Conheça os vírus que foram intensificados pela pandemia

Enquanto muitos olham apenas para a Covid-19, outros problemas aumentam na sociedade

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Outro dia estava indo para o trabalho e, parada no trânsito, fiquei observando as pessoas ao redor. Muitas dirigindo com máscaras, outras sem. As que andavam pela calçada pareciam apreensivas, querendo chegar logo aos seus destinos.

Ao som do rádio, comecei a pensar: quase não tenho visto mais amigos e familiares e, quando eventualmente encontro alguém, não há abraços como antes, aliás, abraços e beijos podem ser vistos como socos e pontapés nos dias atuais.

Isso me fez concluir que as consequências negativas da pandemia têm ido muito além da saúde e da economia. Se posso chamar assim, “novos vírus” surgiram: da frieza, da solidão, da violência. E eles têm afetado os mais diversos tipos de relacionamentos, desde os papos superficiais de elevador até as relações mais íntimas.

Nesse segundo cenário, muitos casais têm enfrentado problemas, brigas, chegando até mesmo a pensar em divórcio. Já para outros, a convivência com os filhos foi o que se tornou insuportável.

Os números comprovam

De acordo com o jornal The Global Times, em Xi’am, na China, houve um recorde de pedidos de divórcio desde o início da pandemia. O tabloide New York Post também divulgou que advogados especialistas em separação constataram um aumento de 50% por consultas no período de isolamento social nos Estados Unidos.

Aqui no Brasil, segundo o Colégio Notarial do Brasil (CNB/CF), os divórcios consensuais cresceram 54% entre maio e julho deste ano. Mais assustador que isso foi a revelação do Google Brasil sobre o aumento vertiginoso de 1150% na busca pelo termo divórcio online gratuito nesse mesmo período.

Não foram poucos os famosos que se divorciaram em meio à pandemia e tudo isso me fez questionar: o fato de os familiares ficarem mais tempo juntos deveria fortalecer os laços entre eles e não os romper, não?

Infelizmente, essa união só ocorre em lares onde a harmonia já existia antes da crise, ou seja, quem estava fugindo dos problemas, os evitando ou “escondendo a sujeira debaixo do tapete” se deparou com um lixo quase impossível de ser tirado. E assim, muitos cônjuges que se evitavam por centenas de motivos, foram obrigados a conviver; tantos outros pais que “terceirizavam” a educação dos pequenos precisaram encarar a paternidade de frente.

Dificuldades nos relacionamentos em geral

Ouvi desabafos de muitos pais sobre as dificuldades de conciliar o trabalho em casa com as múltiplas tarefas do dia. Crianças e adolescentes relataram que ficaram mais estressados, entediados porque não podem encontrar os amigos e porque enfrentam dificuldades para acompanhar as aulas virtuais. Tudo isso, claro, gera um conflito familiar difícil de lidar.

Mas, ainda dá para piorar. Uma das outras consequências do isolamento social foi o aumento da violência contra idosos, mulheres e crianças. Quando o famoso “fique em casa” trouxe mais medo do que segurança.

Os casos de ansiedade, depressão, estresse, suicídios também dispararam em todo mundo. Nos últimos dias, inclusive, saiu uma notícia muito triste que retrata essa realidade.

O Japão registrou somente no mês de outubro, segundo dados da Agência Nacional de Polícia, mais mortes por suicídio do que por Covid-19 em todo ano.

Qual é a verdadeira vacina?

O trânsito voltou a andar e me dei conta que, para curar todos esses problemas: conjugais, entre pais e filhos, transtornos emocionais, medo, violência, não há esperança de vacinas.

Por isso, cabe a cada um de nós refletir sobre como essa pandemia tem impactado positiva ou negativamente nossas vidas. Porque ela vai passar, mas nós quem iremos decidir os rastros emocionais que ela deixará.

Este pode até ser um tempo de dor, mas também pode ser uma oportunidade para ressignificar a vida, valores e prioridades. Uma chance para “limpar aquela sujeira debaixo do tapete” que tanto deixamos para depois. Pense nisto.

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Colaborador

Do R7 por Ana Carolina Cury / Foto: Getty Images