Como o seu filho está lidando com a pandemia?

Saiba como amenizar as consequências negativas das mudanças na rotina de crianças e adolescentes provocadas pela chegada do novo coronavírus

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Qual é o impacto da pandemia para a saúde mental e o bem-estar das crianças? A falta de convívio com os amigos, o distanciamento de familiares, a interrupção das aulas presenciais e as restrições de espaço podem causar nelas dificuldades psicológicas e comportamentais.

Na China, um estudo feito em fevereiro de 2020 na província de Shaanxi mostrou que o distanciamento social durante a pandemia levou 36% das crianças e adolescentes a desenvolverem uma dependência excessiva dos pais, enquanto 32% apresentaram desatenção e 29% preocupação. Além disso, 21% dos pesquisados tiveram problemas de sono, 18% apresentaram falta de apetite, 14% tiveram pesadelos e 13% relataram desconforto e agitação. A pesquisa foi feita com 320 crianças e adolescentes de 3 a 18 anos e foi publicada em abril no periódico The Journal of Pediatrics.

Emoções
A psicopedagoga Renata Lima explica que as mudanças trazidas pela pandemia podem levar a transtornos, caso os filhos não recebam o apoio adequado dos pais. “As transformações da rotina foram tão drásticas que podem gerar ansiedade, agressividade e irritabilidade, pois a criança não sabe lidar com isso. Ela não tem a chamada ‘flexibilidade cognitiva’ para ver as coisas sob outro ângulo e se reinventar.

Por isso, os pais precisam conduzi-la nesse processo”, diz ela, que atua na orientação de pais e na formação de professores.

Ela afirma que os pais podem ajudar a criança a nomear as próprias emoções: “quando a criança aprende a reconhecer, a nomear e a lidar com as emoções, ela cria repertório para encarar situações difíceis até adquirir autonomia para resolvêlas sozinha. O ideal é fazer esse treino desde os 2, 3 anos de idade. Se a criança não aprender isso, ela não vai saber lidar com as frustrações quando crescer”.

Renata Lima desaconselha os extremos e relata que não adianta dar tudo o que a criança quer, tampouco deixá-la chorar descontroladamente. “Os pais precisam substituir um comportamento de birra ou choro com diálogo, explicando a situação. Não adianta só ignorar a criança, pois com isso ela aprenderá que não pode contar com aquele adulto”, esclarece.

A pediatra Paula Sellan lembra que o distanciamento social acabou dificultando atividades fundamentais para o desenvolvimento da criança. “A rotina das crianças foi impactada e elas não estão gastando a mesma energia de quando iam à escola ou ao parque. Algumas crianças não estão dormindo bem e acabam ficando mais ansiosas.”

Ela orienta os responsáveis a manterem uma rotina e usarem o tempo em casa para compartilhar experiências com os filhos. “Ainda que os pais estejam atarefados e trabalhando em casa, é importante aproveitar essa oportunidade para ficar com os filhos e construir boas memórias. A criança vai lembrar dessa pandemia como um momento em que ficou mais tempo com os pais e essa lembrança boa pode minimizar os impactos negativos do que estamos vivendo”, diz.

A psicóloga Jaqueline Oliveira Moreira recomenda que os pais prestem muita atenção às mudanças de comportamento de crianças e adolescentes, pois isso é um sinal de que algo não está bem. “Muitas crianças estão se sentindo sozinhas, ansiosas e isso pode levar à depressão. Outras estão descontando as preocupações ingerindo mais guloseimas. Os adolescentes podem se isolar ainda mais e até se automutilar. Os pais precisam dialogar e fazer atividades com os filhos”, diz, acrescentando que em alguns casos é importante buscar ajuda especializada.

Ela destaca ainda que os responsáveis precisam ter cuidado para não descontar seus sentimentos e suas frustrações nos filhos. “Muitos adultos estão vivendo uma pressão psicológica muito grande, estão preocupados com a renda e o futuro, e acabam descontando a ansiedade nos filhos. Isso muitas vezes se torna agressão física e psicológica”, lamenta. Se a criança apresenta raiva ou irritabilidade, ela sugere atividades com papéis. “Amassar papéis, apertar bolas e rabiscar podem ajudar a eliminar emoções negativas”, ensina.

Espírito
A psicóloga e responsável pelo Projeto Escola de Mães, Edineia Dutra, alerta que pais e responsáveis também precisam se cuidar. “Em tempos difíceis é necessário fortalecer o espírito para suportar momentos de angústia como este. Você pode fazer isso de maneira lúdica com as crianças. Conte a elas histórias ou ações bíblicas e elas precisam dizer quem é o personagem daquela ação”, sugere.

Ela lembra que o excesso de notícias pode ser prejudicial, pois pode aumentar a angústia. “Procure ler e ouvir mensagens edificantes que elevarão sua Fé e confiança de que ‘todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus’ (Romanos 8.28). Isso também ajudará seus filhos, já que eles costumam sentir pelo que sentimos e absorvem as nossas emoções”, finaliza.

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Colaborador

Rê Campbell / Foto: Getty Images