Atleta trans em competição feminina e novo estudo: o que está em jogo?

Relatório aponta que diferenças físicas e biológicas entre homens e mulheres acabam proporcionando vantagens a transgêneros no esporte

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Mulheres e homens normalmente são separados nas competições esportivas. A justificativa dos especialistas é que seria injusto misturar os gêneros para competir, uma vez que a ciência diz que os homens possuem maior massa muscular e, por isso, têm vantagens em algumas modalidades, sobretudo nas que exigem mais força. Já as mulheres também teriam vantagens nas categorias que demandam flexibilidade muscular.

Nos últimos anos, porém, essa divisão está sendo posta em xeque por movimentos que lutam pela inserção de atletas transgênero no esporte feminino. Transgêneros ou transexuais são todos os indivíduos que não se identificam com o sexo biológico, ou seja, neste caso são homens biologicamente, mas se identificam como mulheres.

Recentemente, em Miami (EUA), Alana McLaughlin, de 38 anos, uma mulher transgênero, venceu a luta de estreia no MMA profissional contra Celine Provost. A vitória causou muita polêmica porque, antes de fazer a transição de gênero, McLaughlin chegou a ser militar das Forças Armadas dos EUA.

“Alana McLaughlin fez a transição há cinco anos, o que significa que ela viveu 33 anos de sua vida como homem. Nesta noite McLaughlin lutou e derrotou uma mulher biológica… Que surpresa!”, opinou o comentarista esportivo Angel David Castro.

Alana McLaughlin classificou o comentário de transfóbico.

O que a ciência diz

Um estudo realizado durante um ano e meio por entidades governamentais da Grã-Bretanha coletou dados de 175 organizações relacionadas ao tema e chegou à conclusão de que mulheres trans têm vantagens em competições esportivas devido às diferenças fisiológicas e hormonais.

“Evidências a longo prazo indicam que homens possuem inúmeras vantagens físicas em esportes se comparados às mulheres. Isso é reconhecido em lei. A pesquisa atual indica que a supressão de testosterona não descarta a vantagem física sobre mulheres e não pode garantir uma competição justa e/ou segura”, assegurou o levantamento.

O relatório sugeriu ainda que para solucionar essa polêmica seria necessário “criar uma categoria universal nos esportes para atletas que não se identificam com o gênero biológico”.

A conclusão da pesquisa vai ao encontro do pensamento do deputado estadual por São Paulo Altair Morais. “Esses estudos reforçam aquilo que já sabemos, mas é fundamental que eles existam porque corroboram o que é dito pela ciência, biologia e fisiologia. As competições esportivas equilibradas exigem classificação por faixa etária e peso dos atletas. O sexo masculino e feminino é um fator determinante para que as partidas sejam igualitárias. Não podemos discutir essas questões em nível ideológico, como têm pretendido grupos minoritários”, afirma.

Igualdade

Altair é autor do projeto de lei 346/2019, que propõe que o sexo biológico seja o único critério definidor do sexo do competidor para fins de escalação em equipes femininas ou masculinas. “Estamos falando de esporte de alto rendimento, em que se ganha uma competição por milésimos de segundo; portanto, respeitar as características fisiológicas de cada sexo é assegurar idoneidade às competições esportivas. O nosso projeto trata de uma questão de justiça nas competições esportivas. Não se trata de homofobia ou transfobia nem de questões religiosas ou de cunho pessoal. Muito menos de exclusão de transexuais nos esportes”, acrescenta.

Adepto das práticas esportivas desde os 11 anos de idade, ele afirma que essa é uma discussão sobre igualdade. “Sou faixa preta em caratê, fui campeão dez vezes do campeonato Norte/Nordeste e cheguei à seleção brasileira. A vivência de quase 40 anos no esporte me deu fundamento para entender as necessidades históricas e emergentes dos atletas em nosso país. Assim, a injustiça praticada contra os direitos das mulheres de participar das competições esportivas foi a principal motivação para apresentar essa proposta.”

O projeto já recebeu parecer favorável das Comissões de Constituição, Justiça e Redação, de Finanças, Orçamento e Planejamento, de Assuntos Desportivos e de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, da Cidadania, da Participação e das Questões Sociais. A próxima etapa é a votação em plenário. Sendo aprovado, seguirá para a sanção do governador.

Para Altair, a melhor solução para que os trânsgeneros participem de forma justa das competições é criar o que chamou de “liga trans”. “Não estamos proibindo ninguém de competir. Apenas vamos lutar para que as competições sejam justas e para que o direito das mulheres esportistas, que demoraram anos para conquistar seu espaço, seja respeitado”, conclui.

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Colaborador

REFLETINDO SOBRE A NOTÍCIA POR ANA CAROLINA CURY | Do R7 / Foto: reprodução instagram (@combateglobal)