Como está sua relação com o celular?

O aparelho está cada vez mais presente no dia a dia. Apesar da inegável utilidade, ele também é altamente viciante e rouba o tempo para outras atividades off-line, o que exige certos cuidados

Chamar um celular de telefone perde cada vez mais o sentido, pois ele é cada vez menos utilizado para seu fim primário, que é fazer ligações telefônicas. As pessoas até se comunicam com o aparelho, mas isso é feito por meio de mensagens de áudio, vídeos e aplicativos. Além disso, elas o usam para realizar procedimentos bancários, pagar compras no comércio e on-line, consultas médicas e mais um sem-número de atividades antes restritas ao mundo físico. O problema reside exatamente nesse último ponto: o quanto a vida real está ficando para trás para ser “vivida” por meio de uma tela.

A pandemia mundial do novo coronavírus exacerbou ainda mais essa relação por via eletrônica, que continuou a exercer um apelo quase irresistível mesmo na atual fase. No Brasil, por exemplo, 56% das pessoas não ficam longe do smartphone por mais de uma hora, segundo a pesquisa Hábitos Mobile 2022, da Hibou. Apesar da inegável utilidade do aparelho para a vida pessoal, profissional e estudantil, a dependência dele chama a atenção.

Profissionais de saúde mental atestam com firmeza que o uso excessivo do celular, bem como de seus “primos de tela”, os tablets e computadores, pode causar impactos na saúde física e mental. “E nesse cenário de uma população hiperconectada um novo termo vem ficando evidente na psicologia: a nomofobia”, diz Sara Silva, professora de psicologia do Centro Universitário Braz Cubas, de Mogi das Cruzes (SP). Ela explica que a palavra é uma abreviação do vocábulo inglês no-mobile phobia, que, em tradução livre, significa medo de estar sem o dispositivo portátil. Quando estão sem ele, ela diz que “as pessoas passam a sentir ansiedade, desconforto, nervosismo, angústia, pânico, além de sintomas físicos como aperto no peito, taquicardia e suor frio”.

Sara conta que, apesar de ainda não existir uma definição clara das causas e dos efeitos da nomofobia, ela está sendo relacionada a fatores como baixa autoestima, ansiedade e impulsividade. Segundo ela, ‘’a patologia é percebida quando a pessoa afasta ou está sem o objeto e apresenta sintomas semelhantes aos da síndrome de dependência de substâncias. Os sintomas de dependência patológica são identificados quando há nervosismo, agitação, ansiedade, taquicardia, angústia, sudorese e um medo que afeta a saúde e o dia a dia da pessoa”.

EXTENSÃO DO CORPO
Em um mundo com pessoas cada vez menos próximas, o celular acaba funcionando como uma extensão de seus corpos e mentes. Enquanto isso, atividades fora das telas perdem espaço, como o cuidado com os filhos e as reuniões com amigos.

Apesar da clara utilidade do smartphone no dia a dia, é necessário usá-lo de forma equilibrada para preservar a saúde. “Não podemos lidar com a tecnologia como uma extensão nossa e, por isso, o uso consciente e responsável é necessário, principalmente nesse tempo de pós-pandemia”, conclui Sara.

SINAIS DE ALERTA

Alguns sinais de alerta de que a nomofobia já faz parte da vida de alguém são, segundo a psicóloga Sara Silva:

Ter sempre um dispositivo para recarregar a bateria;

Fazer o monitoramento constante do aparelho para verificar notificações;

Manter o celular sempre ligado, inclusive em momentos não oportunos, como na hora de dormir;

Sentir ansiedade, angústia e nervosismo se o celular fica inutilizável por qualquer razão;

Ter medo de ficar sem conexão;

Priorizar o celular como o primeiro e o último aparelho a ser acessado no dia;

Deixar de ir a lugares em que não se pode estar conectado.

COMO DIMINUIR A DEPENDÊNCIA

Para auxiliar as pessoas dependentes do celular, Sara Silva elencou algumas dicas para reduzir o uso do aparelho e seus impactos na rotina:

Limitar o uso do celular, principalmente antes de dormir e ao acordar, buscando, assim, um sono de qualidade;

Não usar o celular nos horários das refeições para manter uma alimentação consciente;

Definir estratégias para restabelecer o contato com o mundo presencial, assim como restaurar interações interpessoais e limitar o uso de tecnologias nesses momentos;

Quando necessário, buscar ajuda especializada de psicólogo e psiquiatra.

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Colaborador

Redação / Fotos: Getty images