplo, não é amor, é controle. A violência contra a mulher começa de maneira silenciosa e vagarosa, de forma que a mulher se torne dependente. Uma violência vai sucedendo a outra até que a violência física acontece”, alerta a juíza Teresa Cristina Cabral Santana, da 2ª Vara Criminal de Santo André e integrante da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (Comesp).
Por isso, é fundamental pedir ajuda. “É importante não desistir de buscar apoio. Sempre haverá alguém para acolher você, como um familiar, uma amiga ou uma delegacia especializada”, sugere. Ela destaca que pessoas que presenciam a violência devem denunciar.
Sofrimento
A psicóloga Miriam Pontes de Farias diz que o sofrimento é um sinal de que algo não vai bem. “Nossas emoções são sensores que indicam se algo está errado. A relação pode ser abusiva se você se sente mal constantemente, fica triste, magoada, remoendo e tem medo de impor limites para o outro”, explica.
Segundo a especialista, o relacionamento abusivo pode trazer várias consequências. “A relação abusiva destrói a autoestima e o psiquismo. Ela tem um componente emocional, por isso é importante buscar ajuda psicológica para identificar o problema e aprender a dizer não”, orienta.
A psicóloga Paula Renata D’Élia também indica que a mulher precisa colocar limites. “Se a mulher entrar na jogada e não barrar o comportamento controlador, ela vai incentivar que isso se reproduza e evolua”, diz. Entretanto, ela pondera que mulheres que vivem relacionamentos abusivos podem ter dificuldade para sair da situação. “Essas mulheres sentem culpa, vergonha, algumas acham que merecem isso ou agiram errado. Por isso, é importante ter o apoio de outras pessoas”, finaliza. Embora as mulheres sejam as principais vítimas, homens também passam pelo problema e também precisam procurar ajuda.
Peça ajuda
Mulheres que estão sofrendo algum tipo de violência podem buscar apoio e orientação gratuita no telefone 180, que atende 24 horas por dia. As especialistas também indicam pedir ajuda a alguém de confiança e buscar delegacias de polícia especializadas e Centros de Referênciada Mulher. Outra opção é procurar ajuda no Grupo Raabe, projeto da Universal que oferece assistência a mulheres que sofrem por conta de algum tipo de trauma. Mais informações no site ou no Whats-App (11) 95349-0505.

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Colaborador

Rê Campbell / Foto: Fotolia / Arte: Edi Edson